Cientista mapeia DNA de pelos dos cães

O pelo curto do buldogue, o pelo encaracolado do poodle e a pelagem comprida do cocker spaniel podem ser bem diferentes, mas cientistas nos EUA e França descobriram agora que a combinação de apenas três genes é responsável pela variação. Não se trata de mera curiosidade científica. Trabalhos como este dão pistas para o conhecimento de doenças hereditárias no cão e no homem.
Foi um trabalho em larga escala. A equipe de vinte pesquisadores coordenados por Elaine Ostrander, do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano, de Bethesda, EUA, recolheu amostras de DNA de mais de mil cães de 80 raças e examinou milhares de seqüência do material genético.
“Este tipo de estudo não consegue dar informações práticas para donos de cães sobre uma doença, mas ele ajuda muito a avançar o conhecimento científico sobre como estudar características complexas, uma categoria na qual as doenças geralmente se enquadram”, disse Ostrander à Folha.
“Nós sabemos que seres humanos e cães têm um grande número de doenças em comum, como epilepsia, doença cardíaca, cegueira, surdez, artrite, lúpus etc. E sabemos que os mesmos genes subjacentes estão envolvidos nelas”, afirma a pesquisadora. “Por isso, entender como lidar com o problema de características complexas no sistema canino com certeza vai nos dar lições que podemos aplicar à doença.”

Letras trocadas
O objetivo era fazer um estudo de associação envolvendo todo o genoma do cão, cujo seqüenciamento foi publicado em 2005 (isto é, o ordenamento das “letras”, as bases químicas que compõem o material genético). O novo estudo está disponível no site do periódico científico americano “Science” (www.sciencemag.org).
Nesse tipo de estudo, os cientistas fazem uma varredura da ordem das letras em busca de variações entre os genomas dos indivíduos, em geral de apenas uma letra trocada. A troca de uma letra pode ou não ser significativa para a função do gene, assim como acontece com as palavras. Ao mudar a palavra “contrate” para “contrata”, o significado continua similar. Trocar “refina” por “retina”, porém, muda muito o sentido.
A grande variedade de pelagens entre as diferentes raças e também em uma mesma raça permitiu um estudo capaz de associar os locais no genoma com letras trocadas com a característica exibida pelo cão – o seu “fenótipo”, como os biólogos costumam dizer.
A raça que primeiro deu pistas importantes foi o dach-shund, o pequeno cão “salsicha” que no Brasil costuma ser erradamente chamado de “bassê”. A equipe vasculhou o DNA de 96 cães da raça de três variedades de dachshund – pelo liso, pelo duro, e pelo duro com “acessórios” (bigode e sobrancelha peluda). Justamente por serem da mesma raça ficou mais fácil achar as diferenças.
O segundo conjunto de dados usou o genoma de 76 cães d’água portugueses, a mesma raça de Bo, a cadela presenteada pelo presidente dos EUA, Barack Obama, a suas filhas.
E o terceiro conjunto de dados foi obtido com a busca dos genes da pelagem em 903 cães de 80 raças variadas.

Populações fechadas
“O aspecto único do modelo do cão é o grande número de raças, isolados genéticos, isto é, populações fechadas que não são permitidas cruzarem entre si. Cada uma dessas raças dá um retrato do genoma do cão, contendo diferentes combinações de genes que produzem animais saudáveis e reproduzindo”, disse à Folha outro autor do estudo, Karl Gordon Lark, da Universidade de Utah.
Lark tem uma fêmea, Mopsa (da mesma raça de Bo, a “primeira cachorra” americana), que também doou sua amostra de DNA para o estudo sobre a variação de pelagem.
“Cada combinação resulta em um diferente fenótipo selecionado para tamanho, morfologia [forma] e comportamento”, explica Lark. “Em um artigo no periódico “Genetics” nós mostramos como essas diferenças podem ser usadas para identificar locais genéticos para comportamento e longevidade, assim como morfologia.”

Fonte: Folha Online, acesso em 31/08/2009

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