O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) encerrou em Florianópolis/SC, o ciclo de Encontros de Ética, Bioética e Bem-estar Animal realizado nas cinco regiões brasileiras. Os palestrantes foram unânimes em reconhecer que o bem-estar animal é uma preocupação legítima, que nasce na sociedade e apresenta parâmetros estabelecidos em países importadores e os diversos atores da cadeia produtiva brasileira, entre eles os médicos veterinários e zootecnistas, precisam se antecipar para as exigências provenientes.
Na abertura, o presidente da Comissão de Ética, Bioética e Bem-estar Animal (Cebea) do CFMV, Alberto Neves Costa enfatizou a importância, cada vez mais sólida, que o tema assume internacionalmente. Com informações atualizadas sobre a última reunião da Organização Mundial para a Saúde Animal (OIE), realizada na Malásia, no início de novembro, Neves alertou para “a preocupação atual do organismo de que os 178 países membros coloquem em prática os padrões de bem-estar animal estabelecidos”.
Em sua apresentação, a pesquisadora Carla Molento, membro da Cebea, trouxe citações de trabalhos científicos, de 2008 e 2011, que não reconhecem a existência efetiva das práticas de bem-estar na produção brasileira. Para ela, as citações comprovam que o mundo não reconhece as ações de bem-estar existentes no Brasil. “Precisamos aparecer no cenário nacional e internacional, sendo pró-ativos. A implantação de mudanças deve ocorrer de forma gradual e de acordo com a nossa realidade, para que depois não soframos com imposições imediatas”, avaliou.
Maria José Hotzel, da Universidade Federal de Santa Catarina, alertou para importância de articulação junto ao governo, produtores, organizações e academia para que se iniciem a mudança e aplicação de técnicas de bem-estar animal nos sistemas produtivos. “As mudanças ocorrerão lenta e voluntariamente. As empresas que já se anteciparam, perceberam a necessidade e não quiseram perder em imagem”, afirma referindo-se a exemplos internacionais.
Oportunidade de mercado
Dentre as diversas etapas para a implantação consciente do processo de produção com o bem-estar animal, Carla Molento, da Cebea, acredita que existe a necessidade da certificação. “A certificação não é a solução para a implantação das técnicas, mas é uma parte importante do processo”, afirma. Para Alberto Neves, também da Cebea, esta será uma oportunidade de trabalho para Médicos Veterinários e Zootecnistas com saber na área. Carla também acredita que as oportunidades de trabalho crescerão em todas as áreas que envolvem o bem-estar animal. “O primeiro exemplo foram os recentes concursos para professores em disciplinas específicas de bem-estar animal”, cita.
Luciana Honorato, integrante de uma das primeiras empresas de certificação no Brasil para o tema, detalhou a importância da certificação para dar credibilidade ao projeto. Ele explicou como funciona o processo e as diferentes normas e objetivos existentes nos programas internacionais. Também trouxe exemplos: na cadeia de suínos norte-americana, em determinado programa, há adesão de 50.000 produtores ou 67% do rebanho do País. O programa e a adesão existem, principalmente, por pressão das legislações estaduais que começaram a aparecer naquele País.
O V Encontro de Ética, Bioética e Bem-estar Animal também abordou temas como métodos substitutivos ao uso de animais no ensino e pesquisa; a dor nos animais e métodos de eutanásia. As cinco edições dos encontros regionais realizados em todo o Brasil reuniram cerca de 600 pessoas, tendo um público altamente especializado, como coordenadores de curso, professores, representantes das Comissões de Ética, Bioética e Bem-estar Animal do Sistema CFMV/CRMVs e das Comissões de Ética no Uso de Animais (Ceuas), além de estudantes interessados.
Fonte: Portal CFMV (acessado em 27/11/12).