Não bastasse a mesma paisagem de cana-de-açúcar por hectares sem fim, nesta época do ano, os animais do interior paulista ainda precisam enfrentar uma outra ameaça à sua existência: as queimadas dessa monocultura. Em geral, elas acontecem à noite. De repente, uma área equivalente a cinco quarteirões se transforma em um inferno. A temperatura passa dos 800°C. Em menos de 20 minutos, tudo é queimado, inclusive os animais.
Na manhã seguinte, quando os boias-frias entram em cena para cortar a cana, é que se descobre o tamanho do estrago. O ouriço não resistiu aos ferimentos e morreu pouco depois do incêndio. O mesmo aconteceu com o tamanduá-mirim, que já estava cego quando foi encontrado. Dos três filhotes de onça-parda, que ficaram muito queimados, dois sobreviveram. Um cachorro-do-mato, perdido, correu para a estrada e acabou atropelado.
Esse é o cenário de só uma noite. No ano passado, uma associação que cuida de animais selvagens recebeu mais de 150 vítimas de incêndios. Só 45 sobreviveram. Muitos deles viviam em reservas de preservação ambiental, destruídas por queimadas feitas em canaviais vizinhos.
Para se proteger do fogo, até as aves estão mudando de comportamento. Segundo os biólogos, algumas espécies conseguiram antecipar em três ou quatro meses o ciclo de reprodução. “Elas já estão fazendo ninhos e começando a colocar os ovos agora no inverno, antes da entrada da primavera”, explica o biólogo Aguinaldo Marinho.
Mas nem todos conseguem se adaptar. Alguns pássaros, como a seriema e o gavião nem tentam mais procriar. “Às vezes, elas passam um ou dois anos sem fazer a postura e chocagem de ovos porque sabem que se continuar assim, se um filhote nascer, não vai sobreviver”, diz ele.
Muitos animais fogem para as cidades, onde são atacados por cachorros ou moradores. Alguns, de fato, são perigosos. Segundo a Secretaria de Saúde de São Paulo, os ataques de cobras, aranhas e escorpiões mais que dobraram na última década. Em 2000, foram sete mil ataques. Em 2010, o número saltou para 14 mil.
A lei manda que as usinas façam uma varredura no canavial antes de atear fogo, para espantar os animais da área, mas muitas não fazem isso. Os animais não são as únicas vitimas. Só em São Paulo, no ano passado, três trabalhadores rurais morreram em queimadas.
Fonte: Terra da Gente (acessado em 12/07/2011)