A confirmação de um caso de raiva em um felino na Vila Arens, o primeiro registrado em Jundiaí desde 1983, acendeu um novo alerta entre as autoridades sanitárias e reforçou a importância da vacinação anual de cães e gatos. O caso ocorre em um ano em que o município já identificou seis morcegos infectados pelo vírus, todos encontrados em áreas residenciais após acionamento imediato de moradores. Embora os registros representem queda em relação a 2024 (10 casos) e 2023 (17), a Vigilância em Saúde Ambiental (Visam) ressalta que a circulação viral permanece ativa e requer atenção contínua.
O gato contaminado apresentou sinais neurológicos compatíveis com a doença logo após ser recolhido por um morador. A clínica veterinária responsável notificou o caso, permitindo que a Visam e a Vigilância Epidemiológica iniciassem rapidamente a investigação, a busca ativa de pessoas potencialmente expostas e o bloqueio vacinal na região. A Prefeitura instalou postos avançados de vacinação nos dias 13, 14 e 15 de novembro e, a partir do dia 25, iniciou a imunização casa a casa para ampliar a cobertura entre cães e gatos da área afetada.
Para o médico-veterinário e integrante da Comissão Técnica de Animais de Companhia do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), Rodrigo Prazeres, o episódio evidencia que a raiva segue sendo uma ameaça real, mesmo após décadas sem registros em animais domésticos. “O caso mostra que o vírus continua circulando no Estado, especialmente por variantes silvestres associadas a morcegos, mesmo em regiões que passaram longos períodos sem ocorrências. A ausência prolongada de casos não significa eliminação do risco e reforça a necessidade permanente de vigilância e da manutenção rigorosa da cobertura vacinal”, afirma.
Prevenção, sinais clínicos e condutas seguras
A raiva permanece como uma das zoonoses mais graves no Brasil, praticamente 100% fatal após o início dos sintomas, mas totalmente evitável por meio da vacinação. Segundo Rodrigo Prazeres, especializado em Clínica de Pequenos Animais e Medicina Felina, os principais sinais de alerta em cães e gatos incluem mudanças repentinas de comportamento, agressividade inesperada, hipersensibilidade, dificuldade de deglutição, salivação excessiva, incoordenação motora e convulsões.
Diante de qualquer suspeita, o responsável deve interromper o contato direto com o animal e buscar atendimento médico-veterinário imediato, informando sobre possíveis interações com morcegos ou outros animais. O profissional, por sua vez, deve isolar o paciente, utilizar Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), notificar o caso e seguir rigorosamente os protocolos de vigilância.
No manejo de morcegos, a Visam de Jundiaí reforça a adoção de condutas seguras. Animais encontrados caídos, voando durante o dia ou apresentando comportamento atípico devem ter o ambiente isolado e ser imobilizados com um anteparo, como um balde ou caixa, sem contato direto. As autoridades sanitárias devem ser acionadas imediatamente. A orientação visa tanto à segurança da população quanto à proteção ambiental, já que os morcegos são animais legalmente protegidos e desempenham papel essencial no equilíbrio ecológico, contribuindo para o controle de insetos, a polinização e a dispersão de sementes.
Vacinação como principal barreira sanitária
A vacina antirrábica continua sendo a ferramenta mais eficaz para prevenir casos e surtos de raiva. Para o médico-veterinário Rodrigo Prazeres, manter uma cobertura vacinal elevada é indispensável. “A imunização anual cria uma barreira sanitária que impede a transmissão para cães, gatos e seres humanos. Mesmo pequenas quedas na cobertura aumentam significativamente a vulnerabilidade coletiva. Por ser segura, eficaz e acessível, a vacinação permanece fundamental para interromper a cadeia de transmissão”, explica.
Além da imunização de cães e gatos, Rodrigo Prazeres reforça que profissionais expostos ao risco devem manter seu esquema vacinal atualizado. “Por lidarem rotineiramente com situações de potencial contato com o vírus, precisam seguir a profilaxia pré-exposição recomendada, que inclui a vacinação inicial e a realização periódica de sorologia conforme o nível de risco da atividade”, orienta.
Os casos recentes mostram que, apesar da redução na detecção de morcegos positivos, o vírus ainda circula no território. A continuidade da vigilância, o reforço das medidas preventivas e a adesão à vacinação, tanto de animais quanto de profissionais, seguem essenciais para proteger a saúde pública, os animais domésticos e a fauna local.
Posto fixo de vacinação
A Vigilância em Saúde Ambiental (Visam) informa que Jundiaí segue as diretrizes válidas para todos os municípios paulistas, conforme orientação do Governo do Estado de São Paulo, que determinou a suspensão das campanhas anuais de vacinação antirrábica. Entretanto, o município mantém a vacinação de cães e gatos realizada diariamente em posto fixo, mediante agendamento prévio pelos responsáveis interessados, além das ações permanentes previstas no Programa Municipal de Prevenção da Raiva.
O posto permanente de vacinação antirrábica de Jundiaí funciona na sede da Visam, localizada na Rua dos Bandeirantes, nº 375, Vila Municipal. O atendimento ocorre de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Tutores de cães e gatos com, no mínimo, três meses de idade podem agendar a aplicação da dose pelos (11) 4589-6340 / 6350.