O litoral de São Paulo é um dos principais pontos de passagem de um dos maiores peixes da terra: as raias-jamantas (Manta birostris). Pelo menos foi o que revelou a primeira pesquisa sobre a rota que esses animais cumprem no Atlântico Sul.
Conhecida como peixe-diabo, por conta de suas nadadeiras lembrarem chifres, ela está longe de ser infernal. “Elas são dóceis, gostam de interagir, de sentir as bolhas que a gente solta”, diz a pesquisadora Paula Romano. Mas, ao mesmo tempo, impõe respeito, pois é um dos maiores peixes da Terra. Pesa mais de duas toneladas, chega a medir oito metros de envergadura e tem até cinco mil dentes minúsculos. Sua boca funciona como um aspirador gigante que filtra água para absorver plâncton, a base da cadeia alimentar nos oceanos.
Os cientistas monitoram as áreas onde elas mais aparecem para se alimentar e acasalar. Em Moçambique, na África, os turistas pagam em média quatro mil dólares por uma semana de mergulho ao lado delas. O país tem uma das maiores concentrações de jamantas em todo o mundo e é sede de uma organização internacional que cuida da preservação da espécie.
“Na nossa região, ela não é alvo de pesca, pois a carne não é boa. Só que com a utilização cada vez maior das redes de espera, muitos animais que não são alvos da pesca acabam parando nessa rede”, explica o coordenador do Projeto Mantas do Brasil, Guilherme Kodja.
Embora as raias naveguem grandes distâncias pelas regiões tropicais e subtropicais do globo, elas se concentram em poucos locais. No Atlântico Sul, frequentam o Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, um rochedo a 35 quilômetros da costa, que ainda abriga dez espécies de aves e 196 tipos de peixes. “É importante ter uma área dessas porque há muitos animais para serem estudados. A raia-jamanta é só um deles”, diz o gestor do Parque Marinho da Laje de Santos, José Edmilson de Melo Jr.
Há cinco anos, os pesquisadores estudam as raias que aparecem na região. Já fotografaram mais de 70, o que torna a Laje de Santos o terceiro melhor lugar do mundo para se avistar as jamantas. “Um pequeno aparelho serve como um minilaboratório. Ele tem uma série de sensores que vão captar informações da água, como temperatura, luminosidade e localização”, explica Kodja.
A temporada das raias só está começando. Até o final do inverno, serão muitas viagens até a Laje de Santos. “Se nós conseguirmos tirar um animal da lista internacional das espécies em extinção, eu diria que já teria completado a missão da minha vida”, diz o coordenador. “Espero que meus netos conheçam pessoalmente, assim como eu conheci. A sensação de mergulhar com ela parece uma manta mesmo “, completa Paula.
Fonte: Terra da Gente (acessado em 08/07/2011)