Desde 2016, o vírus da febre amarela voltou a circular em algumas regiões do Estado de São Paulo em seu ciclo silvestre. Com 574 casos confirmados, o surto da doença já é o maior desde 1980, quando o Ministério da Saúde passou a disponibilizar dados da série histórica. De 1º de dezembro de 2016 a 30 de maio deste ano, a doença causou 187 mortes em 91 municípios do País.
A febre amarela é uma doença infecciosa febril aguda, causada por um vírus, que pode levar o indivíduo infectado à morte em cerca de uma semana se não for tratado rapidamente. Pode circular em dois ciclos básicos: o urbano e o silvestre. No ciclo urbano, não registrado no Brasil desde 1942, a transmissão se dá dentro de cidades pela picada do mosquito Aedes aegypti que, neste caso, é o vetor biológico, responsável pela disseminação da doença. No ciclo silvestre, a doença circula entre macacos e outros animais, transmitida por outras espécies de mosquitos.
Os sintomas apresentados pelos indivíduos acometidos incluem: febre, dor de cabeça, calafrios, enjoos, vômitos, dores no corpo, pele e olhos amarelados. Pode haver também sangramento nas gengivas e nariz, fezes escuras e urina no sangue. Estes sintomas surgem entre três e sete dias após a picada do mosquito. Nos casos mais graves podem aparecer, ainda, sintomas como problemas cardíacos, doenças nos rins e no fígado. “O diagnóstico precoce e o acompanhamento médico são de suma importância, uma vez que a fase aguda da doença apresenta sintomas graves e incapacitantes, e que pode durar meses”, alerta o médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e professor-associado da Faculdade de Medicina da PUC-SP, Dr. Marcos Vinícius da Silva.
De acordo com o Ministério da Saúde, os casos da doença foram notificados nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, São Paulo, Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso do Sul. “Se houver possibilidade, evite os locais com foco de mosquitos, use roupas que cubram o corpo, faça uso de repelentes e de mosquiteiros, e tome a vacina para prevenir-se”, indica o médico.
A atuação do médico-veterinário
Devido ao seu amplo leque de competências, o médico-veterinário está capacitado para planejar e executar medidas de prevenção e controle de enfermidades, como por exemplo, as arboviroses, que incluem o vírus da febre amarela, dengue, zika e chikungunya. Seus conhecimentos nas áreas de epidemiologia e saneamento ambiental o tornam apto a desenvolver atividades que antes eram comuns apenas a outros profissionais das equipes de saúde coletiva.
A médica-veterinária Karina Paes Bürger, docente do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal da Unesp Jaboticabal, Dra. Karina Paes Bürger, explica que o conceito de “Saúde Única” visa integrar a saúde humana, animal e ambiental, por isso, baseia-se na colaboração intersetorial. “As doenças têm origens multifatoriais, não estão ligadas a uma ou outra causa exclusivamente, mas sim, há diversos agentes que se relacionam. Assim, as arboviroses inserem o médico-veterinário na saúde ambiental, já que o vetor está ligado a este universo”, explica.
As alterações ambientais, como consequência das interferências antrópicas – tudo o que resulta da atuação humana – modificam o equilíbrio das relações entre o agente (vírus) hospedeiros (seres humanos) e o ambiente (vetor). “Desta forma, seja de cunho zoonótico, como a febre amarela, ou não zoonótico, como a dengue, o médico-veterinário deve compor equipes de trabalho multiprofissionais com o objetivo de orientar e esclarecer a relação da enfermidade com o ambiente, assim como as ações de prevenção e controle”, esclarece Karina.
Recentemente, médicos-veterinários do Programa de Residência em Área Profissional da Saúde – Medicina Veterinária e Saúde da Unesp Jaboticabal, realizaram ações epizoóticas de febre amarela no município e em algumas cidades vizinhas com o objetivo de propor e criar uma rede de investigação da doença. “A pesquisa foi composta pela colheita e avaliação de amostras dos casos suspeitos. Este trabalho foi essencial para fomentar e garantir o diagnóstico adequado”, disse a médica-veterinária.
As atividades foram realizadas em parceria com as vigilâncias sanitárias das regiões.
Orientações ao médico-veterinário
Qualquer informação sobre ocorrência de macaco doente ou morto, a recomendação é que os órgãos de saúde sejam acionados imediatamente. Isto pode ser feito por telefone, através dos números: 136, o Disque Saúde do Ministério da Saúde; (11) 3066-8296, a Divisão de Zoonoses do Centro de Vigilância Epidemiológica, que atende de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h; ou 0800-555466, o Plantão Médico do Centro de Vigilância Epidemiológica, que atende nos finais de semana e feriados.
É necessário reforçar que pessoas leigas não devem manipular os animais, devido ao risco de contaminação por outras doenças. Agressões a macacos devem ser denunciadas às autoridades do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), pelo telefone 0800-618080.