Uma mulher que cuidava do pai doente foi a primeira vítima a contrair diretamente de outra pessoa o vírus de gripe aviária H7N9, altamente letal. Segundo autoridades de saúde da China que relataram o caso, a notícia é preocupante, mas o parasita ainda não conseguiria sustentar uma pandemia em humanos.
O pai, de 60 anos, e a filha, de 32, entraram na lista dos 43 mortos infectados com o vírus. Outros 91 pacientes contraíram o patógeno, mas sobreviveram ao contágio. O caso isolado de transmissão de uma pessoa para outra foi descoberto após uma investigação liderada pelo virologista Xian Qi, do centro epidemiológico de Nanquim.
Para descartar a possibilidade de a mulher ter contraído o H7N9 de alguma ave, os pesquisadores entrevistaram pessoas próximas à família e vasculharam todo o bairro onde as vítimas moravam. Apenas o pai tivera contato confirmado com aves, pois ia regularmente a um mercado de animais vivos para comprar codornas que cozinhava para a família. Um vizinho criava dois cisnes perto da casa das vítimas, mas os animais não estavam infectados, mostrou um teste.
Além de toda a investigação em campo, os cientistas sequenciaram a informação genética do vírus. A variedade que infectou o pai era tão similar à que infectou a filha que levou os pesquisadores a concluírem que, de fato, houve transmissão entre pessoas. Os médicos entrevistaram 43 pessoas que entraram em contato com as duas vítimas citadas no estudo. Nenhuma delas foi contaminada – nem mesmo o genro do primeiro paciente, que também cuidara do homem adoecido.
A mulher que contraiu o vírus, além disso, disse ter entrado em contato direto com secreções orais do homem infectado. “Ela teve exposição prolongada, direta e desprotegida a seu pai”, escreveram Qi e seus colegas no estudo. Para especialistas, o fato de o caso de transmissão ter sido isolado não é motivo para relaxar a vigilância sobre o H7N9. “Eventos ocasionais de transmissão são a regra, e não a exceção, para vírus de gripe que esporadicamente cruzam a barreira de espécies e chegam a humanos”, escrevem James Rudge e Richard Coker, sanitaristas britânicos que trabalham no Sudeste Asiático e assinam o editorial do “British Medical Journal”.
Os dois alertam que os 134 casos da doença registrados até agora são a “ponta do iceberg”, pois infecções menos graves nem chegam ao conhecimento dos médicos.
Letalidade – “O lado bom disso é que a taxa de fatalidade real do vírus provavelmente é bem menor do que aquela observada entre casos confirmados”, dizem Rudge e Coker. O lado ruim, afirmam, é que “a oportunidade para que o H7N9 se adapte a humanos, ou se recombine por meio de infecções de gripes mistas, pode ser muito maior do que aquela para outros vírus de gripe aviária, como o H5N1”.
Parte da preocupação dos cientistas saiu de um experimento feito com furões, mostrando que, entre esses mamíferos, o H7N9 já consegue se disseminar. Esse trabalho, liderado por Yoshihiro Kawaoka, da Universidade de Tóquio, também mostrou que o vírus sobrevive em macacos, mas não passa de um para o outro. Kawaoka sugere que o H7N9 passou a infectar humanos após um número relativamente pequeno de mutações, mas nenhum experimento de biologia molecular foi feito até agora para confirmar a suspeita.
Fonte: Avicultura Industrial