Saiba como escolher o cão certo para quem está doente

Quando o medicamento resolve a dor, mas não repõe sentimentos de felicidade e vontade de viver, a medicina cede lugar a métodos alternativos. Comprar ou adotar um cachorro compatível com as diferentes exigências impostas por doenças ou necessidades especiais pode revolucionar o quadro de quem é afetado por depressão e câncer, melhorar a qualidade de vida de cadeirantes e autistas, além de preencher o vazio dos solitários.

Embora não exista uma raça específica para cada tipo de doença ou limitação, é possível selecionar o cão mais adequado combinando perfis. Terapeutas e veterinários ajudam no processo seletivo para que a companhia e a interação com o animal sejam revertidas em melhora da saúde.

“Podemos indicar os mais habilitados, com perfis compatíveis às necessidades de cada paciente. Nem todo animal é capaz de exercer a função de terapeuta”, alerta o médico veterinário Alberto David Cohen. A experiência dele no uso de animais de estimação como tratamento é consequência não apenas da rotina no consultório, mas reflete um pouco de sua história familiar.

“Minha irmã é cadeirante e precisou de um cachorro que adequado às limitações físicas dela. O animal precisa pular no colo facilmente. Ele não pode ser estabanado e atrapalhar os movimentos do dono. Hoje, após ensinamentos e treinos, o cachorro é um facilitador, responde aos comandos de voz, pega muitas coisas para ela, além de ser um grande companheiro”, conta o veterinário.

Par perfeito

Uma grande variedade de cães pode ser usada como coadjuvante no tratamento de doenças. Embora as diferentes raças deem pistas do comportamento do animal, o perfil não é universal, explica o veterinário. Cachorros disponíveis para adoção também são muito recomendados, pois o vira-lata é um animal carente por natureza, disposto a dar atenção e a receber carinho. Além disso, o comportamento deles, no dia da escolha, já está definido.

“Filhotes podem ser educados e treinados, mas cães já crescidos terão menos risco de alteração comportamental”, diz Cohen.

O especialista ensina: é fundamental combinar as características do pet com as principais necessidades do paciente. Crianças em tratamento contra o câncer, por exemplo, precisam de animais alegres e companheiros, que estimulem a brincadeira e, ao mesmo tempo, demandem carinho e atenção. Nesse grupo, é possível escolher entre maltês, poodle, pug, cocker spaniel e fox paulistinha, sugere o especialista.

“Raças pequenas ficam em vantagem quando a debilidade dos pacientes é um determinante. Animais maiores também podem ser animados e carinhosos, mas exigem, além de espaço, uma mobilidade que nem sempre o doente tem para dar”, diz ele.

O processo deve ser baseado em qualidades e na exclusão de certos “defeitos” do bicho, defende a terapeuta e veterinária Ceres Faraco, que também é coordenadora do Programa de Terapia Mediada por Animais em algumas unidades dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da infância e adolescência, em Porto Alegre.

“Ele precisa ser capaz de se apegar e ter bastante energia. É a interação com o animal que estimula o doente a sair do estado introspectivo e ser mais sociável. O cachorro também não pode ser agressivo, precisa compreender voz de comando e ter o latido controlado. Algumas raças tendem a desenvolver problemas de coluna, doenças de pele e degenerativas. Isso também deve ser analisado e excluído, pois pode ser prejudicial à relação com o paciente”, explica.

Ceres usa os animais como ferramenta de trabalho. Os cães são selecionados de acordo com as características do grupo atendido. A escolha é baseada em temperamento, personalidade e, por último, raça. Hoje, a veterinária tem como membros de sua equipe três animais: duas fêmeas (border collie e lhasa apso) e um macho (fox paulistinha).

No trabalho desenvolvido pela especialista, o trio de cães é a pedagogia usada para tratar crianças com transtornos de desenvolvimento, autistas e portadores da síndrome de down. “Eles ajudam a melhorar a locomoção e estimulam a fala. É preciso que a criança fale para que o cachorro entenda comando de voz.”

Na alegria e na tristeza

Em quadros de tristeza e depressão, pesam outros critérios de escolha, principalmente quando o cão será companhia de idosos. Segundo Cohen, o golden retriver e o pug são duas raças muito apegadas ao ser humano. Fazem companhia sem incomodar e têm oscilações de humor similares ao quadro da doença no homem.

“São muito indicadas para quem tem mobilidade diminuída por conta de depressão. Eles alternam períodos de grande agitação com calmaria extrema. Ajudam a colocar a pessoa em movimento, sem exigir demais.”

Quando o objetivo não é aliviar os sintomas clássicos de quadros depressivos, apenas romper a solidão e combater o sedentarismo, o cachorro deve exigir do dono participação, interação, latir pouco e ser menos ativo: bulldog, chow-chow e o rusky siberiano são companheiros perfeitos.

Simbiose

A presença de animais em hospitais e clínicas não é uma estratégia nova. Usá-los como “cuidadores”, porém, é um recurso que vem ganhando força ao longo dos anos. No mundo ocidental, os queridinhos do homem – saudáveis ou enfermos – são os cachorros.

“O cão é um facilitador. Ele transcende a função de ser animal e representa esperança e o bem-querer. Consegue tirar o foco da dor, ou do estado de depressão”, explica a psicóloga e veterinária Hannelore Fuchs.

Pioneira em explorar o efeito medicinal dos animais, Hannelore insere os mais diversos bichos em leitos hospitalares há 13 anos. Ela é fundadora e coordenadora do Projeto Pet Smile – que agora será transformado em ONG – e recruta de cachorros a porquinhos-da-índia para ajudar no tratamento de pacientes internados.

Na visão da especialista, embora a interação seja extremamente benéfica para o homem e, de fato, ajude no processo de recuperação, a relação jamais deve ser prejudicial para uma das partes. “É preciso olhar para o doente, entender o que ele precisa e saber se o animal é capaz de oferecer tais benefícios de forma harmônica”, diz.

No conceito dela, os animais são preparados dentro de casa, pelos próprios donos, para trabalhar como “médicos” da ONG. Não existe adestramento, mas educação, afeto e cuidados. A psicóloga exige boas maneiras. Qualquer cão de trabalho voluntário, como ela define, precisa ser ‘boa gente’.

Na tradução, a expressão significa que o animal deve atender aos comandos, compreender dicas não verbais e saber se comportar no meio de outras pessoas e pets. É preciso também que ele tenha noções de obediência básica e aceite, por exemplo, mãos desajeitadas de crianças com deficiência. “É um processo longo que só é possível se o dono tiver um bom relacionamento com o cachorro. A medicina animal funciona quando dono e pet ganham com tal interação.”

Fonte: IG (acessado em 04/11/2011)

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