Quando o assunto é a preservação do meio ambiente e das espécies de vida livre, é comum que os profissionais atribuam aos campos da pesquisa e da clínica de animais silvestres a grande contribuição para o sucesso nessa empreitada.
No entanto, a preservação de fauna e flora começa nas entrelinhas da rotina de trabalho de todos os campos da Medicina Veterinária e da Zootecnia, com práticas cuidadosamente adotadas a fim de reduzir os impactos ambientais provocados pela geração de resíduos.
De acordo com a Dra. Cristina Maria Pereira Fotin, integrante da Comissão Técnica de Médicos-Veterinários de Animais Selvagens (CTMVAS) do CRMV-SP, ainda há poucas pesquisas sobre o real impacto dos resíduos na vida silvestre. Mas o que tem sido constatado é preocupante. “Estudos feitos recentemente na Amazônia, por exemplo, identificaram que 80% das várias espécies de peixes do Rio Xingu tinham microplástico em seus corpos.”
O uso e descarte indiscriminados de substâncias químicas, o que inclui os fármacos, agravam o cenário geral – chegando à natureza seja via lençóis freáticos, seja por destinação incorreta de resíduos que podem ser acessados por espécies silvestres de áreas verdes próximas a regiões urbanas, seja pela poluição do ar.
O risco está em toda parte
O presidente da CTMVAS do CRMV-SP, Dr. Marcello Schiavo Nardi comenta que são inúmeros os problemas enfrentados pelos animais. “Um caso emblemático foi o do DDT, pesticida que provocou problema nas cascas dos ovos das águias nos Estados Unidos, devido ao efeito cumulativo de os animais comerem presas contaminadas pela substância”, afirma.
Nardi lembra ainda de registros de problemas hormonais em anfíbios por causa do descarte de hormônios sintéticos. E ainda dos agrotóxicos que estão matando as abelhas e que, segundo estudos, podem estar provocando problemas reprodutivos em tartarugas da Amazônia.
Impacto em cadeia
Pesquisas recentes apontam que a poluição tem causado doenças oncológicas em animais de vida livre, assim como tem sido observado entre humanos.
A proximidade das áreas urbanas, rurais e verdes configura um contexto em que basta um pequeno erro nos processos envolvendo animais domésticos e de produção para desencadear contaminações. O impacto ocorre em cadeia, a partir das aves e pequenos animais – como gambás, macacos e raposas – que carreiam resíduos para lugares mais distantes.