Cientistas brasileiros criam antídoto para neutralizar veneno de abelhas

Um século após a descoberta pelo sanitarista Vital Brazil da especificidade dos soros antiofídicos, que são responsáveis por evitar a morte de milhares de vítimas picadas por serpentes nos quatro cantos do planeta, o Brasil continua referência em imunologia. Cientistas brasileiros desenvolveram e produziram o primeiro soro contra veneno de abelhas do mundo.

O soro desenvolvido a partir de uma parceria entre o Instituto Butantan, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), poderá salvar pacientes atacados por enxames. Testes feitos em laboratório provaram que o antídoto neutraliza 90% dos danos à saúde causados pelas ferroadas das abelhas africanizadas, espécie mais comum nas Américas. Depois dos testes em voluntários, o produto deve chegar aos hospitais em um ano.

Em todo o Brasil, os casos de ataques (acima de 50 picadas) e de feridos com risco de morte vêm crescendo e já preocupam o Ministério da Saúde. Dados revelam que em 2008 foram registradas 13 mortes decorrentes de acidentes com abelhas e em 2009, o número saltou para 50. Ao contrário do que se imagina, a maioria das investidas dos enxames ocorre na zona urbana e em 63% dos casos notificados, a vítima é do sexo masculino, com idade que varia de 20 a 49 anos.

A bióloga Keity Souza Santos, responsável pela pesquisa, explica que cientistas de todo o mundo estudam o desenvolvimento do soro contra o veneno de abelhas há mais de uma década. Segundo Keity, a complexidade da substância venenosa produzida pelos insetos voadores exigiu uma investigação detalhada da composição e do mecanismo de ação da peçonha. “O veneno em si é conhecido há muito tempo. O desafio foi identificar todas as proteínas presentes no composto, uma mistura com mais de cem componentes. A partir daí, foi possível trabalhar para conseguirmos um soro que neutralizasse o máximo de propriedades tóxicas”, explica.

O protocolo desenvolvido por Keity, método usado para a obtenção do soro, já está patenteado. Até agora, foram produzidos 80 litros do medicamento. Os cientistas trabalham no terceiro lote do antídoto. Os resultados dos testes do produto serão enviados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão responsável por validar as provas em laboratório e autorizar o uso em seres humanos. Isso só ocorre depois de a agência testar três lotes do produto.

O processo de produção do soro antiveneno de abelhas é similar ao do antiofídico. Após a identificação das proteínas, o veneno é injetado em cavalos. Os animais desenvolvem anticorpos, que são as moléculas capazes de neutralizar a substância venenosa. “Quando o teor de anticorpos atinge o nível desejado, retiramos o sangue do animal para a extração do plasma. O soro é obtido a partir da purificação e da concentração desse plasma”, define a bióloga.

As hemácias são devolvidas ao animal por meio da plasmaferese, técnica que reduz os efeitos colaterais provocados pela retirada do sangue e que também foi desenvolvida no Butantan. O antídoto é aplicado na veia do paciente. Cerca de 20 mililitros trazem ao corpo os anticorpos capazes de neutralizar o veneno.

Dependendo da idade e do peso do indivíduo, 30 microgramas de veneno são suficientes para colocar a vida em risco. Cada abelha injeta até dois microgramas da substância no corpo da vítima. Além da dor, se a pessoa não for alérgica, uma ferroada não causará mal algum ao organismo. “O soro é destinado apenas a indivíduos atacados por um enxame. Nesse caso, a quantidade de veneno é suficiente para lesar rins, fígado e coração, podendo causar a falência múltipla dos órgãos. Atualmente, os acidentados ainda são tratados com drogas e terapias que variam de analgésicos a hemodiálise”, acrescenta a pesquisadora.

Fonte: Correio Braziliense (acessado em 06/08/10)

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