A incidência da leishmaniose visceral em humanos e em cães tem sido uma preocupação no Brasil. Nos primeiros dias deste mês, foram confirmados dois novos casos em humanos em Dracena (SP), sendo que uma das vítimas morreu em decorrência da doença.
Em Marília (SP), também houve a primeira notificação do ano. Em 2019, o Ministério da Saúde (MS) contabilizou 2.266 casos da doença em humanos, sendo que o número de mortes ainda está em apuração. No estado de São Paulo, 85 pessoas foram infectadas, no ano passado, das quais 10 foram a óbito.
Os dados oficiais não dispõem da incidência em cães, reservatórios da doença em zonas urbanas – enquanto em áreas verdes são espécies de roedores, marsupiais e pequenos mamíferos. No estado de São Paulo, apenas alguns municípios contabilizam os casos em animais.
Em Presidente Prudente, por exemplo, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) divulgou balanço de 2019 com o total de 337 casos positivos de leishmaniose visceral canina (LVC) na cidade. O número representa um aumento de 28,13% em comparação ao registrado no ano anterior (263).
Combate prioritário
“A leishmaniose visceral é uma doença negligenciada. É endêmica em 76 países e, no continente americano, a zoonose é descrita em pelo menos 12. Na América Latina, 90% dos casos ocorrem no Brasil”, enfatiza o médico-veterinário Mário Ramos de Paula e Silva, membro da Comissão Técnica de Saúde Pública Veterinária (CSPV) do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP).
O médico-veterinário lista estados como Maranhão, Piauí, Minas Gerais, Tocantins, São Paulo e Mato Grosso do Sul como prioritários em ações de combate.
Conscientizar para prevenção
O cenário é prova de que é preciso conscientizar a sociedade para a prevenção com ações em diferentes esferas. “Além do poder público, os médicos-veterinários também têm o papel de orientar os tutores dos animais para evitar a doença”, enfatiza Paula e Silva.
O profissional se refere à conscientização da população quanto à necessidade de manter os quintais livres de folhas, fezes dos animais e outros resíduos e, caso haja criações, manter a limpeza de galinheiros e chiqueiros. “É preciso informar que o mosquito palha é um vetor que se prolifera em ambientes com matéria orgânica.”


(Mário Ramos de Paula e Silva)
Deficiências sociais aumentam os riscos
A leishmaniose visceral é uma zoonose causada por protozoário (Leishmania infantum) e o contágio se dá por meio da picada do mosquito palha (Lutzomyia longipalpis) contaminado. Paula e Silva argumenta que alguns padrões de transmissão estão sendo alterados e há maior predisposição na área urbana.
O médico-veterinário, que atribui a situação, principalmente, às más condições imunitárias dos animais e seres humanos, relacionando-as diretamente aos problemas nutricionais e de sanidade vivenciados por populações socialmente vulneráveis. Porém, o fator não anula a possibilidade de infeção de pessoas saudáveis.


(Mário Ramos de Paula e Silva)