As três variedades do
vírus tipo 3 da dengue, o mais agressivo, começaram
a circular pelo mundo entre 1967 e 1975. Quase no mesmo período, entre 1960 e
população mundial havia saltado de 3 bilhões para 4
bilhões de pessoas.
O levantamento inédito feito pelo Instituto Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro,
escancara a forte relação que existe entre vírus virulentos e a maior
mobilização de pessoas entre cidades, países e continentes.
A dengue, que infecta todo ano 50 milhões de pessoas no mundo, tem quatro tipos de vírus. Todos eles já foram registrados
no Brasil, mas o tipo 3 é hoje o que causa mais
epidemias no país.
"O vírus dengue 3 sempre esteve associado a
epidemias por causa da sua constante e rápida taxa de evolução", diz Josélio Araújo, um dos autores do trabalho, publicado no
periódico científico "Infection, Genetics and Evolution".
No trabalho, o grupo também mostrou como cada uma das três variedades do
vírus tipo 3 da dengue acabou escolhendo uma região
específica do planeta para viver.
Nas Américas, a linhagem bastante agressiva em ação nos dias de hoje chegou
pelo México, em 1975. Passou pela América Central e desembarcou no Brasil em
1991. "Aqui nós temos o genótipo 3", diz
Araújo. Genótipo é o nome dado a cada um dos subtipos do vírus.
Os outros dois grupos, os genótipos 1 e 2,
apareceram ao mesmo tempo, segundo mostra a análise de 200 seqüências
genéticas isoladas em 31 países.
O primeiro, na Indonésia. O segundo no Sri Lanka. Ambos em 1967. O mapeamento das rotas de
distribuição dos vírus mostra que, enquanto o genótipo 1
circula na porção marítima do Sudeste Asiático e no sul do Pacífico, o
genótipo 2 está confinado às zonas continentais do sudeste da Ásia.
Origem antiga
Os dados ainda permitiram ao grupo descobrir que todas as linhagens vivas de
dengue 3 surgiram em 1890. "O vírus da dengue
existe desde os primórdios. Identificamos apenas a origem das variedades
existentes", diz Araújo. "Ao todo, desde o século 19, surgiram
cinco. Mas duas estão extintas."
Com a rota das variedades do vírus tipo 3 em mãos,
os cientistas agora partem para uma segunda etapa do trabalho. "Nós
queremos identificar os pontos de entrada desses vírus no país", diz
Araújo.
Como existem microevoluções em curso dentro do
país, uma mesma variedade circulando no Nordeste, por exemplo, e outra no
Sudeste, mas a partir de entradas diferentes, entender
os caminhos que o vírus faz é importante para o controle das constantes
epidemias.
"Com as rotas do Brasil, será mais fácil impedir que o processo de
distribuição do vírus evolua", diz Araújo. "Por causa do turismo
provavelmente, já sabemos que o Rio de Janeiro é uma dessas portas de
entrada."
No primeiro semestre de 2009 morreram 79 pessoas de dengue no Brasil. A Organização
Mundial da Saúde estima que a doença seja endêmica em cem países e que 40% da
população mundial esteja exposta.
Fonte: Folha de
S. Paulo, 13/07/2009