Os consumidores sentiram no bolso nos primeiros meses deste ano que o custo do litro de leite subiu nas gôndolas dos supermercados. A entressafra, que começaria em maio, foi antecipada por causa de fatores climáticos, o que gerou reflexos sobre os preços nas fazendas.
Pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) detalha que a média do litro do produto em maio (referente à produção entregue em abril) ficou 20,5% superior, em termos nominais, à igual período de 2009. O valor médio pago aos agricultores foi de R$ 0,80.
O estudo abrange a produção de leite dos Estados da Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Segundo o levantamento do Cepea, Goiás foi o local que registrou a maior elevação no valor do litro pago ao produtor em maio (R$ 0,8219). A variação foi de 7,08% em relação a abril. Em Minas Gerais, a remuneração média foi de R$ 0,8138 por litro (3,8% acima do mês anterior) e em São Paulo a evolução foi de R$ 0,49 por litro, que significou 6,6% a mais do que o quarto mês de 2010. O custo médio pago pelos intermediários da cadeia produtiva ficou em R$ 0,8020 por litro.
A pesquisadora de Mercado de Leite do Cepea, Aline Barrozo Ferro, afirma que os fatores climáticos influenciaram o movimento dos preços durante os cinco primeiros meses do ano. Ela salienta que houve uma queda gradativa da produção que antecipou a entressafra e provocou o aumento dos preços pagos pelo litro de leite. “O setor continua no período de queda na oferta do produto e detectamos recuo na captação de leite em todos os Estados produtores nos quais realizamos a pesquisa”, diz.
Aline comenta que há uma tendência de estabilidade do valor creditado a quem produz ou mesmo diminuição. “Há sinais no mercado que apontam para esse caminho. O mercado spot (comercialização de leite cru entre empresas), que é um termômetro do setor e antecipa tendências, sinaliza para uma queda no preço do litro”, analisa a especialista.
A pesquisadora do Cepea ressalta que o consumo em alta também estimulou a subida do preço do litro do produto. Ela destaca que dentro do Estado de São Paulo há importantes regiões produtoras como São José do Rio Preto, Campinas e Vale do Paraíba. “O maior polo produtor de leite paulista é a região de São José do Rio Preto”, afirma.
Aline frisa que a recuperação de preços registrada em 2010 foi uma das maiores da série histórica do Cepea. “A recuperação gerou uma melhora da rentabilidade do negócio. Insumos como farelo de soja e milho tiveram recuo de preços este ano. Os recursos que ficam a mais no caixa acabam sendo investidos na produção”, avalia. A especialista diz que a entressafra vai até setembro.
Cati Leite
A Coordenadoria de Assistência Integral (Cati), órgão ligado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA), tem um projeto para cuidar especificamente da produção de leite no Estado de São Paulo, o Cati Leite. O programa acompanha e dá suporte aos pecuaristas que participam da iniciativa, cujo início foi há uma década.
O gerente técnico do projeto e médico veterinário, Carlos Pagani Neto, afirma que o valor pago pelo litro do leite depende muito da região da bacia leiteira. Na região de São José do Rio Preto o mês passado fechou, segundo ele, com média de R$ 0,75 a R$ 0,78. O especialista não acredita que haverá queda nos preços, justamente porque haverá escassez de produto em decorrência da entressafra.
O programa Cati Leite tem como meta o desenvolvimento rural sustentável e que as ações vão desde a acomodação do rebanho à comercialização dos produtos. “As propriedades que participam do projeto têm pastos divididos em partes para que exista uma rotativa do uso do solo pelo gado leiteiro. Dessa forma, a pastagem se recupera e o rebanho tem alimento de qualidade durante todo o ano. Outra medida aplicada é garantir que os animais tenham durante o dia um local de descanso que propicie a eles conforto e bem-estar. Também atuamos com toda a parte sanitária e agora entramos em uma fase de aprimoramento da comercialização dos produtos”, detalha. Ele ressalta que as práticas elevam a produtividade do rebanho dos sítios e fazendas que estão no projeto.
As ações do Cati Leite têm, ainda, como resultado a preservação do meio ambiente, pois o gado não avança mais em áreas de preservação permanente. “As ferramentas apresentadas aos pecuaristas permitem controle da reprodução, manejo correto da pastagem, cuidado com a saúde de pessoas e animais, higiene na ordenha, preservação do meio ambiente e aumento da produtividade”, diz. Pagani Júnior comenta que a cadeia produtiva abrange o pecuarista, os laticínios que realizam a pasteurização e industrialização do leite e a indústria que usa o produto como matéria-prima.
Fonte: Cosmo (acessado em 08/06/10)