Noventa por cento dos cães e gatos adultos apresentam um ou mais dentes com doença periodontal. O alerta é feito pela veterinária odontóloga Maria Míriam Cavalcante Marinho. Ela aponta que o mais grave na doença é o ataque silencioso: as bactérias da boca invadem órgãos vitais, causando a morte súbita do animal, após provocar males como endocardite bacteriana (inflamação da membrana do coração), insuficiência renal, hepatite, inflamação no fígado, meningite, artrites e febres idiopáticas. Por tudo isso, não há dúvidas de que a saúde do pet realmente começa na boca. Infelizmente, a maioria dos criadores não tem o hábito da escovação diária dos dentes de seus pets. Assim como nos seres humanos, a simples prática livra o animal de muitas doenças.
Maria Míriam é fundadora e membro, desde 2001, da Associação Brasileira de Odontologia Veterinária, uma área recente, mas que cada vez mais mostra sua importância na criação de animais domésticos. Para mostrar como a falta de saúde bucal nos pets agrava o quadro geral, ela explica que nove entre dez casos de doenças renais também apresentam doença periodontal. Entre os animais com problemas cardíacos, 90% têm origem na falta de saúde na boca. Entre os cães pequenos, como poodle, yorkshire, pinscher e chihuahua, a tendência para males bucais é maior porque eles possuem muito dentes numa arcada pequena. Daí o cuidado precisar ser redobrado.
“A doença periodontal lesa as estruturas que seguram os dentes na boca, ou seja, a gengiva, o ligamento periodontal e o osso alveolar”, explica Maria Míriam. Segundo ela, os principais sintomas são mau hálito (halitose), dentes escuros, salivação excessiva (o animal fica babando com frequência), e mobilidade dentária (dentes moles). A principal causa é o acúmulo de tártaro, decorrente da falta de escovação diária.
“É preciso escovar os dentes do cão e do gato uma vez por dia com escova e pastas apropriadas para os pets”, orienta a veterinária.
A placa bacteriana é uma película pegajosa e incolor constituída por bactérias e açúcares que se forma sobre os dentes. É a principal causa de cáries e gengivite. Se não for removida diariamente, endurece e forma o tártaro. A escovação impede o processo de acúmulo de tártaro, com restos de matéria orgânica (alimento) e sais minerais. A primeira etapa da doença periodontal é a gengivite.
“O tártaro causa a inflamação da gengiva e invade o ligamento periodontal que segura o dente ao osso alveolar. O dente vai ficando mole e pode chegar a uma etapa irreversível”, adverte Maria Míriam.
Para acostumar os pets a aceitarem a escovação diária, a veterinária recomenda criar o hábito enquanto eles são filhotes. O gato apresenta mais resistência. Mesmo assim, aceita melhor quando começa já nos primeiros meses. No felino, os sintomas da doença periodontal são dificuldade para se alimentar, salivação, mudança brusca de comportamento (gatos são mais sensíveis à dor), emagrecimento progressivo e aftas na boca.
Entre as medidas de prevenção, estão a visita a um médico veterinário especializado em odontologia pelo menos uma vez por semestre, a escovação diária com pasta e escova apropriadas uma vez ao dia, em casa, e alimentação à base de ração balanceada, ossinhos e biscoitos próprios para pets.
Infelizmente, a maioria dos proprietários de animais não tem o hábito de levar os pets para o exame dentário semestral. Durante esse exame, são avaliados a cavidade oral e o comprometimento da raiz dos dentes por meio de raio X, a presença de abscessos, perda óssea, entre outros aspectos.
Isso permite chegar a um diagnóstico e definir o tratamento, que varia conforme o grau da enfermidade. “Para cada caso, é implantado um programa de saúde bucal que deve ser seguido pelo resto da vida do animal”, afirma Maria Míriam.
Fonte: Diário do Nordeste (acessado em 17/01/11)