Zoonoses correspondem a mais de 60% das doenças humanas

Três a cada cinco novas doenças humanas que aparecem por ano são de origem animal
Crédito: Pixabay

Inserida no conceito de Saúde Única, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a interdependência das saúdes humana, animal e ambiental, a preocupação quando às zoonoses – doenças infecciosas transmitidas dos animais para os seres humanos – sempre foi pauta pública mundial, mas ganhou destaque com a pandemia provocada pelo Covid-19. É inegável a necessidade de se fomentar a interação e colaboração entre médicos-veterinários, médicos e demais profissionais de saúde e meio ambiente.

Os patógenos zoonóticos podem ser bacterianos, virais ou parasitários; ou podem envolver agentes não convencionais e infectar o homem por meio de contato direto ou através de alimentos, água ou meio ambiente

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem mais de 200 tipos de zoonoses. Mais de 60% das doenças infecciosas humanas têm sua origem em animais. Por todo o mundo, as zoonoses respondem por 62% da Lista de Doenças de Notificação Compulsória, 60% dos patógenos reconhecidos (vírus, bactérias, protozoários, parasitas e fungos) e 75% das doenças emergentes.

Mais de 60% das doenças infecciosas humanas são zoonoses

(OIE)

Algumas delas, como o HIV, começam como zoonoses, mas depois se transformam em cepas exclusivamente humanas. Outras, como o novo coronavírus, que causa a Covid-19, têm potencial para provocar pandemias globais.

As zoonoses podem ainda causar interrupções na produção e no comércio de produtos de origem animal para alimentação e outros usos. E, segundo diversos estudos, a urbanização e a destruição de habitats naturais tendem a aumentar o risco do surgimento de doenças zoonóticas.

Prevenir é melhor que remediar! Nas últimas duas décadas, as doenças zoonóticas causaram perdas econômicas no valor de mais 100 bilhões de dólares, sem contar a pandemia de Covid-19, que poderá custar 9 trilhões de dólares nos próximos anos. Pelo mundo, as zoonoses correspondem a: 62% das doenças de notificação compulsória; 60% dos patógenos reconhecidos (vírus, bactérias, protozoários, parasitas e fungos); 70% das doenças emergentes; 60% das doenças infecciosas humanas são zoonóticas; 3 a cada cinco novas doenças humanas que aparecem por ano são de origem animal; 80% dos agentes com potencial de uso para bioterrorismo são zoonoses. Fontes: OIE, 2017 e ONU, 2020.

Prevenção e controle

Os métodos de prevenção de doenças zoonóticas diferem para cada patógeno, mas várias práticas são eficientes na redução do risco nos níveis comunitário e pessoal:

  • Diretrizes seguras no cuidado com os animais no setor agropecuário ajudam a reduzir o potencial surto de zoonoses de origem alimentar por ingestão de carnes, ovos, laticínios ou mesmo vegetais;
  • Padrões para água potável e remoção de resíduos, bem como proteções para águas superficiais no ambiente natural;
  • Campanhas educativas para promover a lavagem das mãos após o contato com animais e outros ajustes comportamentais.

Antibióticos

A resistência antimicrobiana é um fator complicador no controle e prevenção de zoonoses. O uso de antibióticos em animais criados para alimentação é generalizado e aumenta o potencial de cepas de patógenos zoonóticos resistentes a medicamentos, capazes de se espalhar rapidamente em populações animais e humanas.

Sistema global

A partir do conceito de Saúde Única, a OMS colabora com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Mundial para a Saúde Animal (OIE) no Sistema Global de Alerta (Glews).

O sistema conjunto combina e coordena mecanismos das três agências para auxiliar no alerta precoce, prevenção e controle de ameaças de doenças animais, incluindo zoonoses, por meio do compartilhamento de dados e avaliação de risco.

Relatório da ONU sobre biodiversidade e pandemias assinado por 22 especialistas de todo o mundo ressalta que o custo de reduzir os riscos e prevenir pandemias pode ser 100 vezes menor do que os gastos com a resposta

Medicina Veterinária preventiva

Ao médico-veterinário compete intervir em todas as fases da cadeia produtiva de alimentos de origem animal, garantindo sua sanidade (livre de patógenos) e qualidade sanitária (livre de contaminantes) para a sociedade. Além de responder pela orientação e adequação das relações entre humanos e animais, resolvendo conflitos e exposições a riscos sanitários, sempre preservando o bem-estar único.

 Exercendo o papel de verdadeiros agentes de saúde pública, esses profissionais atuam no controle de zoonoses também na clínica de pequenos animais e integrando equipes do Sistema Único de Saúde (SUS). Sob esta perspectiva, eles são cruciais para a prática dos pilares da Saúde Única, que engloba a saúde animal, humana e ambiental.

O médico-veterinário deve diagnosticar e indicar medidas de prevenção e controle de zoonoses, seja qual for sua área de atuação

Papel fundamental

Na área clínica, atuando no diagnóstico das zoonoses, prevenção de enfermidades com vacinação e orientação para reduzir o abandono e o número de animais de rua, por exemplo, o médico-veterinário promove os benefícios do vínculo humano-animal.

Este papel fundamental dos clínicos de pequenos animais está entre os fatores que levaram o Ministério da Saúde a reconhecê-los como profissionais de saúde e o CRMV-SP a defender junto aos governos a necessidade da inclusão de ambulatórios, consultórios, clínicas e hospitais veterinários no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).

Desastres e Coletivo

Em situações extremas como os desastres nas cidades de Brumadinho e Mariana (MG) ou durante a pandemia da Covid-19, os profissionais prestam atendimento a animais, orientam a população e ainda observam as principais necessidades para acionar o Centro de Controle de Zoonoses, Assistência Social, SUS e Segurança Pública.

As linhas de atuação em cenários como esses se cruzam e “esse profissional possui um olhar sensível e humanizado que permite detectar as reais necessidades das pessoas e animais, o que requer preparo técnico e inteligência emocional”, afirma a médica-veterinária Loren D’Apice, que possui residência em Medicina Veterinária do Coletivo.

Saúde Única contra novas pandemias

Em relatório, lançado no Dia Mundial das Zoonoses, instituído em 6 de julho de 2020, a Organização das Nações Unidas (ONU) identificou a abordagem da Saúde Única (One Health) como a melhor forma de prevenir e responder aos surtos de doenças zoonóticas e futuras pandemias.

O documento, intitulado “Prevenir a Próxima Pandemia: Doenças Zoonóticas e Como Quebrar a Cadeia de Transmissão”, é um esforço conjunto do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e do Instituto Internacional de Pesquisa Pecuária (ILRI).

Todo ano, cerca de dois milhões de pessoas, principalmente de países de baixa e média renda, morrem devido à zoonoses negligenciadas

De acordo com o estudo, entre as tendências que impulsionam o surgimento de doenças zoonóticas estão a crescente demanda por proteína animal, a expansão agrícola intensiva e não sustentável, o aumento da exploração da vida selvagem e a crise climática.

Se continuarmos explorando a vida selvagem e destruindo os ecossistemas, podemos esperar um fluxo constante de doenças transmitidas de animais para seres humanos nos próximos ano

(Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA)

África

Segundo o relatório da ONU, as doenças zoonóticas estão em ascensão em todo o mundo. Os países africanos, alguns dos quais já lidaram de forma bem sucedida com outros surtos zoonóticos fatais, podem aproveitar suas experiências para combater futuros surtos.

“Para controlar as doenças, os países africanos estão aplicando novas abordagens baseadas em riscos e unindo conhecimentos humanos, animais e ambientais em iniciativas proativas como a One Health (Saúde Única)”, afirma Jimmy Smith, o diretor-geral da ILRI.

A arte traz o selo da Saúde Única que envolve a saúde humana, animal e ambiental. Além disso, é composta pelos seguintes dizeres: 10 ações práticas que os governos podem tomar para evitar surtos futuros: 1- Investir em abordagens interdisciplinares, como Saúde Única; 2- Incentivar pesquisas científicas sobre doenças zoonóticas; 3- Melhorar as análises de custo-benefício das intervenções para incluir o custo total dos impactos sociais gerados pelas doenças; 4- Aumentar a sensibilização sobre as doenças zoonóticas; 5- Fortalecer o monitoramento e a regulamentação de práticas associadas às zoonoses, inclusive de sistemas alimentares; 6- Incentivar práticas de gestão sustentável da terra e desenvolver alternativas para garantir a segurança alimentar e meios de subsistência que não dependam da destruição dos habitats e da biodiversidade; 7- Melhorar a biossegurança, identificando os principais vetores das doenças nos rebanhos e incentivando medidas comprovadas de manejo e controle de doenças zoonóticas; 8- Apoiar o gerenciamento sustentável de paisagens terrestres e marinhas a fim de ampliar a coexistência sustentável entre agricultura e vida selvagem; 9- Fortalecer a capacidade dos atores do setor de saúde em todos os países; 10- Operacionalizar a abordagem da One Health no planejamento, implementação e monitoramento do uso da terra e do desenvolvimento sustentável, entre outros campos. Fonte: ONU, 2020.

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