Principal objetivo
comercial da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, a
abertura do mercado de carnes aos produtores brasileiros deverá ser adiada
mais uma vez. O único avanço será o anúncio, por parte dos chineses, de que
vão passar a conceder licenças de importação para frango, mas isso é apenas a
confirmação do acordo de abertura do setor que já havia sido fechado pelos
dois países em fevereiro.
Lula desembarcou ontem em Pequim, às 10h34, horário local, para uma visita
que vai durar menos de 50 horas. Os acordos bilaterais serão anunciados no
fim da tarde de hoje por Lula e o presidente chinês, Hu
Jintao, que se reúnem a partir das 17h15 no Grande
Palácio do Povo, na Praça da Paz Celestial, centro de Pequim.
Com o fiasco na negociação de carnes, o governo brasileiro espera conseguir
dos chineses a retomada de compras de aviões da Embraer anunciadas em 2006 e
suspensas depois da crise financeira global.
Além das questões comerciais, os principais temas que devem ser tratados
pelos dois presidentes são o empréstimo do Banco de Desenvolvimento da China
à Petrobrás e a aprovação de um plano quinquenal
com metas para o relacionamento bilateral, que deve vigorar no período
2010-1024.
Os dois países devem ainda fortalecer sua coordenação e cooperação em temas
internacionais. "Este é o momento de quebrar a velha ordem
econômica", declarou Lula, em entrevista à agência de notícias oficial
Nova China, divulgada ontem.
Lula afirmou que apóia a proposta de Pequim de criação de uma nova moeda
internacional, em substituição ao dólar. Há cerca de dois meses, o presidente
do banco central do país asiático, Zhou Xiaochuan, publicou artigo no qual propunha a adoção de
uma nova moeda de reserva de valor, que não fosse vinculada a nenhuma nação
específica.
Antes de chegar a Pequim, Lula também propôs que o comércio entre China e
Brasil seja realizado na moeda dos dois países, não
defendeu ainda a diversificação das exportações brasileiras para a China e o
aumento dos investimentos chineses de alta tecnologia no Brasil.
CARNE SUÍNA
No setor de carnes, o mercado chinês mais cobiçado pelos produtores
brasileiros é o de porco, de longe o maior do mundo. Em
53% dos 100 milhões de toneladas de carne suína consumidas no planeta e sua
fatia cresce a cada ano com o aumento da renda da população.
A negociação entre representantes dos dois países continuará em outubro,
quando será realizada, no Brasil, a segunda reunião da Comissão
Sino-Brasileira de Alto Nível de Cooperação e Coordenação (Cosban), comandada pelo vice-presidente brasileiro, José
Alencar, e o vice-primeiro-ministro chinês, Wang Qishan.
FEBRE AFTOSA
As importações chinesas de carne bovina brasileira foram suspensas em 2005,
depois do surgimento de focos de febre aftosa no Brasil. No ano passado, o
governo da China autorizou as importações de quatro Estados declarados livres
da doença – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Acre e Pará – e habilitou três
frigoríficos, até hoje os únicos que podem exportar para o país asiático.
O governo brasileiro pretendia que o governo chinês autorizasse a importação
de carne de outros Estados que são grandes produtores e já foram declarados
livres de aftosa: Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás e Minas Gerais.
Mas, até ontem, os dois lados não haviam avançado nas negociações. Tudo
indica que a negociação continuará a se arrastar.
A liberação das importações de carne de frango foi anunciada em fevereiro,
mas o governo de Pequim não concedeu, até agora, licenças para a compra do
produto.
Em reunião realizada no fim de abril, representantes do governo chinês
afirmaram que as compras ocorreriam somente no caso de o Brasil importar do
país asiático tripas ovinas e caprinas. Agora, as licenças deverão sair.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 19/05/2009