Caramujos africanos podem virar etanol de segunda geração

Em Feira de Santana, na Bahia, eles se transformaram no pesadelo dos produtores rurais. No Oeste de São Paulo, viraram peste de lavoura e até de ruas, e em Minas Gerais, tornaram-se pragas da pior espécie para diversas culturas. Os caramujos africanos invadiram quase todas as áreas agrícolas brasileiras, em todas as regiões, e transformaram-se em uma verdadeira enxaqueca para o agronegócio. Antes de ser um mal para a saúde pública, esses moluscos possuem grande poder de provocar desequilíbrio ecológico.

Mas agora, pesquisadores concluíram que essa praga rastejante pode ser benéfica e ter grande utilidade como coadjuvante na produção de etanol de segunda geração, como é chamado o álcool obtido a partir de celulose.

Os estudos com o caramujo africano foram concluídos recentemente pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) e apontam que o aparelho digestivo do bicho, que é um devorador voraz de plantas (esse é exatamente o estrago que ele faz nas lavouras e, consequentemente, para o meio ambiente), tem enzimas, bactérias e fungos capazes de quebrar moléculas de celulose, resultando na produção de açúcares. Segundo os pesquisadores, várias outras pragas devoradoras de vegetais foram estudadas, mas só o caramujo africano apresentou esta capacidade.

O processo de transformação de plantas em açúcares dentro do organismo do caramujo seria semelhante ao processo realizado na usina. Depois de ingerir o alimento, as bactérias e os fungos que vivem no seu intestino agem conjuntamente com as enzimas e transformam a celulose, rica em lignina, em açúcares. O trato digestivo desses animais (biomassa de molusco) seria comparado ao bagaço que sobra nas usinas, mas com qualidade superior ao fungo Trichoderma reesei (organismo atualmente utilizado para fermentar a celulose do bagaço no processo convencional). De acordo com o Inmetro, a biomassa do caramujo poderia passar pelo processo convencional de fermentação para ser transformada em etanol de segunda geração.

Mas as pesquisas e o uso comercial dos caramujos ainda podem estar longe de serem efetivados. De acordo com o pesquisador Wanderley de Souza, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ainda seria necessário encontrar um meio de isolar esses fungos, bactérias e enzimas e fazê-los crescer fora do organismo do caramujo. Segundo Souza, se essa alternativa for logo encontrada e tornar-se economicamente viável, seria possível dobrar a quantidade de etanol de segunda geração produzida no Brasil em um prazo de dois anos, com a mesma área plantada.

Por ser um processo moroso, as usinas queimam o bagaço que sobra da moagem da cana para gerar bioeletricidade e alimentar as instalações internas e exportar o excedente para as redes públicas, através de leilões.

A fabricação do etanol de segunda geração ainda é um gargalo para o setor, já que transformar o bagaço em monossacarídeo é difícil e exige grandes quantidades de tratamentos enzimáticos e ácidos. “A lignina presente nas paredes celulósicas da biomassa é quebrada com dificuldade, o que não aconteceu no intestino do caramujo”, explica Souza.

Agora, o Inmetro vai dar continuidade aos testes no Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Migues de Mello, o Cenpes, órgão da Petrobras. Isso inclui gerar um fungo modificado geneticamente para acelerar o crescimento das enzimas do intestino dos caramujos fora do organismo deles.

Fonte: Globo Rural (acessado em 08/07/2011)

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