Uma ave de asas leves, com bico quase de plástico e muito colorido. É assim que Gabriel Fernando Silva, de 18 anos, enxerga o tucano. Ele segurou o animal pela primeira vez, na última segunda-feira (6). Totalmente cego desde que nasceu, ele garante que não precisa dos olhos para saber como é a beleza da natureza.
“É um mundo incrível, encantador, que eu vejo com as mãos. Achava que o tucano era um pouco maior do que isto, mas agora eu vi como ele é de verdade”, disse.
Igualmente encantado com a ave, Giovani Alziro, de 20 anos, contou que mesmo antes de conhecê-la de perto, já tinha sua imagem construída na mente. “Na minha cabeça, o mundo das aves já estava todo formado. É um mundo muito colorido e, por isso, lindo. O tucano que eu peguei hoje, por exemplo, é azul e amarelo. Então sei que ele tem as cores do céu e do sol. Foi uma sensação incrível”, descreveu.
Além do tucano e da arara-canindé, recuperados do tráfico de animais e condicionados desde pequenos para não se assustarem com o toque das pessoas, os alunos do grupo também conheceram o elefante, o hipopótamo e a girafa. Com a ajuda de monitores capacitados, estes dois últimos animais foram alimentados pelos jovens.
Ao segurar a alfafa, que serve de comida para o elefante, Andrea Lívia, de 19 anos, ficou surpresa com a aspereza do vegetal. “Achava que era mais fofinho. É estranho, muito áspero”, disse, intercalando sorrisos com uma careta por causa do cheiro forte do bicho. “O cheiro dele que não é bom. É muito marcante, não gostei muito”, completou ela, que nasceu com deficiência visual em razão de uma rubéola contraída pela mãe durante a gestação.
O professor Renato Soares, um dos que acompanharam o grupo, explicou que conhecer de perto os animais, principalmente os selvagens, entender o local onde vivem, do que se alimentam e observar suas dimensões enriquece o processo de aprendizagem, estimulando o interesse e aguçando a curiosidade dos alunos. Segundo ele, exatamente da forma como ocorre com qualquer estudante.
“Ensinamos o que está nos livros, mas quando vamos até o objeto do estudo e vemos de perto, tudo se torna mais real, mais concreto e mais encantador. É assim com os alunos que têm deficiência como com qualquer aluno”, enfatizou. Ele explicou que, para orientar a observação, são feitas comparações com elementos já conhecidos pelos adolescentes. Para ajudá-los a compreender o tamanho do elefante, por exemplo, o professor disse que era quase como uma van.
Ao longo de todo o ano, esses alunos farão visitas mensais ao zoológico. Na programação, desenvolvida por biólogos, zootecnistas e educadores ambientais da instituição, estão incluídas noções de fisiologia animal e de conscientização ambiental, além de observação do borboletário e do serpentário. A cada ano, o zoológico firma parceria com uma escola para desenvolver o projeto.
Fonte: Ciclo Vivo