Conheça a rota do tráfico de animais silvestres no Brasil

O tráfico de animais silvestres está entre as atividades ilícitas mais praticadas no mundo, atrás apenas do tráfico de armas, tráfico de drogas e tráfico de seres humanos, segundo a Polícia Federal. O Brasil já responde por 15% do trafico de animais de todo o mundo, devido a sua imensa diversidade de peixes, aves, insetos, mamíferos, répteis e anfíbios, entre outros. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apreendeu, só até setembro deste ano, mais de 8,8 mil animais silvestres pelo País. Em 2009, o número ultrapassou os 31 mil.

A principal rota do tráfico começa na Região Nordeste, com a retirada de espécies da natureza, e segue até o grande mercado consumidor da fauna no País, a região Sudeste. Segundo o Ibama, os Estados onde ocorre a maior parte das capturas de animais são Maranhão, Bahia, Ceará, Piauí e Mato Grosso. Já os Estados com o maior mercado consumidor são São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

“As principais ‘fornecedoras’ de animais para o tráfico são as pequenas populações ribeirinhas em que há um elevado grau de pobreza. A falta de capacidade financeira, em épocas de estiagem, leva essa população a recorrer a outras formas de renda, como a venda de espécies disponíveis em sua região. Isso ocorre muito em assentamentos. Sem suporte, algumas pessoas recorrem ao tráfico como um meio de sobrevivência”, afirma o oficial da reserva da Polícia Militar Ambiental e coordenador do Curso de Estratégias para Conservação da Natureza, coronel Angelo Rabelo.

Além da comercialização por intermédio de traficantes, a venda de animais também é feita em estradas pelo País, principalmente na região Nordeste. “É comum a venda de tartaruguinhas e jiboias, levadas por turistas como ‘lembranças’. Ainda assim, isso é minoria. O maior volume de animais é destinado ao tráfico. Os traficantes usam o conhecimento empírico dessas populações para aliciar as pessoas. Os animais são, em geral, encomendados, e o valor pago é muito baixo”, diz o coordenador executivo da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), Raulff Ferraz Lima.

Segundo o Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre, publicado pela Renctas, 60% dos animais comercializados ilegalmente são para consumo interno, o chamado tráfico doméstico. Seguem para destinos internacionais 40% dos animais retirados da fauna brasileira. De acordo com Lima, a exportação ilegal de aves e peixes ornamentais é feita principalmente para a Europa. Na Ásia, o consumo majoritário é de répteis e insetos. Já na América do Norte, o mercado consome principalmente primatas, papagaios e araras.

No Brasil, as aves são as mais comuns em apreensões de tráfico. Segundo o Ibama, elas correspondem a 80% do total, sendo que dessas, 90% são pássaros caracterizados pelo belo canto (curió, canário da terra, coleiros e trinca-ferro). Os psitacídeos (maioria papagaios, seguido de jandaias, periquitos e araras) representam 6% e as demais ordens de aves correspondem aos outros 4% das apreensões.

“As aves são as preferidas por suas características de cores e canto diferenciadas, e pelo valor que têm”, afirma o coronel Rabelo.

O tráfico de animais silvestres pode ser enquadrado em algumas categorias, cada um com particularidades com relação a destinos e animais “prediletos”. Segundo Lima, o mercado que movimenta a maior soma de recursos no País é o de colecionadores particulares. “Eles priorizam animais ameaçados de extinção, que são mais caros e provocam um impacto maior no meio ambiente”, diz. Neste caso, os animais mais procurados são araras, papagaios e beija-flores.

Já os animais para companhia mais populares são iguanas, jiboias, arararas e papagaios, além de pássaros de canto e macacos. Outro uso comum de animais traficados é a biopirataria, que retira animais da natureza para pesquisas científicas. As serpentes venenosas e os insetos aparecem como os mais procurados nessa categoria.

Especialistas ressaltam que não são comuns apreensões de insetos, aracnídeos e serpentes em virtude do tamanho pequeno. Esses animais são transportados, em geral, já mortos, por meio de serviços postais.

Segundo o Ibama, o tráfico de animais pode contribuir para a redução de espécies na natureza, tornando-as ameaçadas de extinção no País ou localmente. Alguns exemplos de animais ameaçados e objetos do tráfico são a arajuba, o papagaio-chauá, o curió, o bicudo e o cardeal. O tráfico contribuiu para a extinção na natureza da ararinha-azul, que hoje só existe em cativeiro.

O coronel Rabelo ressalta ainda o caso do mico-leão-dourado, referência pela beleza e pelo tamanho, que tende a não chamar atenção. “Ele chegou à linha crítica da extinção e hoje está reduzido à região do Posto das Antas, em pequenas populações”, afirma.

Fiscalização

O controle do tráfico de animais silvestres no Brasil se dá, em sua maioria, a partir de denúncias anônimas. Há fiscalização nas rotas já conhecidas como usadas pelo crime com o auxílio da Polícia Federal, mas os animais são transportados, muitas vezes, de forma a não chamar a atenção dos agentes.

“A maior parte dos animais é transportada em veículos de pequeno porte, utilizando técnicas que levam muitas espécies à morte. Eles usam malas de viagem, fundos falsos de carro, e optam por trazer essas espécies como filhotes, porque dão menos trabalho e chamam menos a atenção”, diz Rabelo.

O Ibama realiza fiscalizações por meio de atividades de investigação e inteligência e recebimento de denúncias. O objetivo é averiguar a existência do tráfico e detectar os envolvidos.

A análise do Sistema de Cadastro de Criadores Amadoristas de Passeriformes (Sispass) ajuda a identificar procedimentos suspeitos realizados pelos criadores e assim direcionar operações de fiscalização.

“A utilização de técnicas de inteligência que permitam conhecer a dinâmica desse fenômeno criminoso e identificar todos envolvidos representa uma necessidade. Só através dela é possível identificar todos os envolvidos e não apenas um ou dois elos dessa cadeia criminosa. Além disso, uma boa investigação também representa uma considerável economia de recursos ao fornecer informações precisas para embasar as decisões de natureza preventiva ou repressiva a serem tomadas”, diz o delegado da Polícia Federal,Franco Perazzoni.

Com a criação de uma divisão especializada em crimes ambientais e de Delegacias de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico, a Polícia Federal já realizou 14 operações voltadas ao combate ao tráfico de animais e biopirataria, desde 2003.

De acordo com Perazzoni, mais de dez mil animais ilegais já foram apreendidos e cerca de 200 prisões foram efetuadas, com destaque para a Operação Oxossi, deflagrada em março de 2009 em vários Estados do Brasil e no exterior, com o apoio da Interpol. A operação resultou na prisão de 112 pessoas.

Fonte: G1 (acessado em 07/10/10)

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