Você já imaginou poder tomar um leite que contenha componentes capazes de melhorar sua saúde, além de nutrientes importantes à nutrição? Comer uma manteiga e um queijo com uma composição mais saudável? Ou oferecer ao seu filho um iogurte que auxilie o crescimento e aumente a resistência às doenças?
Em Ribeirão Preto (SP), pesquisadores do Polo Centro Leste/Apta e da Universidade de São Paulo (USP) trabalham em parceria para que isso aconteça. Eles desenvolvem um programa de pesquisa chamado Leite Funcional. “O programa realiza estudos de zootecnia, nutrição e saúde humana com o objetivo de modificar a composição do leite através da alimentação da vaca, permitindo que o produto favoreça a saúde e o crescimento de seres humanos”, explica a pesquisadora do Polo Centro Leste Márcia Saladini Vieira Salles.
O leite de vaca é um dos alimentos mais importantes na nutrição humana por fornecer quantidades apreciáveis de nutrientes fundamentais para o nosso organismo. Porém, a pesquisadora aponta que a composição básica do leite bovino é direcionada para suprir as necessidades nutricionais dos bezerros. Ela pode ser alterada por meio de mudanças na alimentação das vacas, tornando o leite um alimento muito mais interessante para a nutrição humana.
Experimentos
O primeiro experimento foi realizado no final de 2009, na Fazenda Experimental de Zootecnia do Polo Centro Leste, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp). As vacas leiteiras foram alimentadas com dieta adicionada de óleo vegetal, selênio e vitamina E.
O óleo vegetal foi incluído para alterar o perfil dos ácidos graxos do leite, gerando uma gordura mais saudável para o organismo. Já o selênio e a vitamina E agem como antioxidantes, protegendo as membranas celulares contra substâncias tóxicas e radicais livres, que podem causar sérios danos às estruturas das células, acelerando o processo de envelhecimento e desencadeando algumas formas de carcinogênese.
O leite produzido no experimento foi consumido por crianças do ensino integral público da cidade de Casa Branca (SP). O crescimento e os parâmetros bioquímicos do sangue dos alunos foram avaliados pelos pesquisadores. Entre os resultados obtidos até agora, a inclusão de óleo de girassol com adição de selênio orgânico e vitamina E trouxe efeitos benéficos para saúde da glândula mamária e contribuiu para menor incidência de mastite subclínica, maior média de produção de leite e menor teor de gordura no leite. Também houve aumentos nas concentrações de selênio e vitamina E no sangue e no leite das vacas.
As crianças que tomaram o leite funcional apresentaram maior concentração de vitamina E, de selênio e da fração HDL (colesterol benéfico ao organismo) no sangue. Os demais dados serão apresentados na próxima etapa do programa.
A segunda fase do Projeto Leite Funcional será realizada em 2011 com a colaboração de pesquisadores da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos e médicos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, ambas da USP. Nesse período, será estudada a inclusão de níveis maiores do óleo vegetal, de selênio e de vitamina E na dieta de vacas em lactação, e o efeito na saúde dos animais, na qualidade do leite e a influência na nutrição e saúde de idosos alimentados com o leite modificado.
”O projeto é importante porque integra diretamente as pesquisas de zootecnia com pesquisas de nutrição e medicina humana aplicada, e abrange toda a cadeia produtiva leiteira”, explica Salles.
O leite funcional beneficia diversos segmentos da cadeia leiteira. Para os animais, há uma melhora no sistema imunológico e queda na incidência de doenças, como a mastite. O produtor rural tem a possibilidade de produzir um leite de melhor qualidade e de maior valor agregado, enquanto os processadores e distribuidores da cadeia de produção podem agregar valor e vender um produto diferenciado. Já para os consumidores, a oportunidade é a de consumir um produto mais nutritivo e saudável.
Fonte: Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (acessado em 05/01/11)