CCZ identifica 114 gatos com esporotricose em São Paulo (SP)

A esporotricose é uma zoonose causada por diferentes espécies do gênero Sporothrix encontrado, principalmente, em países tropicais e subtropicais, que acomete o ser humano e várias espécies de animais domésticos e silvestres. O papel do felino na transmissão da micose passou a ter importância a partir de um relato de surto envolvendo cinco pessoas expostas a um gato com esporotricose, nos anos 1980, com destaque especial à transmissão para veterinários, tratadores de animais e aos seus responsáveis, em diferentes áreas geográficas do Brasil.

A médica-veterinária e gerente do Centro de Controle de Zoonoses, Elisabete Aparecida da Silva, ministrou uma palestra durante a Semana Acadêmica Veterinária (Sacavet), da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP, São Paulo/SP), onde passou uma atualização sobre a situação de esporotricose na cidade de São Paulo (SP).

A apresentação teve como base o Boletim Epidemiológico Paulista (BEPA), publicação mensal da Coordenadoria de Controle de Doenças, instância da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, que veicula artigos relacionados à saúde coletiva. De acordo com o material, há relatos de casos eventuais no Estado, sendo que no período de 1956 a 2001 foram identificados 51 relatos em gatos e 15 em pacientes humanos. No município de São Paulo há relato de 25 gatos com esporotricose atendidos no Hospital Veterinário FMVZ-USP, no período de 1986 a 2002; e no intervalo de 19 anos, de 1993 a 2011, foram relatados 29 gatos e oito cães diagnosticados no mesmo hospital.

Elisabete comenta que, a partir de rumores sobre a presença de gatos com esporotricose no Distrito Administrativo de Itaquera, a equipe do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) começou o mapeamento, em abril de 2011. “Assim, iniciou-se uma investigação epidemiológica para confirmar a ocorrência, verificar a extensão e propagação dessa zoonose e estabelecer estratégias de atuação de forma a controlar a transmissão entre animais e pessoas”, descreve.

A estratégia da equipe consistiu em atividade de busca casa a casa, objetivando a realização de um censo da população de cães e gatos e identificação de animais com lesões sugestivas de esporotricose. “A abordagem sobre a doença, junto aos proprietários, foi cuidadosa e criteriosa a fim de evitar abandono, matança e descarte de animais com consequente disseminação da doença”, frisa. Segundo o BEPA, nas residências onde se identificou animais com lesões características foram realizadas visitas posteriores, com a participação de médico-veterinário, visando a coleta de amostra e orientação ao proprietário.

Elisabete explica que, na coleta de amostras, os animais foram adequadamente contidos e, depois disso, a equipe coletava o exsudato (líquido orgânico) das lesões, com o auxílio de swab estéril, equipamento específico para o recolhimento do material. “Foram realizadas coletas de amostras ambientais de areia, madeira de cercas e casca de árvore, de alguns locais onde foi identificada a presença de animais infectados, para a eventual evidenciação da presença do fungo no ambiente”, menciona.

É possível consultar no BEPA que o tratamento preconizado para os animais foi Itraconazol “per os”, 10 mg/kg, uma vez ao dia, por, no mínimo, seis meses. A medicação foi fracionada, no CCZ-SP, segundo o peso dos animais, padronizando-se as doses 25, 30, 50 e 60 mg. “Os proprietários foram orientados sobre todos os detalhes da doença e sobre como fornecer a medicação misturada à ração úmida, visando evitar risco de mordedura ou arranhadura, oferecida ao animal pós-jejum. Também foram orientados, no caso de óbito do animal, a informação imediata ao CCZ-SP para recolhimento e destino adequado da carcaça”, aponta. A profissional também conta que médicos-veterinários do CCZ-SP realizaram, no primeiro ano, visitas semanais e, posteriormente, quinzenais, para a distribuição de medicamentos, monitoramento dos casos, recolhimento dos frascos distribuídos na visita anterior e, também, para registro fotográfico com a finalidade de acompanhar a evolução dos casos. “No momento da alta clínica de cada animal os proprietários eram intimados a firmar um compromisso que incluía a responsabilidade de manter o pet domiciliado e informar no caso de aparecerem novas lesões de pele, óbito ou desaparecimento do animal”, insere.

Durante este trabalho, foram realizadas palestras informativas sobre a doença para médicos, enfermeiros e veterinários da rede de saúde pública e de serviços privados para divulgação da zoonose e identificação de casos ainda não detectados. “Nessas oportunidades foi proposto um fluxo de notificação de suspeita de novos casos. Realizou-se, também, uma reunião com os proprietários de animais enfermos para orientação e troca de experiências”, comenta.

Resultados.


Também foram realizados, durante sete dias, mutirões de esterilização cirúrgica de animais na área de investigação, sendo 511 cães e 659 gatos, para a identificação de novos casos e, também, para facilitar a domiciliação. “Todos os gatos tratados e com regressão dos sintomas também foram esterilizados”, destaca. Como expõe Elisabete, do total de domicílios pesquisados, em 77 (5,3%) foi detectada a presença de 114 felinos com esporotricose. Destes, 68,4% foram confirmados laboratorialmente e 31,6% dos casos por critério clínico epidemiológico. “Foi evidenciado, também, um canino com a zoonose, confirmada laboratorialmente, em residência onde havia um gato com lesões sugestivas, que foi submetido à eutanásia em uma clínica veterinária da região, cerca de um mês antes”, menciona.

Nas residências em que havia gatos infectados, co-habitavam 248 moradores (3,22 co-habitantes por domicílio) e 209 gatos, incluindo os 114 doentes (2,71 gatos por domicílio), na razão de um gato para cada 1,18 indivíduos contatantes. “Estima-se que aproximadamente três mil visitas a domicílio foram realizadas para monitoramento dos casos e entrega dos medicamentos”, relata.

Tratamento.

A adesão ao tratamento por parte dos cuidadores dos animais, pelo período médio de seis meses, foi monitorada por registro fotográfico, o que contribuía para evidenciar a remissão das lesões, como comenta Elisabete. “Somente em um caso o proprietário não aderiu ao tratamento devido ao estado de caquexia do gato e o animal foi removido ao CCZ-SP, onde ficou isolado e foi submetido ao tratamento. Em outro caso, o animal foi abandonado em uma clínica veterinária particular da região, também com lesões disseminadas por todo o corpo, sendo também removido para isolamento e tratamento no Centro de Zoonoses”, lembra. O tratamento diário com administração apenas de medicação triazólica, segundo a médica-veterinária, mostrou-se efetivo com recuperação do estado geral e de remissão total das lesões. “Dos animais tratados, 78 que tiveram alta no período foram submetidos à esterilização. Animais com tratamento em curso ou que tiveram outro destino durante o tratamento, não foram esterilizados no período estudado”, insere.

Um total de 23 animais voltaram a apresentar quadro sintômato lesional. “Isto é, esses foram os animais que tiveram recidivas, ou seja, 29,5% dos casos que tiveram alta foram submetidos novamente a tratamento. Ocorreram 37 óbitos, incluindo eutanásias de gatos no período investigado. Do total de animais acompanhados, apenas 18,9% ocorreram pelo agravo e 30 animais vieram a óbito por outras causas. Em consequência da doença, quatro vieram a óbito e três animais foram submetidos a eutanásia. Outros 14 animais sumiram, o que totalizou, entre animais que morreram ou sumiram, uma perda de 44,74% dos animais monitorados”, cita.

Fonte: Revista Cães&Gatos.

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