Nos primeiros três meses deste ano, ao menos 2.725 pessoas sofreram ataques de animais peçonhentos no Estado de São Paulo. Apesar de esse número representar uma queda de 38% em relação ao mesmo período de 2009, na comparação ano a ano, esses incidentes continuam aumentando.
De acordo com o Centro de Vigilância Epidemiológica, da Secretaria da Saúde, a maior parte dos acidentes ocorre por escorpiões. No ano passado, foram registrados 5.547 casos, um valor 2,3 vezes maior que o de 2000, quando ocorreram 2.379 casos. Quanto às aranhas, o crescimento foi de quase três vezes, já que em 2009 foram registrados 3.264 casos, ante 1.144 do ano 2000. Já os acidentes por serpentes se mantiveram estáveis nos últimos 25 anos em São Paulo, com uma média de 1.860 acidentes por ano.
Ao contrário do que as pessoas imaginam, é nas cidades que acontecem mais casos. As regiões mais afetadas são as periferias das cidades, onde o crescimento urbano gera lixo e entulho que, por sua vez, atraem esse tipo de animal.
Os animais peçonhentos possuem um mecanismo de inoculação, a peçanha, que é utilizada como arma de caça ou de defesa. São exemplos de animais peçonhentos aranhas, cobras, escorpiões, abelhas e lagartas.
Para Francisco Oscar de Siqueira França, médico do Hospital Vital Brazil, no caso das aranhas, o aumento dos números não significa um crescimento dos acidentes. Já no caso dos escorpiões, existe um aumento real de ocorrências, agravado pela expansão urbana. No Brasil, acontecem anualmente 38 mil acidentes por escorpião.
“Com as aranhas, o que talvez esteja acontecendo é que os médicos estão notificando mais casos, além de as pessoas procurarem mais o atendimento. Acreditamos que agora estamos chegando a um patamar próximo ao número real. Já os acidentes com escorpiões estão crescendo por causa migração das pessoas para as cidades”, explica França.
Segundo o biólogo e diretor do Museu Biológico do Instituto Butantan, Giuseppe Puorto, nas cidades, os escorpiões se alimentam de baratas, por isso são atraídos por locais onde há coleta irregular de dejetos, como próximo a lixões e entulhos.
“Os escorpiões procuram locais onde encontram abrigo e alimento, mas não apenas em terrenos baldios e perto de lixões. Dentro de casa, eles são atraídos para espaços onde os moradores guardam suas quinquilharias. Essas condições favorecem o encontro do homem com o animal, ocasionando os acidentes”, afirma Puorto.
Apesar do aumento de acidentes, o número de óbitos não cresceu, pois o poder de morte desses animais é muito baixo.
Cobras atacam no campo
Diferente dos acidentes com aranhas e escorpiões, as picadas por cobras são mais comuns nas zonas rurais, atingindo principalmente os trabalhadores do campo.
A diretora técnica da divisão de Zoonoses da Secretária Estadual da Saúde, Melissa Mascheretti, ressalta que as cobras não são agressivas e que somente atacam quando se sentem ameaçadas.
Nas cidades, elas também são encontradas. Só na Grande São Paulo, ocorrem cerca de 300 acidentes por ano, principalmente em regiões próximas a matas, como na represa Guarapiranga, serra da Cantareira e Pico do Jaraguá.
Para todos os acidentes com animais peçonhentos, o mais indicado é lavar o local com água e sabão e procurar um serviço de saúde. Nunca se deve amarrar o local ou sugar o veneno.
Queda de acidentes em 2010
De acordo com Mascheretti, não existe um motivo claro para a redução de ataques desses animais entre janeiro e março deste ano, mas ela diz que as mudanças ambientais e climáticas devem ter contribuído.
“O aumento da chuva reduz os acidentes, pois os animais não saem de seus abrigos. Outra razão podem ser as ações de controle, como o manejo de animais”, afirma ela.
Fonte: R7 (acessado em 20/04/10)