Já se foi o tempo de dar restos de comida, brinquedos velhos e matinho para os animais de estimação. Atualmente, os donos fazem de tudo para o seus “melhores amigos”, que recebem tratamento igual a qualquer familiar e, muitas vezes, fazem o papel de recém-nascidos para casais e de companheiros para idosos ou pessoas que vivem só.
Quem ganhou com essa tendência foram os milhares de gatos, cachorros, tartarugas, coelhos e papagaios, entre outros bichos, que são paparicados por seus donos. Comendo do melhor e vivendo vidas de reis, eles são levados para veterinários especialistas em diversas doenças quando necessário. Frequentam ainda o crescente mercado de pet shops, que faturou R$ 6,5 bilhões em 2009. Atualmente, existem cerca de 33 milhões de cães e 17 milhões de gatos no País.
“Essa é uma tendência. As pessoas passaram a morar sozinhas ou dar mais conforto para os animais e, inclusive, procuram mais tratamentos”, diz Tânia Parra, professora do curso de Veterinária da Universidade Metodista de São Paulo.
No Brasil, há aproximadamente 45 mil pet shops. Apenas no Estado de São Paulo, são cerca de 13,5 mil lojas. Não existe levantamento do número de estabelecimentos no Grande ABC, segundo informou a Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos para Animais de Estimação (Anfalpet). Mas em relação a tratamentos médicos e ao mercado de acessórios para os novos integrantes das famílias, a região não fica atrás da Capital.
O casal de químicos Fabíola, 28 anos, e Joelson da Silva, 33, cuida há quatro anos de Meg, uma cadela lhasa apso, como se fosse a primeira filha, apesar da gravidez de sete meses da mãe. Mesmo após dias exaustivos de trabalho, ambos foram levar a cachorrinha para o banho e tosa e saíram do pet shop em São Bernardo às 22h na quinta-feira. “Uma vez por mês a gente traz ela aqui. Ela sempre ganha um presentinho”, conta Fabíola.
A veterinária Roberta Pinesi Campanella, 32, não para de trabalhar. Sua agenda sempre está lotada de donos de cachorros em busca de seus conhecimentos. Ela é fisioterapeuta e acupunturista de cães há quatro anos. Nos últimos dois meses, o vira-latas King, em São Caetano, recebe a profissional em casa para sessões para voltar a andar. “Ele passou por cirurgia complicada na coluna. Logo mais vai voltar a andar”, explica Roberta.
Os tratamentos médicos também avançam no mundo dos animais. Os exames estão cada vez mais parecidos com os destinados aos humanos e com resultados também eficazes. Existem nas clínicas e hospitais veterinários aparelhos de tomografia computadorizada, ultrassonografia e as mais diversas análises de sangue, urina e fezes para descobrir causas dos problemas de saúde dos bichos.
Os medicamentos também estão no mesmo caminho, mas alguns animais tomam, principalmente cães e gatos, as mesmas drogas para epilepsia e quimioterapia que são dadas às pessoas.
“Para determinadas enfermidades, usamos remédios comuns. Por exemplo, em casos terminais, é usada morfina. Em outros tratamentos, fazemos o uso de quimioterápicos”, explica Enrico Lippi Ortolane, vice-diretor do curso de Veterinária da USP (Universidade de São Paulo).
É o caso do poodle mini toy Mike, 10 anos. Há três, ele precisa ser medicado logo cedo com 18 gotas do medicamento Gardenal, para controlar suas crises de convulsão. Dona do cachorro, a professora Vasti Osorio Neves, 64, de Diadema, é quem lhe dá diariamente o remédio na boca com uma colher.
“Quando ele teve convulsão pela primeira vez, nem sabia que cachorro tinha essas doenças. Jamais imaginaria que o Mike tomaria Gardenal. Basta cortar a medicação por uns dias que volta (o sintoma)”, conta.
Fonte: Diário do Grande ABC (acessado em 24/05/10)