Conhecer o ciclo biológico do carrapato-do-boi ajuda produtor a evitar perdas

O conhecimento do ciclo de vida do parasito é uma importante ferramenta que auxilia o produtor a tomar decisões de manejo para o controle da infestação. Ao entender os aspectos da vida do carrapato e a dinâmica populacional da região, é possível adotar medidas de manejo que promovam a redução das perdas econômicas.

Apesar de ser capaz de se desenvolver em outras espécies de animais, inclusive no homem, o carrapato prefere os bovinos como fonte de alimentação. No decorrer da sua vida, apresenta diferentes fases de desenvolvimento, como ovo, larva, ninfa e adulto. A larva é bem pequena e passa despercebida no meio da pelagem do animal. Depois de se alimentar do sangue do hospedeiro por alguns dias, ela solta uma “pele” chamada cutícula, aumenta de tamanho e passa a se chamar ninfa. A ninfa do carrapato continua a se alimentar e muda novamente de cutícula, passando à fase adulta.

No início, machos e fêmeas têm o mesmo tamanho. Mas, após a fecundação, a fêmea se alimenta mais que o macho e seu corpo se dilata para armazenar um grande volume de sangue do animal parasitado. A maior parte do sangue será usada para produzir ovos. A fêmea ingurgitada (repleta de sangue) chega a ficar dez vezes maior que o macho. Nessa fase, ela se desprende do hospedeiro durante as primeiras horas da manhã e faz a postura no solo. Cada fêmea é capaz de produzir cerca de três mil ovos. O desenvolvimento de larva até a fase de fêmea ingurgitada leva de 18 a 35 dias, com período médio de 21 dias. Dos ovos, sairão as larvas, que subirão por gramíneas, arbustos ou paredes de abrigo à espera da passagem de um hospedeiro, reiniciando o ciclo.

Na região Sul do Brasil, a fase de maior parasitismo pelo carrapato ocorre nos meses mais quentes do ano, de setembro a maio. Na primavera, observam-se as menores infestações, pois o rigor do inverno elimina parte das fêmeas grávidas, ovos e larvas presentes na pastagem. Esse é, portanto, o melhor período para iniciar a imunização natural de terneiros e renovar a imunidade dos bovinos adultos contra a TPB.

No verão, há um aumento da população, propiciado pela multiplicação dos carrapatos durante a primavera. Esse aumento populacional, se não for controlado, será progressivo, chegando a um pico máximo no outono. Com a chegada do inverno, a população de carrapatos nas pastagens é mais uma vez controlada, reiniciando-se o processo de multiplicação na primavera seguinte.

Essa dinâmica populacional poderá sofrer alterações em casos extremos de infestações do pasto. Em populações de campo muito reduzidas, por exemplo, é provável que não se observe a elevação do parasitismo durante o verão e o outono. Já em campos muito infestados, o parasitismo costuma ser alto já no início da primavera.

Estratégias de controle

No Rio Grande do Sul, o controle do carrapato tem sido feito tradicionalmente com tratamentos sucessivos de acaricidas (carrapaticidas), principalmente nos períodos da primavera, verão e outono. Essa forma de controle ao longo dos anos tem sido apontada como um dos principais fatores que favorecem o surgimento da resistência do carrapato aos princípios ativos dos medicamentos e, em muitos casos, leva à quebra da estabilidade imunológica dos bovinos frente aos agentes da TPB, além de elevar os custos com tratamento e mão de obra.

Uma das alternativas para controlar o carrapato e manter a estabilidade imunológica dos bovinos contra a TPB é a aplicação de acaricidas de forma estratégica, associada ao uso de vacina contra a doença. O programa de controle estratégico do carrapato visa à redução da carga parasitária sobre os animais, a descontaminação das pastagens e a manutenção dessas áreas com baixo nível de infestação.

As séries de banhos carrapaticidas devem levar em conta as ondas e o nível de infestação do parasito na propriedade. No Sul do Brasil, normalmente a primeira geração de carrapatos ocorre em novembro, a segunda, em fevereiro e a terceira, nos meses de abril e maio. Pode, ainda, haver casos excepcionais, como microrregiões ou invernos com temperaturas favoráveis ao desenvolvimento do carrapato, o que traz a necessidade de um banho adicional em agosto ou setembro. O nível de infestação (alto, médio ou baixo) determina maior ou menor número de banhos estratégicos.

Seja qual for a alternativa de controle do carrapato, é fundamental que o carrapaticida atue de forma eficaz. Por isso, é recomendável fazer periodicamente um monitoramento da eficácia do carrapaticida em uso na propriedade, por meio do biocarrapaticidograma. O exame fornece a eficácia de bases químicas de uso em banheiros de imersão ou aspersão, indicando se há processo de resistência. O teste também indica qual princípio ativo poderá ser usado em substituição, para que a troca do produto seja feita com a segurança de que o tratamento será eficaz.

O produtor deve lembrar ainda que para obter um controle efetivo não basta usar um produto eficaz. É necessário adotar uma estratégia de controle que reduza a infestação do campo e, consequentemente, a frequência de tratamentos ao longo dos anos. Uma boa estratégia de controle levará em consideração o sistema de produção, o grau de infestação das pastagens, as práticas de manejo da propriedade, o comportamento do carrapato na região e o risco de ocorrência da TPB.

No estande da Embrapa Pecuária Sul, o visitante poderá observar as diferentes fases da vida do carrapato, além de receber gratuitamente materiais informativos com recomendações técnicas sobre o manejo da resistência aos carrapaticidas, coleta e envio de material para o teste biocarrapaticidograma, os programas estratégicos de controle do parasito e a prevenção e controle da TPB. Os textos também podem ser baixados gratuitamente no site www.cppsul.embrapa.br.

Fonte: Agrosoft (acessado em 23/08/2011)

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