Em latões de lixo, terrenos baldios, caixas de papelão, sob viadutos ou perdidos pelas ruas, não é raro ver ninhadas de gatos e cachorros abandonadas. Com frio, fome e sem os primeiros cuidados maternais, boa parte desses animais morre.
Contudo, a exemplo do que ocorre com os seres humanos, o reino animal também a adoção como uma de suas peculiaridades. Segundo especialistas, o instinto materno permite que animais de estimação e até selvagens cuidem de crias órfãs.
A médica veterinária Ana Lúcia Geraldi explica que o fenômeno é mesmo parte do instinto materno. “Muitas fêmeas têm esse instinto super apurado e acabam produzindo leite”. Mas segundo ela, para aceitar a cria de outra fêmea, a ama de leite precisa ser bastante dócil. “Algumas são verdadeiras mãezonas. Outras não aceitam a adoção com facilidade”.
Quando há recusa, ela vem sempre da mãe adotiva e nunca dos filhotes, que se adaptam com facilidade. Embora a intervenção e a crueldade humana sejam as maiores responsáveis pela separação da fêmea e seus filhotes, alguns fatores naturais contribuem para que a mãe rejeite sua prole.
De acordo com Ana Lúcia, a imaturidade do animal, o estresse e até mesmo uma depressão pós-parto são circunstâncias que fazem com que a fêmea abandone a cria. “Um parto cesariano ou o contato de uma pessoa com os filhotes que interfira no cheiro natural da cria podem ocasionar o abandono”, explica.
Adoção entre espécies diferentes pode causar estresse psicológico
Embora não sejam tão comuns, também existem relatos sobre animais que adotam filhotes de espécie diferente. Comandados Apesar de inusitados, esses fatos não são tão benéficos quanto parecem.
Embora a proteção e os cuidados da mãe “estranha” ajudem o filhote a sobreviver, por terem características, necessidades e hábitos diferentes, ambos podem ter problemas e confusão comportamental ao notar as diferenças presentes. “O que pode acontecer é um estresse psicológico tanto na mãe adotiva quanto no filhote. Isso acontece quando eles passam a agir conforme os instintos pertinentes a suas espécies”, afirma o biólogo e diretor do Zoológico de Bauru, Luiz Pires.
Portanto, a história do “Patinho Feio”, que fica triste ao perceber as diferenças físicas e comportamentais existentes entre ele e sua família adotiva, também pode facilmente acontecer na vida real.
Sem ama de leite, dedicação humana é fundamental à sobrevivência de filhotes
Nem sempre é possível encontrar ama de leite para uma ninhada que ficou sem a mãe. Nesses casos, para que os bebês sobrevivam é preciso, além de carinho, dedicação e paciência dos donos para amamentar os filhotes com mamadeiras ou até mesmo com conta-gotas.
O leite de vaca não é indicado como alimento para os animais de estimação. Além de não suprir a necessidade nutricional dos cães e gatos, o produto ainda pode causar diarreia. Casas de rações, pet shops e clínicas veterinárias disponibilizam algumas marcas de leite específicas para os filhotes. Porém, há receitas caseiras igualmente eficientes.
Mesmo com todo o zelo dispensado, nem sempre os filhotes sobrevivem apenas com cuidados humanos. Normalmente, os que não resistem são os que nascem muito fracos e aqueles cujos donos não têm tempo ou paciência para dar o leite várias vezes ao dia.
“Por isso, a ama de leite funciona. Além de amamentar, ela limpa, aquece e estimula a micção e defecação nos filhotes”, diz Ana Lúcia.
Fêmeas que perdem seus filhotes após o parto podem ter mastite (inflamação das glândulas mamárias) e precisam de medicamentos específicos indicados por um médico veterinário para secar o leite.
Alguns fitoterápicos, como os florais, também são indicados em casos de depressão pós-parto da mãe que perde ou é separada de sua cria.
Fonte: Jornal da cidade de Bauru (acessado em 14/03/11)