De técnico agrícola a presidente do CRMV-SP: a expoente trajetória do Dr. Francisco Cavalcanti de Almeida

Ter crescido no pequeno município de Goianinha, microrregião do Litoral Sul do Rio Grande do Norte (RN), não impediu o médico-veterinário Francisco Cavalcanti de Almeida, de trilhar uma nobre trajetória profissional e assumir a presidência do CRMV-SP durante três mandatos. Filho de produtor rural, iniciou a carreira como técnico agrícola em uma escola de formação profissional. Sua dedicação ao trabalho logo despertou a atenção de um professor, que o convidou para atuar como seu assistente na área de fomento animal no Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro. “Quando cheguei na cidade, ele me incentivou a a estudar, e então ingressei na Faculdade de Medicina Veterinária na Universidade Federal Fluminense”, conta.

Durante a graduação, chegou a atuar como funcionário administrativo no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em atividades do Plano Nacional do melhoramento e do Manejo do Gado Leiteiro (PLAMAN). Depois de formado, passou em dois concursos públicos e assumiu o cargo de médico-veterinário efetivo do Ministério da Agricultura. Em 1972, foi designado chefe do Grupo de Produção Animal (GEPA), depois foi responsável pela equipe de controle de vacinas contra a febre aftosa no Grupo Estadual de Combate à Febre Aftosa no Estado de São Paulo (GECOFA-SP). Para aprimorar seus conhecimentos, se especializou em controle de vacina contra febre aftosa no Laboratoire de Virologie de Maison D’Alfort e Laboratoiree de Virologie Animale de Lyon, ambos na França.

Na década de 80, Dr. Francisco abraçou novos desafios na área de saúde animal ao assumir os cargos de diretor técnico e delegado federal substituto na Delegacia Federal de Agricultura do Ministério da Agricultura de São Paulo e diretor federal de Agricultura e Reforma Agrária do Ministério. Em 2006, tornou-se presidente do CRMV-SP e colocou como meta de sua gestão abrir as portas do Conselho para o mundo. “Essa casa é de todos, de médicos-veterinários, zootecnistas e da sociedade”, disse.

Durante entrevista a este Informativo, Dr. Francisco falou sobre sua trajetória profissional na área de sanidade animal e os desafios enfrentados durante os anos em que esteve à frente do CRMV-SP. Ressaltou ainda a necessidade das universidades se adaptarem a um novo modelo de ensino. “A Medicina Veterinária exige hoje, no mínimo, seis anos de formação, sendo o último, de estágio obrigatório, em áreas específicas”, acredita. Confira:

Qual a importância econômica e social dos serviços oficiais de saúde animal no Brasil?

A área de defesa sanitária está intimamente relacionada com o fluxo econômico e social de um país. A valorização de um rebanho se dá pela sua genética e saúde animal. Para compreendermos melhor a defesa em saúde animal, ela é dividida em três fases: 1) educacional ou assistencial, que vai do manejo até as boas práticas em saúde animal; 2) policialesca: vigilância sanitária, que compreende desde o trânsito nacional e internacional, até as campanhas oficiais de enfermidades de importância socioeconômica, como da brucelose, tuberculose, raiva, Febre aftosa, entre outras; 3) terminal, representada pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF), implantada há mais de 60 anos no País. É extremamente importante que o SIF retorne ao serviço de defesa em saúde as informações sanitárias diagnosticadas na linha de inspeção ante e post mortem, visando a correção das falhas nos pontos de origem: rebanho e ou propriedade e, consequentemente, fechando o ciclo em saúde animal. Essa luta tem sido o ponto de convergência da credibilidade e da confiança do mercado internacional de nossos produtos de origem animal, como carnes, ovos, mel, leite, pescados e seus derivados. As mesmas medidas e exigências devem ser aplicadas também aos animais de companhia, razão do extraordinário avanço hoje conseguido no relativo a importância desses animais nos lares brasileiros. Uma defesa forte é a garantia de um rebanho sadio, com reflexo na saúde humana e no mercado internacional. A Medicina Veterinária é muito nobre, pois além de cuidar do bem-estar do rebanho animal, cuida da saúde humana e se sustenta no tripé político, econômico e social. As pessoas vão comprar um litro de leite e acham caro, mas não compreendem o trabalho que ocorre desde a ordenha até chegada do produto na gôndola dos supermercados. Ele é mais barato do que um litro de água, que é coletado diretamente da fonte mineral, passa por alguns testes e é rapidamente embalado.

Quais foram as principais dificuldades enfrentadas durante os anos de atuação profissional?

A conscientização das autoridades, da sociedade e dos próprios profissionais de se ter uma visão política e social macroeconômica do segmento pecuário. Muitos médicos-veterinários se formam e já esperam obter um retorno financeiro rapidamente, contudo, não é assim que ocorre. As coisas acontecem com o tempo, esforço e muito trabalho. Hoje, há uma imensidão de cursos de Medicina Veterinária que não desenvolvem estes conceitos com os estudantes. O despertar da sociedade para os vários papéis do médico-veterinário também é outro grande desafio. É preciso compreender que nós cuidamos dos animais com o fim principal de zelar pela saúde humana. Os sistemas CFMV/CRMV’s e órgãos envolvidos, como o MAPA, precisam trabalhar de forma integrada para que a sociedade compreenda a missão da profissão.

Quais são os desafios enfrentados para conseguir uma interação positiva do CRMV com colegas da iniciativa privada, institutos de pesquisa, universidades, serviços de diagnósticos, laboratórios produtores de imunológicos (soros e vacinas) e medicamentos de uso veterinário?

As relações são muito difíceis. Durante nossa gestão no CRMV-SP tivemos muitos desafios, pois essas instituições veem o Conselho apenas como o órgão fiscalizador, mas somos muito mais do que isso. O trabalho de conscientização deve vir de todos os profissionais, passar pelas universidades, até chegar na sociedade em geral. É preciso divulgar nossas ações, nossos diferenciais nas diversas áreas e mostrar que fazemos muito mais do que cuidar do bem-estar dos pets.

O senhor é otimista quanto ao futuro da Medicina Veterinária?

Sim. Nossa profissão continuará promissora. Recentemente, ganhamos um grande mercado ao firmar parceria para exportar carne in natura para os Estados Unidos e, seguramente, ganharemos diversos outros. Estas conquistas são frutos do trabalho de médicos-veterinários e do apoio dos produtores, que poderão seguir com a sua lucratividade. A demanda de trabalho será grande, contudo, faltarão profissionais para atuar nestes segmentos, pois a maioria dos estudantes que se formam preferem atuar com pets, área que geralmente apresenta um retorno mais rápido ao profissional. Em geral, o trabalho no campo depende de uma série de outros fatores, como do produtor rural, do governo, entre outros. Mas, um bom profissional nesta área, certamente terá emprego garantido, com salários bastante compensadores. Hoje, a Medicina Veterinária exige especializações nos diversos segmentos. Os cursos em Medicina Veterinária necessitam mostrar aos seus estudantes esse leque de opções profissionais.

O que o senhor sugere para um jovem profissional que tenha interesse em se preparar para atuar na área de defesa sanitária animal? Há boas perspectivas para o mercado de trabalho?

Primeiramente, que seja um profissional ético e com boa formação técnica na área escolhida. Deve ter também uma visão macroeconômica da profissão e do sistema pecuário brasileiro, focando sempre os mercados internos e externos de produtos de qualidade e de pets.

De que forma os órgãos de classe, como o CRMV-SP, contribuem para que a Medicina Veterinária cumpra a sua missão em termos de defesa sanitária animal?

A missão do Conselho é fiscalizar o exercício profissional, contudo, não podemos deixar de dar assistência aos colegas em termos de promover e estimular a educação continuada nas diversas áreas da profissão e inclusive na de sanidade animal. Durante nossa gestão, realizamos uma série de eventos regionais para mostrar a importância da Medicina Veterinária como um todo, nos âmbitos social, econômico e político. Sofríamos muito para seguir com estes encontros, porque poucos colegas se interessavam. Este sistema segue com a atual gestão e ficamos muito contentes com os resultados positivos que o CRMV-SP vem conquistando ao longo dos anos. Precisamos mostrar que há médicos-veterinários na avicultura, na suinocultura, na equinocultura, entre tantos outros campos. Durante os nove anos em que estivemos à frente da presidência do Conselho, realizamos feitos que me enchem de orgulho, como a criação de comissões assessoras, constituídas por profissionais de alto gabarito em áreas específicas da profissão e ouvidores regionais, além da informatização do sistema de processos e a compra da sede do CRMV-SP.

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