O Zoológico Dr. Fábio Barreto acolhe diariamente pelo menos um animal silvestre ferido. As causas são acidentes em rodovias, maus-tratos ou o tráfico em Ribeirão Preto. Nos três casos, a maior taxa de mortalidade é registrada nos atropelamentos: 90% dos bichos não sobrevivem devido à gravidade dos ferimentos. “A maioria chega muito machucada, quase morrendo”, diz a bióloga do zoológico, Marisa dos Santos.
Os animais são encaminhados ao bosque pela Polícia Ambiental, pelo Corpo de Bombeiros e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). No primeiro semestre deste ano, os bombeiros resgataram 363 animais, entre domésticos e silvestres.
“Os bichos recuperados ficam temporariamente no Fábio Barreto e depois são encaminhados para outros zoológicos ou criadores de acordo com a determinação do Ibama”, diz o zootecnista e chefe do Bosque, Alexandre Gouvea.
Fundado em 1937, o zoológico tem 781 animais em cerca de 60 recintos e, muitas vezes, não consegue abrigar todos os animais que recebe. De modo geral, o número de aves socorridas pelo ambulatório costuma ser maior que o de que mamíferos. “Às vezes, chegam 400 aves de uma só vez”, diz Marisa.
Cerol amputa
Corujas e falcões são atacados por pedradas, armas de chumbinho ou se enroscam em fios de cerol. No final do ano passado, o Bosque recebeu cerca de dez aves machucadas pelo fio cortante. “As maritacas têm usado cerol e fios de telefone para construir ninhos. Quando os filhotes nascem, acabam tendo as patas amputadas”, diz Marisa.
A maioria das aves permanece durante longos períodos no ambulatório do Bosque até que possa retomar o voo. Atualmente, estão internados um gavião-carijó e uma coruja-buraqueira que tiveram asas quebradas por pedrada.
O drama do tucano
Um tucano reaprende a comer com o bico lascado por uma pedra. “Ele quebrou o bico e uma perna. Hoje ele está conseguindo comer, mas dificilmente será solto porque quebrou a pata e ela cicatrizou torta”, diz Marisa.
Antes de serem soltos na natureza ou encaminhados para outros zoológicos, os pássaros passam por uma espécie de fisioterapia para que possam voltar a voar. O trabalho de reabilitação de voo é feito pelos biólogos. Em área adequada para isso, os profissionais soltam a ave para que ela voe até determinado ponto. O número de sessões depende do tipo de ferimento.
Cirurgias
O ambulatório do Bosque tem capacidade para pequenos procedimentos cirúrgicos e equipamentos básicos como oxigênio e agulhas para suturas. Como não possui aparelho de raios-x próprio, o zoológico firmou um convênio com uma clínica veterinária para onde encaminha os animais. Se os casos exigirem cirurgias mais complexas, os bichos são levados para o hospital veterinário da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal.
Para tomar conta dos animais, se revezam dois veterinários, dois biólogos e um zootecnista, equipe que é acionada sempre que a Polícia Ambiental faz alguma apreensão. Independentemente do tipo de acidente que os tenha levado ao zoológico, mamíferos e aves podem ser encaminhados ao quarentenário, caso sejam incorporados ao plantel do zoológico, ou para o setor extra, se forem bichos excedentes que irão para outros destinos.
Mortes
Os mamíferos lideram os casos de atropelamento. Na última semana, um pequeno sagui foi socorrido com ferimentos graves e precisou ter uma pata amputada. Dias depois, não resistiu e morreu.
Muitas das vítimas correm risco de extinção, como tamanduás-bandeira, lobos-guará e suçuaranas. Apesar de a taxa de mortalidade nos casos de atropelamento girar em torno de 90%, há casos bem-sucedidos. Recentemente, um lobo-guará salvo há cerca de dois anos pela equipe do zoológico se tornou pai de dois filhotes. O bicho chegou ao bosque ainda bebê, vítima de um atropelamento, e precisou passar por uma cirurgia. “A pata estava muito machucada e foi preciso colocar parafusos e pinos para recuperá-la. Hoje ele é um reprodutor aqui no zoológico”, diz a bióloga Marisa.
Fonte: A Cidade (acessado em 16/08/10)