Conheça os desafios para empreender na Medicina Veterinária

Para ter resultado positivo, é preciso saber qual sua identidade empresarial e estar preparado para enxergar novas oportunidades
Texto: Comunicação CRMV-SP/ Foto: Pixabay

Muitas são as dúvidas e desafios que os profissionais médicos-veterinários têm ao pensar em abrir seu próprio negócio. Por isso, ter uma visão administrativa e noções de gestão são fundamentais para que o empreendimento tenha relevância e longa vida.

“Acredito que, hoje, devido ao grande número de negócios no mercado veterinário, a concorrência está muito maior e os consumidores estão mais exigentes. Então, só com uma boa noção da administração do seu negócio é que o médico-veterinário consegue realmente conhecer o mercado onde está inserido e as necessidades do setor, dos tutores e dos clientes para, assim, poder se diferenciar e ter sucesso”, afirma o consultor de empresas Felipe Consentini, conselheiro do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP).

Consentini ressalta ainda que antes de abrir um negócio, o médico-veterinário precisa saber qual a sua identidade empresarial, o que realmente quer entregar, qual tipo de estabelecimento veterinário pretende montar (consultório, clínica ou hospital), além de conhecer o público de interesse para, então, conseguir planejar e definir as estratégias de seu negócio.

O empreendedorismo tem vários caminhos, mas é preciso esclarecer que o modelo empresarial conhecido como MEI (microempreendedor individual) não se aplica a médicos-veterinários. O coordenador jurídico do CRMV-SP, Marcos Antonio Alves, ressalta que a Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, que criou o Estatuto Nacional da Microempresa, delegou ao Comitê Gestor do Simples Nacional a regulamentação das atividades que podem ser exercidas na forma de MEI.

“Sendo assim, por meio da Resolução CGSN nº 140/2018, em seu Anexo XI, o Comitê estabeleceu quais são as ocupações permitidas ao MEI, sendo que as atividades de natureza intelectual, exercidas por profissionais liberais, como o médico-veterinário, advogado, psicólogo, entre outros, não se enquadram nestas permissões”, esclarece Alves.

O coordenador jurídico reitera que o exercício da Medicina Veterinária não é permitido sob a forma de MEI, mas explica que para as atividades de embelezamento, petshops, entre outras, é possível a constituição. “Muito embora estejam desobrigadas do registro no Sistema CFMV/CRMV’s, enquanto perdurar os efeitos dos Temas 616 e 617 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), elas podem requerer o seu registro conosco, bem como de anotação de responsabilidade técnica.”

Opções de modelos empresariais

Para a médica-veterinária Jane Mary Albinati Malaguti, consultora de negócios do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em São Paulo (Sebrae-SP), pelo fato da Medicina Veterinária ser uma profissão com regulamentação, ou seja, com legislação própria que estabelece os direitos e deveres dos profissionais que a exercem, a melhor solução para esse profissional poderia ser abrir uma microempresa (ME), contando com o apoio de um contador especializado.

Outra alternativa que pode trazer benefícios fiscais ao médico-veterinário, destaca Alves, é a constituição de uma sociedade limitada unipessoal (SLU), a qual permite, inclusive, adesão ao Simples Nacional. “Neste tipo de sociedade, o profissional fica com o seu patrimônio pessoal protegido, pois há a separação do patrimônio pessoal do médico-veterinário em relação ao da empresa constituída. E, até o momento, por não haver a tributação na distribuição dos lucros para os sócios de empresas, o profissional que vier a adotá-la, pode, em tese, ter certa vantagem em relação ao recolhimento de impostos”, explica o coordenador jurídico do CRMV-SP.

Habilidades

O mercado brasileiro recebe um número significativo de novos graduados todos os anos, profissionais qualificados que chegam ao mercado em busca de oportunidades de trabalho e de empreender no seu negócio. Mas como empreender com sucesso em um mercado tão competitivo e abocanhar uma fatia neste mercado em crescimento?

“Empreender em qualquer setor é desafiador. Temos ainda um longo caminho a ser percorrido quando se fala em desenvolver habilidades e comportamentos empreendedores no Brasil. Existe uma carência nos currículos escolares em educação empreendedora. Recém-graduados e também profissionais que já estão no mercado buscam o aprimoramento extracurricular como uma alternativa para complementar essa lacuna. Desta forma, é preciso refletir sobre como desenvolver novas habilidades ou aprimorar as existentes, baseado nos 10 comportamentos dos empreendedores de sucesso, além de buscar conhecimento sempre”, salienta a consultora do Sebrae-SP.

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Além do mercado pet

Enorme fatia do mercado para profissionais da Medicina Veterinária, o mundo pet não é a única alternativa para realizar o sonho de empreender. Mas para isso, a consultora do Sebrae-SP lembra que é preciso estar preparado para enxergar novas oportunidades para empreender ou inovar.

“Como um setor em crescimento, os profissionais precisam estar atentos para as ‘lacunas de mercado’, ou seja, desenvolver soluções para necessidades que não estão sendo atendidas neste setor. Portanto, é importante acompanhar estudos e pesquisas de mercado, ficar atento às tendências do setor, participar de feiras e eventos e, principalmente, conhecer as dores e aspirações dos clientes e desenvolver novas formas de atendimento, produtos ou serviços. As tecnologias vieram para ficar e necessitam ser validadas e utilizadas por profissionais/consultores especializados”, enfatiza Jane.

Consentini destaca que uma boa saída para empreender é saber o que faz sentido para aquele médico-veterinário, antes de querer atender ou se encaixar em uma demanda. “Existem negócios que abrangem a parte de diagnóstico, laboratório, terceirização, serviços. A inovação é um grande mercado que deve crescer, as especializações, as especialidades e a própria área de gestão técnica, onde o profissional pode ser realmente o responsável técnico (RT) do negócio, cuidar de tudo, desde a regulamentação até o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS), isso abre um leque de atuação muito grande.”

Para Jane, é preciso ligar as antenas e avaliar quais setores estão em crescimento e quais estão em declive. Refletir sobre como e onde seus conhecimentos técnicos podem fazer a diferença, se está preparado para as tecnologias emergentes do setor, quais outros setores pode empreender. “Existe espaço para atender necessidades numa indústria de alimentos, por exemplo? Este é um nicho importante e em crescimento, não apenas no setor de alimentos para animais. Enfim, atente-se para nichos que buscam soluções personalizadas, como gatos, animais exóticos, aves.”

Dicas para empreender

– Invista em se aperfeiçoar sempre. As oportunidades surgem para quem está preparado. Desenvolva atitudes empreendedoras, de liderança e de gestão empresarial;

– Não perca de vista as oportunidades de se diferenciar no mercado;

– Crie canais de comunicação com seus clientes. Mantenha-se presente na mente deles;

– Tenha parceiros estratégicos e amplie seu networking;

– Invista na capacitação de toda a equipe (principalmente, nos setores que tem contato direto com seus clientes, recepção, entregador, tosador, entre outros);

– Observe as tendências de mercado e avalie em quais pode atuar com qualidade e excelência;

– Inove sempre e fique atento no seu posicionamento de mercado;

– Esteja aberto a pesquisar junto aos seus clientes como melhorar o seu negócio e promova as mudanças necessárias;

– Ame o seu negócio, isto fará brilhar os seus olhos e aumentar a sua motivação para os desafios do dia a dia.

Fonte: Sebrae-SP

Segurança jurídica

O coordenador jurídico do CRMV-SP salienta que, antes de dar os primeiros passos, o médico-veterinário que deseja empreender deve fazer um planejamento detalhado, que abranja tanto as questões comerciais – local, número de estabelecimentos idênticos que se encontram próximos a ele, público-alvo, capacidade financeira deste público, estimativa de custos, e, principalmente, de retirada –, quanto as questões legais – funcionários, impostos, fiscalizações. “Destaco, também, a necessidade do médico-veterinário empreendedor fazer cursos de gestão, que poderão ajudá-lo e muito a ter sucesso”.

Alves esclarece, ainda, que o início efetivo das atividades da empresa somente poderá ocorrer após o cumprimento dos requisitos legais (detalhados abaixo). “O início antes de formalmente cumprida qualquer uma das etapas previstas, poderá ensejar a aplicação de multa, bem como a interdição do estabelecimento até que haja a sua regularização. Diante desse quadro, recomendo ao profissional médico-veterinário, que deseje empreender, que conte com o auxílio de contador e advogado, os quais o ajudarão nesse árduo caminho.”

Requisitos legais para empreender

a) análise e elaboração do contrato de locação do imóvel onde a empresa será sediada e haverá a prestação de serviços;

b) constituição da empresa, onde haverá o estudo de viabilidade (nome, natureza jurídica, objeto, etc), para, na sequência, ter devido registro na Junta Comercial ou Cartório de Registro de Títulos e Documentos e Civil da Pessoa Jurídica;

c) obtenção do CNPJ da empresa;

d) obtenção do Cadastro de Contribuinte Mobiliário (Prefeitura);

e) registro da empresa e de seu responsável técnico (mesmo que seja o próprio médico-veterinário empreendedor/proprietário) perante o CRMV-SP;

f) contratação de eventuais empregados para a empresa constituída;

Reforma Tributária

O coordenador jurídico do CRMV-SP alerta sobre a tramitação no Congresso Nacional do projeto de Lei da Reforma Tributária, o qual já foi objeto de apreciação e aprovação pela Câmara dos Deputados Federais, encontrando-se, agora (em meados de julho), sob análise do Senado Federal.

“Com a aprovação da Reforma Tributária, pode ser que haja alguma modificação nos tributos a serem recolhidos pelos empreendedores da Medicina Veterinária, desta forma, recomendo que o profissional acompanhe esse importante projeto de lei, acaso venha a ser realmente convertido em Lei, devido a eventuais mudanças que possam incidir em seu empreendimento”, ressalta Alves.

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