O viés financeiro para o exercício da especialidade de Oncologia na Medicina Veterinária é com frequência motivo de debates, seja porque as medicações e exames para diagnósticos demandam investimentos por parte dos estabelecimentos da área, ou pelo receio dos profissionais em cobrar dos tutores os valores relativos aos exames e tratamentos.
“Já vi tutores que tinham condições financeiras apresentarem resistência em investir no tratamento. Mas também já vi pessoas venderem o carro para tratar seu animal doente. Então, não subestime seu cliente, dê a ele todas as opções de tratamento possível”, ressalta Rodrigo Ubukata, médico-veterinário oncologista e presidente do Grupo de Trabalho em Quimioterapia Veterinária do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP).
Nesse sentido, a médica-veterinária Juliana Vieira Cirillo, do setor de Oncologia da Provet-SP, do Hemovet e do Hospital Veterinário Animaniac’s e integrante da Associação Brasileira de Oncologia Veterinária (Abrovet), enfatiza a necessidade de valorização profissional e garantias para exercer a Medicina Veterinária com excelência.
“Não pode ser uma opção, por exemplo, fazer a retirada cirúrgica de tumor sem enviar amostra para análise – cujo resultado é determinante para o tratamento após a cirurgia”, explica Juliana.
Cânceres em silvestres
Na área de animais silvestres, o câncer também é uma realidade consideravelmente frequente. Um alerta ainda maior é o fato de a manifestação da doença se parecer muito ao que tem sido observado em seres humanos.
O recorte, aplicado a animais cativos, é tema do pós-doutorado em Oncologia Comparada realizado pela médica-veterinária Stéphanie Vanessa dos Santos no AC Camargo Cancer Center. Especializada na área de Patologia Experimental Oncológica e Patologia Comparada de Animais Selvagens, ela ministrou a palestra “Oncologia Comparada”, que também integrou a programação da 2ª Semana do Médico-Veterinário, realizada pelo CRMV-SP.
Semelhança
O estudo de Stéphanie mostra que, nos 53 anos analisados, foram registradas 513 mortes por câncer, sendo que as neoplasias diagnosticadas se assemelham parcialmente com as que acometem humanos: tumores malignos que afetam órgãos; leucemias; linfomas e sarcomas.
De acordo com a pesquisa, há casos em rãs, jararacas, micos, onça, tamanduá e tigres.
Segundo a médica-veterinária, sabe-se que muitas das neoplasias resultam de mutação de origem genética hereditária ou adquirida por fatores externos. “Os animais silvestres, de cativeiro e de vida livre, estão sujeitos a desenvolverem a doença também por exposição a agentes químicos, metais pesados que contaminam o meio ambiente e a poluição.”