Um parasita com menos de três centímetros de tamanho está aterrorizando a cidade de Ribeirão Preto, no interior paulista (313 quilômetros da capital).
Trata-se do carrapato-estrela, que se hospeda principalmente em capivaras e é responsável pela transmissão da febre maculosa, doença que, se não tratada, pode levar à morte em poucos dias. A pessoa infectada pode desenvolver sintomas de dois a 14 dias após a picada, mas os sintomas podem praticamente não existir ou serem muito fracos, o que dificulta o diagnóstico.
A cidade já registrou, em 2011, dois casos da doença, um deles com morte do paciente.
O temor é tanto que o principal parque do município, o Maurílio Biagi, precisou ser fechado por um dia para que medidas de controle contra a praga fossem tomadas. Prestes a completar um ano aberto, o parque está infestado de carrapatos-estrela.
Três servidores públicos que trabalham no local já foram picados pelo parasita, mas não desenvolveram a moléstia. O parque, um dos mais frequentados da cidade, é o escolhido da prefeita Dárcy Vera (DEM) para a maioria dos eventos realizados na cidade.
Segundo o chefe da divisão de parques e jardins da administração municipal, Carlos Henrique Toldo, os carrapatos chegaram ao parque por meio das capivaras que vivem às margens do rio Ribeirão Preto e do córrego Laureano, que corta o Maurilio Biagi.
Ele considera, no entanto, que todos os esforços para resolver o problema estão sendo feitos. “O parque não tem infestação total, apenas uma área próxima ao córrego Laureano registra a presença das ninfas do carrapato-estrela”, afirma. Segundo Toldo, a área próxima às margens foi interditada para evitar o contato do parasita com a população.
Já o secretário da Casa Civil, Layr Luchesi Junior, informa que a prefeitura descartou, por enquanto, interditar o parque, mas nos locais de maior infestação foram colocadas faixas de segurança para que o público não entre nessas áreas.
Agora, a prefeitura estuda colocar cercas para impedir que as capivaras invadam o parque. “Colocamos uma serie de taludes para evitar que elas subam e se misturem com a vegetação do parque, impedindo, dessa forma, o contato com os parasitas”, afirma.
Luchesi disse ainda que a prefeitura também pretende colocar placas indicativas no parque alertando os frequentadores para que não entrem nas áreas onde há incidência do carrapato.
Vigilância
A administração municipal também deslocou um efetivo da Guarda Civil Municipal para impedir o avanço dos visitantes sobre as áreas de maior infestação dos carrapatos. Os locais, próximos ao córrego Laureano e algumas árvores, estão sinalizados com faixas zebradas. Outra medida será o fechamento do parque às segundas-feiras, dias da semana em que uma força tarefa municipal irá cortar a grama do parque e realizar uma limpeza completa com objetivo de eliminar os parasitas.
“Estamos tratando do caso desde o final de abril e ressaltamos que não é nenhuma emergência. São medidas necessárias, mas não há nenhum surto da doença ou motivo para pânico”, afirma a diretora da vigilância epidemiológica da cidade, Maria Luiza Santa Maria.
Campus
O Parque Maurílio Biagi não é o único ponto preocupante quando o assunto é a presença de capivaras e carrapatos estrela. O campus da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão é, de longe, a área mais crítica.
Com um lago que tem um quilômetro de comprimento, com largura de pelo menos 150 metros, a universidade abriga uma população que chega a centenas de capivaras. Sem predadores naturais, os animais encontraram no lago o ambiente perfeito – e seguro – para sua reprodução. Placas instaladas ao redor da lagoa alertam sobre a infestação de carrapatos e a existência de superpopulação de capivaras.
Hábitat
O coordenador do campus da USP, José Moacir Marin, afirmou que a lagoa é o hábitat de três grupos de capivaras e que os animais que visitam o Maurílio Biagi são, provavelmente, originários da área da USP.
Marin disse ainda que já foram detectados, no local, dois tipos de carrapatos que têm como hospedeiros, além das capivaras, os cavalos e os cães.
Por causa disso, foi proibida a permanência de cavalos no campus e os frequentadores receberam panfletos de orientação para não frequentar as áreas de maior incidência de carrapatos. Segundo o coordenador, houve registro de picadas, mas não da doença.
Febre maculosa tem dois casos e uma morte
Com uma superpopulação de capivaras, os hospedeiros principais do carrapato-estrela, Ribeirão Preto já registrou, em 2011, dois casos de febre maculosa. Um deles, inclusive, evoluiu para óbito do paciente. Isso faz, segundo as autoridades de saúde, com que seja necessária uma atenção especial no diagnóstico de possíveis casos, especialmente envolvendo estudantes e funcionários da Universidade de São Paulo e frequentadores do Parque Maurílio Biagi.
Maria Luiza Santa ressalta, porém, que é preciso muita atenção aos sintomas, já que são difíceis de distinguir de moléstias comuns, como um simples resfriado. Ela também informa que a evolução da doença é muito rápida e que a febre maculosa possui alto índice de letalidade, que supera os 20%.
“É por isso que é essencial que a pessoa relate a picada do carrapato, senão o diagnóstico fica praticamente impossível”, explica.
Ela disse, no entanto, que a maioria dos animais, embora infestados pelos carrapatos, não são vetores da doença. “São poucos os carrapatos que transmitem a febre maculosa. Em Ribeirão, existem muitos casos de picadas pelo carrapato-estrela e a imensa maioria não é infectada”, afirma.
Fonte: DCI (acessado em 23/08/2011)