Enquanto muitos estão na linha de frente nos hospitais atendendo aos infectados, outros tantos profissionais da saúde se mobilizam no processamento de exames, enquanto institutos de pesquisa e universidades contam com equipes focadas na corrida por tratamentos e pela vacina contra a Covid-19.
E os médicos-veterinários estão presentes tanto nas equipes responsáveis pelos exames, quanto encabeçando diversos projetos de pesquisa que tentam alcançar essa linha de chegada com os melhores resultados possíveis.
O Instituto Biológico de São Paulo (IB) deve iniciar o atendimento para diagnóstico da Covid-19, com o processamento de exames RT-PCR. “Na equipe, são cinco médicos-veterinários, além de profissionais do Serviço de Defesa Sanitária Animal e analistas de laboratório”, explica a pesquisadora científica e médica-veterinária Liria Hiromi Okuda, responsável técnica do Laboratório de Viroses de Bovídeos.
Liria enfatiza o aprendizado que esse trabalho traz antes mesmo de ser iniciado e a importância do trabalho em equipe. “Este vírus, o Sars-CoV-2, tem um comportamento diferente, mesmo comparando com os coronavírus bovinos. Portanto, é fundamental contar com equipe multidisciplinar, pois a experiência e a troca de conhecimento são necessárias para combatê-lo.”
Aptos a contribuir
De acordo com Liria, os médicos-veterinários, por formação, já trabalham com agentes zoonóticos e têm conhecimento quanto aos cuidados de biossegurança, epidemiologia e clínica, por isso, são aptos a contribuir no atendimento à Covid-19. “Podemos interpretar com critério os resultados obtidos nos testes diagnósticos correlacionando com a clínica do paciente, antes da liberação dos resultados”, explica.
A pesquisadora ressalta que o laboratório do IB possui nível de biossegurança 2 e 3, possibilitando a contribuição nas pesquisas sobre o Sars-CoV-2, com isolamento viral, e, futuramente, em parceria com startups ou empresa, no desenvolvimento de testes de produtos, diagnósticos e vacinas.
Projeto
O IB ainda não tem pesquisa de vacina contra a Covid-19, mas já encaminhou projeto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Estamos aguardando, será um estudo em morcegos no estado de São Paulo e contará também com profissionais da Organização Pan-americana da Saúde (OPAS/OMS), do Ministério da Agricultura, da Defesa Sanitária Animal”, afirma Liria.
Consolidação
No Instituto Butantan, o processamento de exames também conta com quatro médicos-veterinários. De acordo com a responsável técnica e médica-veterinária, Renata Gemio dos Reis, esses profissionais estão envolvidos diretamente no diagnóstico da Covid-19 na execução do RT-PCR, desenvolvido no Instituto, para a rede de laboratórios do Estado, ou trabalhando no desenvolvimento de metodologias de pesquisas com o Sars-Cov-2, envolvendo animais.
Para Renata, a experiência de estar envolvida no combate à Covid-19 é de certa forma gratificante. “Acredito que o envolvimento do médico-veterinário nesse combate traz a consolidação do conceito de Saúde Única, que é muito desenvolvido em outros países, mas, ainda, era negligenciado no Brasil”, afirma, ressaltando que essa atuação em equipes multidisciplinares é imprescindível no momento atual.