Conselheiro efetivo do CRMV-SP fala sobre sanidade avícola na revista da Avicultura Industrial

O conselheiro efetivo do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) e diretor técnico do Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio Avícola (CAPTAA), Antonio Guilherme Machado de Castro, concedeu entrevista sobre sanidade avícola, Influenza Aviária e Laringotraqueíte Infecciosa para a edição n° 1234 da revista Avicultura Industrial.

Confira, abaixo, um trecho da entrevista.

Avicultura Industrial – O Brasil tem se mantido livre de enfermidades importantes e com grande impacto no comércio internacional, como a Influenza Aviária. A que o senhor atribui isto? É um mérito do sistema brasileiro de defesa sanitária?

Antonio Guilherme Machado de Castro – A avicultura é uma atividade muito importante dentro do agronegócio brasileiro. É geradora de renda, emprego e desenvolvimento socioeconômico. Basta comparar regiões com e sem produção avícola. Observe a diferença de PIB entre elas. Aqui mesmo em Descalvado e região, veja o que significou o fechamento da Cooperfrango [braço industrial e comercial avícola da Cooperguaçu, que encerrou as atividades em 2009 devido a uma crise de liquidez]. Milhares de pessoas perderam o emprego. Hoje, o Brasil éo maior exportador mundial de carne de frango, que será a proteína animal mais consumida até 2020. Centenas de países dependem da importação da carne brasileira para manter sua segurança alimentar. Na Arábia Saudita, mais de 90% da carne de frango consumida é proveniente do Brasil. Olhe a responsabilidade que temos. Um eventual problema sanitário aqui afeta em cheio uma série de países. Do ponto de vista zootécnico e sanitário, como o Brasil se tornou este player? Para mim, foi principalmente uma associação entre o setor público e o privado. Ambos têm de andar de mãos dadas, juntos na mesma direção. É o que acontece no Brasil. O País está livre de doenças como a Influenza Aviária e Newcastle exatamente por este trabalho conjunto e devido a uma legislação sanitária moderna e que acompanha a evolução do setor. O Programa Nacional de Sanidade Avícola criado em 1994 pelo Ministério da Agricultura [Pecuária e Abastecimento – Mapa] foi e é uma orientação muito importante para toda a avicultura brasileira.

AI – Especificamente em relação à Influenza Aviária, o Brasil é o único player avícola a não ter registro da enfermidade. A qual fator o senhor atribui o fato de ela nunca ter chegado ao país?

Castro – A avicultura brasileira tem na biosseguridade uma preocupação constante. Atrelado à união entre os setores público e privado e a legislação sanitária, é um dos principais fatores para a não entrada do vírus da Influenza Aviária no País. A avicultura no Brasil tem como característica manter sistemas segregados de produção para reprodutoras, frangos de corte ou ovos comerciais. Elas não se misturam. Em vários países há uma mescla, o que prejudica muito a questão sanitária. Também, estamos fora das grandes rotas migratórias de aves, as quais estão entre as principais responsáveis pela disseminação de doenças como a Influenza. O Brasil é um país continental, mas os sítios de aves migratórias estão bem distantes das áreas produtivas. Além disso, programas de monitoria e vigilância são mantidos nestes sítios, o que tem se mostrado um trabalho muito sério e eficiente de prevenção.

AI – O crescimento da população mundial e a necessidade por mais alimentos; o processo de urbanização; a globalização, que amplia o trânsito de pessoas pelo mundo; e a maior densidade animal nas unidades produtivas estão entre os fatores apontados como principais para o surgimento ou ressurgimento de enfermidades na produção animal. Em que medida este cenário põe em risco o status sanitário da avicultura brasileira?

Castro – Esta concentração e movimentação de pessoas de fato é um risco. Hoje é possível tomar café em um continente e dormir em outro. Temos agora o exemplo recente da Copa do Mundo. O Brasil está recebendo pessoas do mundo todo. O Ministério da Agricultura em parceria com os órgãos estaduais de defesa sanitária e o Vigiagro [Vigilância Agropecuária, vinculado à Secretaria de Defesa Sanitária SDA/Mapa] fez um eficiente trabalho com estes visitantes estrangeiros, intensificando a fiscalização. Pouco antes do início da Copa, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo lançou um programa de prevenção à Influenza Aviária no Estado, tendo como base os resultados de um grupo de trabalho sobre o tema. Apesar do risco, todo o setor produtivo e o governo têm trabalhado de forma árdua com foco na prevenção.

AI – No caso do produtor, ele está consciente em relação à importância de cuidar do status sanitário de seu plantel e – por consequência – da avicultura brasileira? Ele vem aplicando corretamente as medidas de biosseguridade?

Castro – A avicultura está cada vez mais profissional e consciente da importância de manter o seu status sanitário. Os produtores sabem que têm de cuidar do seu negócio; e que isto passa pela sanidade. Esta última instrução normativa [IN 10/2013] é um grande salto em termos de prevenção, com orientação para adoção de medidas como o uso de cercas, arco de desinfecção, fluxo, registro, georreferenciamento das granjas etc. Anualmente são realizados simpósios ou encontros com foco na questão sanitária. Agora mesmo em abril aconteceu o terceiro Workshop de Influenza Aviária, com a presença de pesquisadores de renome mundial. Além disso, todas as empresas avícolas possuem hoje um plano de contingência para ser aplicado imediatamente em caso de qualquer problema sanitário. Outro fator relevante – e que diferencia a avicultura brasileira – é o projeto de compartimentalização. É um projeto ímpar, já referendado pela OIE [Organização Mundial de Saúde Animal], implantado a partir de uma junção entre o setor público e as empresas avícolas.

AI – Bastos é tida – não sei se justa ou injustamente – como uma possível “porta de entrada” do vírus da Influenza Aviária no País. Como o senhor avalia este risco?

Castro – É injusta esta afirmação. Bastos é a capital do ovo no Brasil. São mais de 20 milhões de aves alojadas, sendo responsável por mais de 40% da produção nacional de ovos comerciais. A consciência da importância do status sanitário e da adoção de medidas mais rígidas de biosseguridade está cada vez mais forte junto aos produtores de ovos comerciais. Tenha como exemplo o surto de Laringotraqueíte Infecciosa ocorrido em Bastos no ano de 2002. Teve um forte impacto para os produtores da região, mas mostrou a realização de um grande trabalho de contingência, resultado da união entre produtores, governo e empresas. Um trabalho que evitou maiores consequências a todo o setor produtivo, demonstrando o alto grau de conscientização dos produtores de ovos.

AI – Qual seria então a principal “porta de entrada” do vírus no País? O senhor teria como apontar alguma principal?

Castro – É difícil responder. Veja o caso do Chile, por exemplo. O país teve registro da doença em 2002. A mãe natureza foi muito generosa com o Chile dentro do aspecto de isolamento sanitário. Tem as geleiras ao Sul e um deserto ao Norte, com as cordilheiras de um lado e o Oceano Pacífico do outro. Mesmo assim, a Influenza Aviária entrou no país; e via aves migratórias. No caso do Brasil, penso que as fronteiras secas seja um dos principais pontos de atenção. Temos uma extensão territorial enorme. Deus tem sido brasileiro e o setor produtivo tem trabalhado diariamente na prevenção e não tivemos nenhum registro da enfermidade até agora. Tenho informações de que o Ministério da Agricultura irá intensificar os programas de vigilância; é isto que deve ser feito para minimizar o risco das fronteiras: vigilância ativa e maior fiscalização.

AI – O CAPTAA realiza anualmente um grande número de análises e diagnósticos. Hoje, quais são os principais desafios em diagnóstico?

Castro – Milito há 35 anos no setor. Durante este período, posso afirmar que o diagnóstico evoluiu muito. Antigamente ele era algo tímido, posso assim dizer. Com a evolução da avicultura, o diagnóstico teve de evoluir junto para acompanhar as novas demandas da produção. Hoje trabalhamos com recursos laboratoriais que permitem um diagnóstico muito mais preciso. Embora, é necessário ressaltar, o perfil das enfermidades tem mudado um pouco. As características atuais são mais de síndromes, no qual há o envolvimento de vários agentes etiológicos. Hoje, há mais recursos de ordem molecular e também sorológica que não existiam no passado. Como o setor trabalha intensamente de forma preventiva, os programas sorológicos são uma importante ferramenta para estudo da vida sanitária de um lote. Se ele está submetido a algum desafio, se o programa de vacinação é eficiente, como será a transferência de imunidade para a progênie. Foram todos ganhos obtidos com a evolução laboratorial. Ainda acho que o setor avícola precisa utilizar mais os laboratórios. Um país como o Brasil, com a importância que tem sua avicultura, tem até poucos laboratórios para análises avícolas. Por outro lado, o Ministério da Agricultura tem exigido um padrão de qualidade cada vez maior. O nosso laboratório aqui, por exemplo, passou por um processo de certificação e atualmente todos os nossos escopos são acreditados dentro da ISO 17.025:2005, que tem a chancela do Inmetro [Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia]. Era uma exigência do Mapa para que continuássemos realizando programas de monitoria. Também nos dá respaldo frente missões sanitárias internacionais, as quais normalmente fazem visitas técnicas aqui no laboratório.

Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui.

Fonte: Avicultura Industrial.

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