Com graves queimaduras, uma loba-guará mordeu tanto os dedos para “tirar” a dor, que amputou as próprias patas. Morreu dias após ser resgatada, em Ribeirão Preto. Já um tamanduá-bandeira queimou todas as patas ao tentar fugir do fogo. Está sob cuidados de veterinários em São José do Rio Preto.
Esses animais silvestres são dois entre as centenas de vítimas que têm sofrido com o avanço dos incêndios em canaviais, matas e florestas do interior de São Paulo. A estiagem e o tempo seco quase sempre são os responsáveis pelo fogo, mas a colheita manual da cana, que exige a queimada, e incêndios criminosos também prejudicam a fauna.
Não há estatísticas oficiais da Polícia Ambiental, Corpo de Bombeiros ou Ibama, mas levantamento feito pela Folha em zoológicos e hospitais veterinários de oito cidades aponta ao menos 147 animais com queimaduras ou marcas de atropelamento causado ao fugirem do fogo desde junho.
Só em Ribeirão, foram 119 focos de queimadas nesse período de estiagem, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Lá, 49 animais silvestres foram levados para o Bosque Zoológico Fábio Barreto durante esses meses. As outras cidades consultadas foram São Carlos, Franca, Jaboticabal, Piracicaba, Sorocaba, Ituverava e Bauru, além de Rio Preto.
Isso é só parte do problema, já que especialistas dizem que não há informações sobre todos os animais que morrem carbonizados. “Ainda tem os casos dos que nem são resgatados. Fogem feridos do fogo, mas morrem e ninguém fica sabendo”, disse a médica veterinária do hospital veterinário da Unesp de Jaboticabal Karin Werther.
Danos indiretos
Os mais vulneráveis são os de locomoção lenta, como tatus e cobras. “Esses têm mais dificuldade para fugir”, diz o zootecnista Alexandre Gouveia.
Em São Carlos, uma jiboia chegou a ser levada ao zoológico da cidade com queimaduras graves e quase sem pele. Não sobreviveu, segundo o administrador do local, Fernando Magnani.
Animais de hábitos noturnos, como tamanduás, só percebem as chamas quando o fogo está perto. “Com visão reduzida, a fuga depende da sorte de correr para o lado onde não há fogo”, afirmou a médica veterinária da Universidade de Franca Antonella Jacintho.
Necropsias feitas em animais mortos revelam mucosas de narinas, traqueias e pulmões queimados.
Fonte: Folha de São Paulo (acessado em 19/09/2011)