Cabras passeando nas ruas da Espanha. Raposas rolando em quintais ingleses. Águas-vivas visitando os canais de Veneza, na Itália. Onça-parda saltando muro de condomínio no Chile. No Brasil, 4 brincando em janelas de prédios. Não há estudos sobre mudanças na natureza durante a pandemia de Covid-19, mas o fato é que a reclusão para o enfrentamento à doença alterou não só a rotina do ser humano, mas a de animais silvestres de vida livre.
Os registros, feitos em plena luz do dia, são um convite especial neste Dia Mundial do Meio Ambiente (05/06) para as diferentes esferas da sociedade refletirem sobre o que é necessário para que o equilíbrio entre humanos, animais e meio ambiente, tripé do conceito de Saúde Única, cujo cerne são as práticas que permitem a convivência em harmonia e com sanidade.
Para a médica-veterinária Cristiane Schilbach Pizzutto, presidente da Comissão Técnica de Bem-Estar Animal (CTBEA) do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), as notícias dão margem a duas linhas de pensamento: por um lado, o otimismo diante da possibilidade de recuperação da natureza, por outro, a preocupação diante do desequilíbrio gritante nas cenas de animais selvagens em meio às estruturas urbanas.
“O que há em comum em ambos os olhares é que nós, humanos, somos os responsáveis tanto por interferências positivas, quanto pelas negativas. Ou seja, com ou sem pandemia, se mudamos nossas atitudes, temos resultados. É preciso optar pelas ações corretas”, afirma Cristina, lembrando o quanto a fauna de diferentes regiões do mundo perdeu habitat natural em decorrência da forma de vida do ser humano.
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Alteração nos hábitos
De acordo com a médica-veterinária Elma Pereira dos Santos Polegato, presidente da Comissão Técnica de Saúde Ambiental (CTSA), do CRMV-SP, o que se observa, em meio à pandemia, é um fenômeno semelhante ao detectado em pesquisas recentes sobre alteração de hábitos de animais selvagens.
“Espécies de médio e grande porte, tais como elefantes, leopardos, ursos, alces, lontras e macacos, vêm utilizando o ambiente urbano para sobreviver ao redor do mundo, aproveitando o silêncio e a menor circulação de pessoas, no período da noite, para buscar alimentos que já não encontram, em razão da drástica redução dos seus espaços”, enfatiza Elma.
Reflexos diversos
Indo na mesma direção, o médico-veterinário Marcello Schiavo Nardi, presidente da Comissão Técnica de Médicos-veterinários de Animais Selvagens (CTMVAS), do CRMV-SP, afirma que mesmo as atividades mais cotidianas do ser humano alteram hábitos dos animais.
“Estudos já identificaram que mesmo os de hábitos diurnos passaram a apresentar comportamento noturno”, explica Nardi, ressaltando esta é apenas uma mudança, cujos reflexos são diversos, como desequilíbrio na cadeia alimentar e nas populações de diferentes espécies e ausência de funções que animais cumprem para os ciclos em seus habitats.
Impactos na qualidade do ar
Para se ter uma ideia, mesmo com as mudanças no cotidiano dos paulistas, ainda não foi possível constatar uma melhora significativa da poluição do ar. Prova disso é o que tem sido observado em estações da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
Na Região Metropolitana de São Paulo, os índices de alguns poluentes estão dentro dos parâmetros considerados de “qualidade boa” pela Organização Mundial de Saúde, conforme relata Maria Lúcia Guardani, gerente da Divisão de Qualidade do Ar da Cetesb. “Porém, não é possível afirmar melhora em comparação ao mesmo período do ano passado, porque as condições climáticas atuais são mais desfavoráveis e interferem na dissipação dos poluentes.”
Vídeos linkados na matéria:
https://www.youtube.com/watch?v=7uj3h9ZLozA
https://www.youtube.com/watch?v=VyJzjo5fsrQ
https://videos.band.uol.com.br/16788551/animais-silvestres-aparecem-nas-cidades-na-quarentena.html