O Dia Mundial Contra a Raiva, celebrado em 28 de setembro, chama atenção para a importância da prevenção. Em 2025, o estado de São Paulo registrou 125 animais positivos para a doença, sendo 72 morcegos não hematófagos, que se consolidam como importantes reservatórios do vírus. Também foram confirmados 27 casos em bovinos, 19 em equinos, além de registros em morcegos hematófagos, bubalino, ovino/caprino, capivara e canídeo silvestre.
No Brasil, os últimos casos de raiva canina (variantes AgV1 e AgV2) ocorreram em 2013 (Maranhão) e 2015 (Mato Grosso do Sul). Desde então, o perfil epidemiológico mudou, com maior número de ocorrências ligadas a variantes do vírus rábico de animais silvestres, principalmente morcegos.
Entre 2010 e 2025, o Ministério da Saúde contabilizou 50 casos de raiva humana, a maioria causada pela variante 3 do vírus, transmitida especialmente por morcegos a outros animais ou diretamente às pessoas.
“Em São Paulo, o último caso humano pela variante canina ocorreu em 1997, e o último caso animal em 1998. Desde então, todos os registros em humanos, cães e gatos no Estado foram causados por variantes de morcego, hoje a principal fonte de infecção da raiva em humanos no País”, explica a médica-veterinária da Área de Vigilância e Controle da Raiva do Instituto Pasteur, Adriana Maria Lopes Vieira.
Diante da circulação do vírus da raiva em morcegos, é fundamental que cães e gatos recebam a vacinação anual. Segundo Alessandra Marnie de Castro, representante do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) no Comitê Estadual de Vigilância e Prevenção à Raiva, a imunização pode ser feita gratuitamente em postos permanentes das prefeituras ou em clínicas e hospitais veterinários particulares. “Vacinar cães e gatos protege não apenas a saúde dos animais, mas também a de toda a comunidade”, afirma.
Com a adoção da estratégia de vacinação em postos fixos mantidos pelas prefeituras, os responsáveis devem entrar em contato com as secretarias municipais de saúde ou procurar estabelecimentos veterinários privados para garantir a imunização de seus animais.
Profilaxia pré-exposição e pós-exposição
Alguns profissionais estão mais expostos ao risco de contágio pelo vírus da raiva, como médicos-veterinários, zootecnistas, capturadores de morcegos hematófagos, espeleologistas e trabalhadores de laboratórios que manipulam o vírus. Para esses grupos, é recomendada a profilaxia pré-exposição.
Embora a vacinação pré-exposição ofereça proteção, em caso de acidente é sempre necessário buscar atendimento médico para avaliar a necessidade de um esquema de reexposição. Nessas situações, o uso de soro ou imunoglobulina é contraindicado.
Já para pessoas não vacinadas previamente, em acidentes com animais domésticos ou silvestres, aplica-se a profilaxia pós-exposição. Após a avaliação do caso, pode ser indicada a observação do animal agressor (quando cão ou gato), o uso de vacina ou a associação da vacina ao soro antirrábico (SAR), ou à imunoglobulina humana antirrábica (IGHAR).
Saiba onde encontrar informações sobre a vacinação contra a raiva em São Paulo:
- Telefone 156: consulta da relação completa dos postos de vacinação permanente, com horários e contatos.
- Unidades de saúde de referência para vacinação humana: Acesse aqui.
- Serviços e atendimentos da Prefeitura de São Paulo: Acesse aqui.
- Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo – informações sobre vacinação antirrábica: Acesse aqui.
- Instituto Pasteur – orientações sobre locais de atendimento de pré e pós-exposição ao vírus da raiva: Acesse aqui.
- Atenção: cada município possui um fluxo específico para o atendimento médico de pessoas. É necessário consultar a secretaria municipal de saúde da sua cidade para obter orientações.
Médicos-veterinários em ação
Quando cães ou gatos apresentam sinais neurológicos, como paralisia, incoordenação motora, apatia, sialorreia ou comportamento agressivo, a raiva deve ser considerada entre os diagnósticos diferenciais. O contato com o animal deve ser restrito, e em caso de óbito ou eutanásia, o corpo ou encéfalo deve ser encaminhado para exame laboratorial.
Para a médica-veterinária Tamara Leite Cortez, membro da Comissão Técnica de Uma Só Saúde do CRMV-SP, a anamnese detalhada é essencial. “É fundamental questionar se houve contato do animal com morcegos, se ele teve acesso à rua sem supervisão e verificar o histórico vacinal contra a raiva. Esses dados ajudam na avaliação clínica.”
Tamara orienta que profissionais autônomos mantenham contato prévio com secretarias municipais de saúde ou Unidades de Vigilância de Zoonoses (UVZ) de onde atuam para conhecer os fluxos de notificação e envio de amostras.
Segundo Adriana Vieira, do Instituto Pasteur, a raiva é de notificação compulsória imediata, e médicos-veterinários devem estar atentos às suas responsabilidades legais quanto à comunicação de casos. “A raiva faz parte da lista das doenças de notificação compulsória imediata, com base na vigilância animal. Porém, além da raiva, os profissionais médicos-veterinários são obrigados a notificar eventos de saúde pública (ESP), destacando-se as epizootias de notificação compulsória imediata, como a morte de primatas não humanos; morte ou adoecimento de cães, gatos e equinos com sintomatologia neurológica; morte de canídeos silvestres; e morte de quirópteros em áreas urbanas”, afirma.
Auxilie no monitoramento da doença!
Envie para diagnóstico laboratorial de raiva e comunique imediatamente a suspeita ao Serviço Veterinário Oficial:
✔️ Cães e gatos: animais com sinais clínicos neurológicos, atropelados, com morte súbita ou com histórico de agressão às pessoas nos 10 dias anteriores;
✔️ Mamíferos silvestres: animais encontrados mortos, que morreram sem causa definida, ou que tenham histórico de agressão a pessoas;
✔️ Ruminantes: animais com sinais clínicos como isolamento, andar cambaleante, paralisia, tremor muscular, salivação, decúbito, opistótono, entre outros.
O envio de amostras pode ser feito ao Instituto Pasteur. Acesse as instruções para coleta e encaminhamento: https://saude.sp.gov.br/instituto-pasteur/homepage/acesso-rapido/envio-de-amostras.
A notificação de casos suspeitos pode ser feita das seguintes formas:
- Notificação via internet pelo e-SISBRAVET. Clique aqui para fazer uma notificação;
- Notificação via telefone, presencial ou e-mail ao Serviço Veterinário Oficial da cidade ou estado em que atua.
Proteção dos profissionais e apoio aos responsáveis
Médicos-veterinários e zootecnistas, profissionais de alto risco, devem usar Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados, como luvas, avental impermeável, máscara e óculos de proteção; manter a vacinação pré-exposição atualizada; e realizar controle sorológico periódico. “Em caso de acidente, é essencial lavar o ferimento por 15 minutos e procurar atendimento médico para avaliação da profilaxia pós-exposição”, orienta Alessandra de Castro.
O profissional também tem papel fundamental no acolhimento dos responsáveis pelo animal com suspeita ou diagnóstico da doença, explicando de forma clara medidas como isolamento, notificação e, se for o caso, envio da carcaça para diagnóstico. “O diálogo transparente protege a saúde da família e da comunidade, reduz abandono ou ocultação de casos e fortalece o controle da doença”.
As ações educativas são pilares do Programa de Vigilância e Controle da Raiva e, junto à vacinação e à vigilância epidemiológica, ajudam a prevenir mortes humanas e prejuízos na produção animal. “São fundamentais as campanhas que orientam sobre atendimento imediato, incentivam a vacinação de cães e gatos e o envio de amostras de animais suspeitos para diagnóstico laboratorial, e alertam produtores rurais sobre imunização de herbívoros e comunicação aos órgãos de agricultura diante de ataques de morcegos. A comunicação contínua e adaptada a diferentes públicos fortalece a integração entre saúde humana, animal e ambiental”, conclui Alessandra.
Serviço: De 28/09 a 05/10, o Instituto Pasteur oferece informações técnicas e atividades de conscientização sobre a raiva para adultos e crianças. Saiba mais.