A portaria 454, publicada na sexta-feira, 16, determina o leilão de até 500 mil toneladas de arroz em casca para ração. Além de beneficiar o orizicultor – que sofre com uma super safra de de 13,81 milhões de toneladas do cereal, volume 18,4% maior que na temporada anterior – também atende à demanda do setor de aves e suínos.
De acordo a medida publicada, o arroz que receber subvenção do governo federal só poderá ser destinado a avicultores e suinocultores que disponham de indústria própria de ração animal. Segundo o Ministério da Agricultura, caso haja demanda, a pecuária bovina também poderá ser contemplada.
A utilização do subproduto do arroz já é conhecida dos pecuaristas de corte. Mas, de acordo com o pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão Eduardo Eifert, a utilização do cereal para consumo animal só é possível em casos de super safras como a observada agora no Rio Grande do Sul. “Por uma questão de segurança alimentar, o produto, que compõe a cesta básica, não podia ser destinado ao consumo de animais”, diz.
O cereal pode substituir o milho na ração, mas, na maioria das vezes, seu alto custo inviabiliza essa prática. Análise comparativa da Embrapa Arroz e Feijão mostra que o teor de Nutrientes Digestíveis Totais (NDT) do arroz polido é superior ao do milho e do sorgo.
Os grãos que serão leiloados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para utilização na ração são dos tipos 2 e 3, de qualidade inferior. Para a execução dos leilões, o governo deve aplicar R$ 60 milhões. “A liberação para a pecuária bovina traria grandes benefícios”, afirma o médico veterinário e pecuarista Neilor Consentino Fontoura, que utiliza quirera no suplementação dos animais. “A quirera tem apresentado bons resultados, mas o grão do tipo 2 e 3 é mais limpo, o que poderia aumentar o valor nutricional”, diz.
A região de Itaqui, fronteira oeste do Rio Grande do Sul, onde fica a propriedade do veterinário, tem a facilidade de contar com grandes indústrias de processamento de arroz, o que viabiliza o uso do subproduto. “A quirera substitui o milho, que, para os pecuaristas da região, é inviável, já que a produção mais próxima fica a 300 quilômetros daqui”, afirma Fontoura.
Na propriedade com 180 cabeças, as vacas são criadas a pasto e depois do desmame recebem ração comercial e quirera como complemento. “Oferecemos 0,5% do peso vivo do animal em ração comercial e mais 0,5% de quirera”, explica. Com a medida, o pecuarista conseguiu reduzir os custos, já que a quirera é mais barata que a ração comercial, e as vacas passaram a registrar maior ganho de peso.
As vacas, que antes eram descartadas depois do desmame, agora são vendidas depois da engorda. “O sistema foi adotado em 2010 e, com o bom resultado, vamos passar comprar vacas magras para aproveitar e engordá-las com a quirera do arroz, que tem um custo baixo e retorno satisfatório”, conclui.
Fonte: Portal DBO (acessado em 21/09/2011)