Devastação de florestas ameaça Micos-leões

Também conhecidas como micos, espécies de Saguis correm riscos de desaparecer em decorrência do tráfico de animais

No Dia Mundial dos Animais, celebrado em 4 de outubro, apesar dos trabalhos focados na conservação de espécies realizados por instituições brasileiras, o País pode não ter muito a comemorar. No que diz respeito aos Micos-leões, por exemplo, a ameaça de extinção é grave. Outros primatas chamados de mico, como é o caso de Saguis, também estão sob risco.

No Brasil há quatro variedades de Micos-leões: Mico-leão-dourado, Mico-leão-da-cara-dourada, Mico-leão-preto e Mico-leão-da-cara-preta. “Para esses, a maior ameaça é a devastação de seu habitat, a Mata Atlântica, desde Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, até o litoral do Paraná”, comenta o presidente da Comissão de Médicos-veterinários de Animais Selvagens do CRMV-SP, Dr. Marcello Schiavo Nardi.

Segundo a presidente da Associação Paulista de Zoológicos e Aquários (Apaza), a bióloga Mara Cristina Marques, a devastação provoca outros agravantes além da perda de habitat. “Há ainda a fragmentação da vegetação, quando pontos que não foram devastados ficam separados por áreas que já sofreram devastação. Com isso, ocorre a interrupção do curso natural de deslocamento dos animais”, diz.

Mara aponta como resultado desta situação não só a redução do número de indivíduos, mas também a perda da variabilidade genética, uma vez que os animais passam a se reproduzir apenas em pequenos grupos. “É o que chamamos de depressão genética, que aumenta o risco de deformidades nos animais.”

População de Micos-leões

Para se ter uma ideia, de acordo com dados publicados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), a população total de Micos-leões-dourados remanescentes é estimada em 1,6 mil indivíduos e, dentre eles, os exemplares maduros, ou seja, em idade reprodutiva, são cerca de apenas 500. Por isso, a espécie é a homenageada deste ano pela Sociedade Brasileira de Zoológicos e Aquários com a campanha de conscientização “#QuantoMaisMicoMelhor”.

No caso dos Micos-leões-da-cara-dourada, a população total remanescente estimada é de 6 a 15 mil indivíduos, dos quais aproximadamente 2,5 mil estariam em idade reprodutiva.

Para os Micos-leões-pretos, esse número seria de 1,4 mil animais, sendo somente 380 em idade reprodutiva. Já no que se refere aos Micos-leões-da-cara-preta, a última estimativa de tamanho populacional estimou apenas 392 indivíduos, sendo 160 indivíduos maduros reprodutivos.

Vale ressaltar que os números veiculados no portal ICMBio foram coletados de pesquisadores e o mais recente data de 2011.

Desequilíbrio

A presidente da Apaza, Mara Cristina Marques, menciona também os desequilíbrios causados pela redução ou desaparecimento de micos-leões na natureza. “Eles fazem parte de uma cadeia da natureza dispersando sementes, o que é fundamental para manter a flora. Além disso, ainda contribuem regulando a população de alguns tipos de insetos dos quais eles se alimentam.”

Conservação

Diante do quadro, Mara destaca a indispensabilidade de trabalhos de conservação das espécies. Ela conta que, nesse sentido, em meados dos 1980, houve a criação de um Comitê Internacional, do qual o Brasil participou e que permitiu que Micos-leões-dourados fossem levados para reprodução nos Estados Unidos e depois reintroduzidos à flora brasileira, o que teria contribuído para que a população que era de cerca de 200 indivíduos, aumentasse no Brasil. Hoje as medidas são regidas pelo Plano de Ação Nacional de Mamíferos da Mata Atlântica (ICMBio).

“Nesse contexto as unidades de conservação têm papel fundamental para que espécies não desapareçam”, diz Mara, que lista, entre os trabalhos desses locais, o de reintrodução (em caso de animais já extintos da natureza), o de supor genético (para o fortalecimento da variabilidade genética) e o de suporte demográfico (para impedir que entrem em extinção).

Vítimas do tráfico de animais

Dentre as mais de 40 espécies de saguis, que também são conhecidos como micos e endêmicas da Mata Atlântica, pelo menos três correm risco de extinção: Sagui-da-serra, Sagui-da-serra-escuro (Aurita) e Kuhlii.

“No caso dos saguis, a ameaça é em decorrência do tráfico, que retira os animais da natureza para venda dos exemplares como pets”, comenta o presidente da Comissão de Médicos-veterinários de Animais Selvagens do CRMV-SP, Dr. Marcello Schiavo Nardi.

É preciso destacar que essas espécies, por estarem sob ameaça de extinção, têm a venda proibida. As que podem ser compradas são outras variedades de saguis, as quais devem ser adquiridas por meio de criadores, ou seja, de forma legal, com registro junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), ligado ao MMA.

Hibridação

Outro grande prejuízo às espécies de saguis é a hibridação genética, quando variedades diferentes reproduzem entre si e perdem suas características originais.

Conforme explica o Dr. Nardi, que, além de presidente da Comissão Técnica de Médicos-veterinários de Animais Selvagens do CRMV-SP, atua na Divisão Técnica de Medicina Veterinária e Manejo da Fauna Silvestre (Depave-3) da Prefeitura de São Paulo, isso também é resultado do tráfico e da falta de informação e conscientização da população, que além de adquirir os animais por meios criminosos, encontra inúmeras dificuldades para criar os animais silvestres e acaba abandonando (o que configura crime, de acordo com a Lei n.º 9.605/1998 – Lei de Crimes Ambientais) exemplares de espécies diferentes em áreas verdes da cidade, onde eles passam a se reproduzir.

“Podemos perder algumas espécies em médio prazo se isso continuar acontecendo”, frisa o presidente da Comissão, que destaca, ainda, que pesquisas têm identificado genes das espécies ameaçadas de extinção nesses indivíduos híbridos.

O tráfico e as zoonoses

Mais um problema causado pelo tráfico de animais é a disseminação de doenças transmitidas de animais para seres humanos, as zoonoses. No caso dos primatas, pode haver contágio de tuberculose, febre amarela, raiva, hepatites e de uma variedade do herpes vírus letal para seres humanos.

E esse alerta vai não só para esclarecer que não se deve alimentar o comércio criminoso de animais, mas também para que os proprietários de silvestres legalizados busquem sempre o acompanhamento de um médico-veterinário para o animal.

Texto: Assessoria de Comunicação CRMV-SP.

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