A Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) apresentou o balanço das vendas de sêmen bovino em 2010. Pela primeira vez, o resultado chegou à casa dos oito dígitos. Foram 10,4 milhões de doses, um acréscimo de 13,69% perante o ano anterior. Nas raças de corte, o incremento chegou a 15,58%, superando as seis milhões de doses. No leite, o aumento foi de 11,20%, com volume acima de 4,3 milhões.
De acordo com Lino Nogueira Rodrigues Filho, presidente da entidade, a expectativa já era boa e ainda assim surpreendeu positivamente. A demanda por carne e leite no mundo está extremamente alta. Além disso, na opinião do dirigente, houve incremento nos preços, o que estimula o produtor a investir nas técnicas de reprodução. “Também houve boa contribuição da inseminação artificial em tempo fixo (IATF) no corte, e a consolidação do sêmen sexado no leite”.
Lino enfatiza que a Asbia trabalha com o objetivo de incentivar os pecuaristas a adotar a IA para o melhoramento do plantel e mostrar a eles o pequeno valor da técnica nos custos de produção, em torno de 3% do total. Segundo ele, a demanda pela IA existe, mas é preciso aumentar o grau de confiança dos criadores. A perspectiva é chegar a 2020 com 12% das prenhezes nascidas obtidas por meio da técnica. Atualmente, a quantidade oscila entre 6% e 7%.
Números exponenciais
O relatório apresentado pela Asbia deixa claro que a genética, tanto nacional quanto importada, só tem crescido nos últimos quatro anos, mesmo após a crise financeira mundial de 2008. Se esse período é ampliado para os últimos 20 anos, torna-se possível explicar, inclusive, a posição atual de maior exportador de carne ocupada pelo País. A venda de doses de 1991 a 2010 aumentou 300,94%. O sêmen nacional teve incremento de 192,03% e o importado, de 738,61%.
Em termos de raças, a nelore é líder isolada de comercialização entre os bovinos de corte, totalizando 2,9 milhões de doses (2,6 milhões de nelore e 23 1 ,9 mil de nelore mocho), seguida pela angus, com 1,7 milhão (1,2 milhões de angus preto e 585,1 mil de angus vermelho). O terceiro em vendas é o brahman, com 255,7 mil doses.
De acordo com o gerente executivo da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), André Locatelli, o fato de a raça ter se tornado a grande representante da pecuária brasileira deve-se principalmente por suas características e perfil para a produção de carne em condições tropicais. Para ele, a evolução genética dos últimos anos, principalmente de uma década para cá, propiciou ganhos de produtividade e precocidade nos animais nelore. “Hoje acredito que competem de igual para igual com outras raças, inclusive europeias. Isso faz com que a procura pelo material genético de nelore seja muito grande, algo que, somado às modernas técnicas de reprodução, se reflete nesse aumento de uso de sêmen”.
Em relação ao angus, a maioria do sêmen comercializado (66,20%) é de origem importada. Das três raças com maior volume de vendas, ela apresentou maior crescimento em relação a 2009, 23,38%.
O presidente da Associação Brasileira de Angus (ABA), Paulo de Castro Marques, considera que os números do ano passado estão aquém das expectativas dos criadores. Por outro lado, ele acredita ser muito grande o espaço para crescimento, especialmente porque o retorno dado pelas centrais é de que nunca se vendeu tanto sêmen nos meses de janeiro e fevereiro como neste ano. “Isso irá se refletir nos números de 2011”, afirma o dirigente.
Marques lembra que é não é possível o Brasil agregar valor, principalmente no que exporta, se não oferecer qualidade. A maneira mais rápida de obtê-la é utiizando genética. “Temos vários animais que imprimem qualidade de carcaça, mas o angus é a que tem maior volume de material genético para oferecer ao cruzamento industrial. Além disso, a carne é uma commodity e trabalha com margem muito pequena de lucro. Por esse motivo, o criador deve ter grande preocupação com a produtividade, o que significa produzir com qualidade e da maneira mais eficiente possível. O novilho angus é abatido seis meses mais cedo. Com melhores condições de criação, o período aumenta para quase um ano. Em quatro ou cinco anos, ganha-se uma geração a mais no abate”, explica.
Quando o assunto é o brahman, o presidente da Associação dos Criadores de Brahman do Brasil (ACBB), Wilson Roberto Rodrigues, ressalta que as características que destacam a posição da raça entre as mais vendidas são habilidade materna muito boa, docilidade, bom rendimento de carcaça e ganho de peso.
Segundo ele, hoje o número de doses comercializadas chega a dois milhões, o que pode ter contribuído para colocar o brahman como o zebuíno de corte que mais cresceu em números de registros na Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) nos últimos cinco anos. Outro ponto destacado por Rodrigues é que a exportação de sêmen para Canadá, Equador e Paraguai também tem contribuído para que a raça seja a segunda de corte em produção de sêmen. “Nosso crescimento nos últimos cinco anos foi muito significativo, em torno de 36%. O pecuarista brasileiro está descobrindo a raça. Quem usa uma vez volta a utilizar porque o bezerro oriundo de um cruzamento do brahman com qualquer outra raça tem resultado muito bom, inclusive com nelore.”
Os dados da Asbia também revelam crescimento no gado de leite. O holandês, que é o primeiro em vendas, apresentou evolução de 7,6 1% de 2009 para 2010, quando a comercialização chegou a 2,5 milhões de doses.
A segunda posição ficou novamente com o jJersey, que teve 724,5 mil doses vendidas, somando nacionais e importadas, e incremento de 7,9% em comparação ao ano anterior. Já no gir leiteiro, esse crescimento ultrapassou os 19%, com salto de 579,2 mil doses para 689,5 mil.
Fonte: Correio do Estado (acessado em 18/04/2011)