Com a palavra: os médicos-veterinários

Engana-se quem pensa que o médico-veterinário é apenas o doutor de cães e gatos. Devido ao seu amplo leque de competências, este profissional está capacitado para realizar tarefas que a maioria das pessoas desconhecem. Sim, eles estão por toda parte, seja em aeroportos, na construção civil, na saúde pública e até mesmo ao lado da justiça. Em meio a mais de 40 mil profissionais registrados no Estado de São Paulo, conversamos com uma pequena parcela deles sobre suas rotinas inusitadas de trabalho e o amor a profissão.

Confira a seguir reportagem especial, em homenagem ao Dia do Médico-Veterinário, celebrado no dia 9 de setembro.

“Meu trabalho consiste em elaborar e executar o Plano de Manejo de Fauna do GRU Airport – Aeroporto Internacional de São Paulo, por meio do monitoramento e captura de animais presentes na área operacional e patrimonial do mesmo. Também sou responsável por avaliar e prestar os primeiros socorros aos animais machucados, fazer a remoção e destinação adequada, além de elaborar relatórios em respostas aos órgãos ambientais. O risco de colisão de fauna com aeronaves em pousos e decolagens é um dos maiores problemas associados a segurança das operações. Por isso, além de garantir o conforto e bem-estar dos animais capturados, nossa meta é assegurar os passageiros e funcionários que utilizam os serviços e trabalham no local. Iniciei minha carreira no Aeroporto como estagiária, em 2010. Dois anos depois, fui efetivada como coordenadora veterinária por uma prestadora de serviços, no início da concessão do Aeroporto; e em 2014, fui contratada como médica-veterinária responsável pela área. Quando me formei, apesar de conhecer o leque de possibilidades da profissão, não imaginava o tamanho da importância das atribuições do médico-veterinário na execução destes ofícios. Trabalhar no maior aeroporto do Brasil com animais silvestres é uma grande realização e paixão para mim.”

Maíra dos Santos Silva – Formada em Medicina Veterinária pela Universidade Guarulhos (UnG) / Especialista em Gerenciamento Ambiental pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP)

“Desde 2014, atuo como responsável técnico na realização de resgate de animais silvestres nas obras do Trecho Norte do Rodoanel Mário Covas, Lotes 4 e 6. Todos os animais resgatados passam por exames clínicos, e se estiverem sadios, recebem marcação adequada por meio de microchips, elastômeros e corte de escamas, e são realocados em áreas de reservas para as espécies. Realizamos atendimentos cirúrgicos quando necessário e os encaminhamos a instituições parceiras quando há a necessidade de um trabalho mais prolongado na recuperação ou até mesmo na reintrodução do animal na natureza. Este trabalho também se estende às comunidades mais próximas da região por meio de palestras em escolas sobre cuidados com a fauna, manejo e leis ambientais. Até o momento, 602 animais foram resgatados nos Lotes 4 e 6. O que mais me gratifica neste trabalho é saber que eu posso fazer algo para minimizar as perdas de animais que sofrem por conta dos avanços da humanidade. O prazer de cuidar, de realocá-los nas reservas e oferecer uma nova chance de vida é muito gratificante.”

Alexandre Hellmeister – Formado em Medicina Veterinária pela Faculdade Metropolitanas Unidas (FMU)

“Obras como a do Trecho Norte do Rodoanel Mário Covas, Lote 1, são fundamentais para o desenvolvimento urbano e para a malha viária brasileira. Dentro do setor de meio ambiente deste tipo de construção está o trabalho do médico-veterinário, responsável pelo resgate dos animais, monitoramento de grupos de primatas e possíveis ninhos e a preservação das espécies. Vale ressaltar que nosso trabalho visa também a segurança dos colaboradores, pois a obra se desenvolve ao lado de uma Área de Preservação Permanente (APP), e por vezes, há a presença de serpentes peçonhentas, insetos venenosos, abelhas e vespas. Sempre me interessei pela área de animais silvestres. Durante a faculdade, fiz estágio em clínicas de grandes animais e em zoológicos. Somente quando ingressei no mercado de trabalho é que tive a oportunidade de conhecer a dimensão das possibilidades de atuação do médico-veterinário. Hoje, estar em campo, ter contato com a natureza e trabalhar com animais de vida livre é apaixonante. A classe profissional precisa se unir para mostrar a sociedade a importância do médico-veterinário para a saúde pública, e do quanto nosso trabalho está intimamente relacionado à qualidade de vida das pessoas.”

Marcel Ricardo Muzeti – Formado em Medicina Veterinária pela Faculdade Metropolitanas Unidas (FMU) / Especialista em Clínica Médica e Cirurgia de Animais Silvestres pela Quallitas

“Todo professor universitário é um orientador, um treinador, contudo, voltado a temas científicos. Faço isto há quase 30 anos. Nos últimos dez anos, porém, me lancei na área de coach para fins empresariais, voltado a carreira executiva. Muitos ex-alunos me procuravam pedindo orientações e conselhos sobre carreira e essa foi uma das razões que me levaram a buscar habilidades para desenvolver este trabalho. Parece fácil, mas as pessoas têm dificuldades para organizar o tempo, a agenda e a vida familiar com o trabalho. No caso de médicos-veterinários, o que mais os levam a procurar por sessões de coaching é a dor de não ter conquistado o que eles creem que mereciam. Olham para suas vidas, suas realizações, mas falta algo. Olham para seus filhos, família e colaboradores, e sabem que poderiam oferecer mais. O mais gratificante em ser coach é ver a transformação das pessoas. Algumas delas sentem tamanha dor que procuram ajuda mesmo contrariadas, e provam que é possível vencer suas maiores armaduras. Já recebi mensagens de colegas que realizam o sonho de viver na Europa; que subiram ao pódium; que perderam o medo de dirigir depois de anos; que se reconciliaram com familiares; que compraram a própria empresa. Este tipo de reconhecimento não tem preço.”

Marco Antônio Gioso – Formado em Medicina Veterinária e Odontologia pela Universidade de São Paulo (USP) / Mestre em Clínica Veterinária pela USP / Doutor em Cirurgia pela USP / MBA em Marketing pela Fundação Instituto de Administração (FIA)

“O médico-veterinário que atua em biotérios é responsável por garantir o bem-estar animal, a execução dos procedimentos éticos e a padronização dos processos a fim de que os resultados experimentais sejam reprodutivos e confiáveis. O Centro de Experimentação e Treinamento em Cirurgia do Hospital Israelita Albert Einstein segue os padrões internacionais da Association for Assessment and Accreditation of Laboratory Animal Care (AAALAC) e conduz todos os estudos respeitando os conceitos dos 3Rs (Replace, Reduce e Refine). Como coordenadora do setor, além de fazer a gestão administrativa e de recursos humanos do biotério, acompanho todos os trabalhos, que vão desde anestesia de animais de pequeno e médio porte, até avaliação de comportamento, diagnóstico e investigação em diversas áreas médicas. Quando me formei, não imaginava que atuaria neste segmento. Sempre busquei novos desafios na carreira e cada dia me surpreendo com as oportunidades que surgem ao médico-veterinário. Gosto muito do que faço porque sei que estou cuidando dos animais para um objetivo maior, para o benefício da saúde humana e animal no futuro.”

Luciana Cintra – Formada em Medicina Veterinária pela Faculdade Metropolitanas Unidas (FMU) / Especialista em Patologia Clínica Veterinária pela Faculdade de Medicina Veterinária da USP / Mestre em Patologia Experimental e Comparada pela Faculdade de Medicina Veterinária da USP

“Estou engajada com a área de Medicina Veterinária Legal desde a minha formação, quando era procurada para examinar animais que sofriam agressões. Hoje, minha responsabilidade como Assistente Técnica e Perita Judicial é a de assessorar o juiz nas questões que envolvam erro médico-veterinário e cobrança indevida de prestações de serviços. Devido ao avanço tecnológico e maior conhecimento em relação a legislação, a população tornou-se mais exigente de seus direitos. Isso faz com que ela procure a justiça com mais frequência em busca de uma compensação financeira pelas perdas econômicas em um tratamento mal sucedido de seu companheiro de estimação, ou mesmo em resposta ao sofrimento causado pela morte do animal. A importância deste ofício está em estabelecer o que se considera justo, seja para o tutor do animal, seja para o médico-veterinário que prestou o atendimento. O que mais me agrada neste trabalho é quando um juiz aceita meu laudo na íntegra e aplica a justiça, pois sei que estou contribuindo para um mundo melhor e mais igualitário.”,/p>

Mara Massad – Formada em Medicina Veterinária e Zootecnia pela Faculdade de Medicina Veterinária da USP / Especialista em Medicina Veterinária Legal pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Educação Continuada (INBRAPEC) / Mestre em Patologia Experimental pela USP / Presidente da Comissão de Medicina Veterinária Legal do CRMV-SP

“As ações coordenadas pelo médico-veterinário no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) têm como foco a saúde humana. Lembro-me de uma situação em que foi encontrado um morcego positivo para a raiva em uma residência. Desenvolvemos diversas ações sobre os hábitos de vida do animal e medidas de prevenção junto aos Agentes de Comunitários de Saúde (ACSs), que são os profissionais mais próximos da população. Com este trabalho de conscientização, constatamos aumento do recebimento de morcegos pela Vigilância Epidemiológica. Outro trabalho que recordo com carinho é o Projeto Agente Mirim Contra a Dengue, realizado em 2015. Criamos um livreto com jogos e informações, um adesivo, um crachá e uma sacolinha com materiais a serem entregues em escolas de ensino infantil e fundamental, públicas e particulares. Realizamos apresentações de teatro e vídeos e as crianças foram convidadas a serem ‘agentes mirins’. Elas levaram o trabalho tão a sério que mesmo após o término das atividades, continuaram empenhadas na campanha. O médico-veterinário do NASF deve saber lidar com pessoas, ser dinâmico e gostar de desafios.”

Eukira Monzani – Formada em Medicina Veterinária pela Universidade Camilo Castelo Branco / Especialista em Reprodução e Produção de Bovinos pela Qualitativa / Mestre em Produção Animal pela Universidade Camilo Castelo Branco / Integrante do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) de Descalvado, SP

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