O segundo semestre de 2021 foi marcado pelo registro dos primeiros focos da Peste Suína Africana no continente americano, fato que não ocorria desde a década de 1980. A confirmação de casos na República Dominicana e Haiti no mês de julho, provocou um ‘estado de atenção’ entre as autoridades sanitárias.
A volta da Peste Suína Africana à região mobilizou 34 países, que se uniram por meio da Conferência de Ministros de Agricultura das Américas, realizada em San José, na Costa Rica, cuja presidente eleita foi a representante brasileira Tereza Cristina, ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Os membros do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) determinaram a realização de ações conjuntas com a colaboração de organizações internacionais ligadas à produção de alimentos e à saúde animal. A partir da definição dos trabalhos, o grupo estabeleceu como principal objetivo erradicar os surtos, conter a propagação do vírus e recuperar a condição de Continente Livre da Peste Suína Africana.
O médico-veterinário Fábio Alexandre Paarmann, integrante da Comissão de Saúde Animal do CRMV-SP e auditor fiscal federal agropecuário do Mapa, afirma que é preciso conhecer os detalhes da doença para que a prevenção e combate sejam efetivos.
Paarmann destaca que o primeiro passo é compreender que, do ponto de vista clínico, a Peste Suína Clássica (PSC) e a Peste Suína Africana (PSA) são similares, porém, causadas por vírus diferentes. “A PSC é causada por Pestivirus da família Flaviviridae enquanto a PSA é causada por Asfavirus da família Asfaviridae”, explica.
Prevenção
O integrante da Comissão de Saúde Animal do CRMV-SP afirma que período de incubação da PSA varia de quatro a 19 dias e que, atualmente, apenas o Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de Pedro Leopoldo (LFDA-MG) faz o diagnóstico da doença.
Sobre as medidas preventivas, Paarmann ressalta o comprometimento do governo e entidades privadas na busca por iniciativas de pesquisa e detecção da doença que possam trazer segurança à cadeia produtiva. “Esse trabalho envolve esforços contínuos de todos os envolvidos”, frisa.
Riscos
O médico-veterinário esclarece que a primeira medida é confirmar a virulência da estirpe do vírus presente nos animais infectados. Dependendo do diagnóstico, a fatalidade pode ser de até 100% do rebanho de suídeos domésticos e selvagens, como porcos, javalis e javalis africanos. “Não existe tratamento para PSA e há notícia de uma vacina recentemente lançada nos EUA, ainda sem confirmação sobre o seu uso em larga escala.”
Paarmann pondera que, apesar da doença não representar risco a saúde humana, os prejuízos econômicos para os produtores são incalculáveis. Por isso, reforça que as autoridades sanitárias e profissionais envolvidos no setor devem compreender a importância do controle rigoroso sobre o trânsito internacional de produtos de suínos, orientação a produtores, viajantes e caçadores, além das medidas de manejo com restrição de acesso de pessoas ao ambiente de criação dos animais.
Biosseguridade
Para a zootecnista Sullivan Alves, diretora técnica da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e ex-conselheira do CRMV-SP, a prevenção precisa apoiar-se em campanhas de comunicação e educação direcionada a todos que integram a cadeia produtiva e a população. “Apesar de não trazer riscos aos consumidores, é preciso manter a transparência sobre o controle de qualidade que garante a excelência do produto brasileiro.”
O impacto econômico gerado por um surto como a PSA, segundo a zootecnista, justifica a ação de órgãos públicos e privados que estão atentos ao avanço da doença desde a sua notificação da China no início de 2019. “Por isso, a ABPA classifica a biosseguridade como fator primordial para evitar a entrada da doença nas propriedades rurais, além do controle em portos, aeroportos e fronteiras por meio de fiscalização que impeça o transporte de alimentos e resíduos orgânicos provenientes do exterior”, afirma a zootecnista.
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Assista ao vídeo da campanha da ABPA: Brasil Livre de PSA