A língua de fora não
é só dos cachorros. As ladeiras de Sumaré e Perdizes (zona oeste) também
deixam exauridos os donos desses animais que, para driblar o árduo
sobe-e-desce da região, contratam "passeadores" profissionais que
caminham com os cães de duas a três vezes por semana, cobrando entre R$ 100 e
R$ 150.
"É puxado", suspira a produtora cultural Luli
Hunt, 45, olhando o ladeirão da rua onde mora, no
Sumaré. Sua fox terrier Jackie Tequila já se acostumou a esperar pelo
"passeador" profissional para dar suas voltinhas. "No final de
semana sou eu quem leva, mas sempre na avenida
Sumaré, que é plana."
Com três coleiras entrelaçadas e um boxer, um bull terrier e um fox paulistinha em cada ponta,
o "passeador" (e maratonista) Mauro Severino, 42, não fica nem
ofegante quando termina a caminhada. "Ando com os cachorros depois do
meu treino da manhã", explica ele, que trabalha como porteiro.
A falta de tempo e o medo de assaltos, para quem só tem tempo de passear à
noite, também contribuem para que os moradores prefiram entregar seus cães
aos profissionais. "Tenho também clientes idosos, com dificuldade de
locomoção", conta Thiago Brandão, 29, que sustenta a família com o
dinheiro dos passeios.
"Já perdi a conta de quantos são no total, acho que uns 15", diz
Elias Pereira, que às 9h30 de quarta-feira subia pela quarta vez a ladeira da
rua Apinajés levando oito
cachorros de uma só vez. "Já sei até quantos cocôs
cada um faz", conta ele, que leva até três saquinhos por cachorro para
recolher a sujeira.
Para a hoteleira Maria do Rosário Toschi, 65, esses
rastros são a principal dor de cabeça de quem anda pela região. "Se
pisar em um gramado, é batata", reclama. Depois de espalhar placas com
os dizeres "Ajude seu cão a manter a rua limpa", ela afirma ter
visto diminuir o número de pessoas que levam seus cães para passear na sua
rua. "É preguiça de pegar", diz.
Fonte: Folha Online, acesso em 10/08/2009