Equipes lideradas por médicos-veterinários desenvolvem tratamento com nanocorpos

Contribuição dos profissionais da Medicina Veterinária envolve o conhecimento que detêm em relação a doenças infecciosas e epidemiologia
Comunicação CRMV-SP

O Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (Cevap) da Unesp, campus de Botucatu, desenvolve – junto ao IB, à OPAS/OMS, ao Instituto Vital Brazil, à Fundação Ezequiel Dias e a empresas farmacêuticas brasileiras e americanas –, desenvolve um tratamento inovador baseado em nanocorpos para o combate à Covid-19 em pacientes infectados.

A coordenação geral do projeto é do médico-veterinário Rui Seabra Ferreira Júnior, pesquisador associado do Cevap e professor adjunto da Faculdade de Medicina. Seabra comanda uma equipe formada por médicos, farmacêuticos, bioquímicos, biólogos e sete médicos-veterinários.

A equipe multidisciplinar faz estudos imunológicos em lhamas, que ao serem desafiadas pelo novo coronavírus, fabricam anticorpos de baixa massa molecular e elevada capacidade neutralizante. A expectativa é a melhor possível até porque o conceito já teve sua eficácia comprovada em estudos recentes.

“Nosso desafio é transformar esta pesquisa em um medicamento. O uso de nanocorpos irá possibilitar o tratamento dos pacientes, de leves a graves, a partir de um medicamento administrado por spray nasal, que atuará diretamente sobre a replicação do vírus no organismo. Também poderá ser usado de maneira profilática em profissionais expostos constantemente ao vírus, impedindo a entrada e contaminação das células”, explica.

Próximos passos

De acordo Seabra, já foi finalizada a etapa de definição das melhores e mais rápidas estratégias para se chegar a um produto para ensaios clínicos em humanos e foram definidos também qual os antígenos virais baseados no Sars-CoV-2 que são utilizados para imunizar as lhamas.

“Pretendemos estar com o produto acabado e com testes pré-clínicos concluídos dentro dos próximos 10 meses, o que inclui testes para avaliar a segurança, eficácia preliminar in vivo e in vitro, e prover dose inicial para testes em humanos, além de controles de qualidade exigidos”, afirma Seabra, que também liderou equipe de produção do soro antiapílico, único tratamento específico no mundo destinado a acidentes causados por abelhas africanizadas.

Transformar o conhecimento de nossos laboratórios de pesquisa em tecnologias e bens para a população direciona minha carreira

(Rui Seabra Ferreira Júnior)

Os nanocorpos são indicados para o tratamento de várias doenças até então incuráveis e têm inúmeras vantagens em relação aos anticorpos tradicionais:

– rápidos clearance sanguíneo e penetração nas cédulas e nos diversos tecidos corporais;

– reconhecimento de epítopos intracelulares ocultos de difícil acesso;

– travessia da barreira hematoencefálica;

– elevado rendimento de expressão e produção em sistemas microbianos;

– armazenamento e formulação dentro do preconizado pela farmacopéia;

– fácil manipulação genética com elevada solubilidade;

– excelente estabilidade térmica;

– baixo potencial imunogênico, permitindo tratamentos com doses elevadas e de repetição.

Contribuição da classe e futuro de possibilidades

É fato que a multidisciplinaridade das equipes de pesquisa é determinante para alcançar os objetivos. Para Seabra, o profissional da Medicina Veterinária talvez seja um dos mais adequadas para este tipo de estudo, pois é capaz de compreender componentes básicos de uma doença por meio de seus aspectos bioquímicos, imunológicos, fisiológicos e patológicos.

“Por outro lado, está diretamente preparado para atuar na terapêutica e tratamento de pacientes, circulando assim com naturalidade em todas as fases do desenvolvimento de um novo medicamento. Logicamente, médicos deverão estar em contato com os pacientes nos ensaios clínicos, mas a visão macro do médico-veterinário o faz um profissional único para este fim”, enfatiza o pesquisador.

Certamente, a tecnologia com nanocorpos ajudará a produzir medicamento 100% nacional, possibilitando sua distribuição pelo SUS

(Rui Seabra Ferreira Júnior)

Capacidade e conhecimento técnico

Segundo a médica-veterinária, Renata Gemio dos Reis, responsável técnica do Instituto Butantan, o diagnóstico para a doença exige uma estrutura que permita um perfeito fluxo de trabalho, com áreas específicas separadas fisicamente, conhecimento em boas práticas de laboratório, qualidade em todo o processo e experiência em pesquisa básica e aplicada, ou seja, profissional capacitado e conhecimento técnico específico.

Coordenada pelo Instituto Butantan, a Plataforma de Laboratórios para Diagnóstico de Coronavírus no Estado de São Paulo é composta atualmente por 50 laboratórios com capacidade para realizar cinco mil análises por dia, podendo chegar a oito mil. Desde o dia 1 de março foram processadas e liberadas 75,1 mil amostras, mediante realização de exames do tipo RT-PCR, que identifica o material genético (RNA) do vírus.

O médico-veterinário pode enriquecer as pesquisas, tendo em vista seu conhecimento em relação a doenças infecciosas e epidemiologia

(Renata Gemio dos Reis)

Relacionadas

A imagem mostra o corpo de uma pessoa de jaleco branco segurando um tablet. No tablet está a capa do Manual de Conduta Ética do Médico-Veterinário e do Zootecnista na Ciência de Animais de Laboratório. Na capa do Manual consta o título Manual de Conduta Ética do Médico-Veterinário e do Zootecnista na Ciência de Animais de Laboratório, assim como o ano de 2024 e a imagem de um homem segurando tubos de ensaio e fazendo pesquisas. Ele está sentado em uma cadeira e os tubos de ensaio estão em cima de uma mesa.
Nota de pesar - João Henrique Bispo de Oliveira
Mulher de óculos, jaleco branco e luvas azuis manipula tubos de ensaio em ambiente de pesquisa/laboratório.
Nota de pesar: Prof. Dr. Raul José Silva Girio

Mais Lidas

Diagnóstico por imagem é uma das especialidades reconhecidas pelo CFMV
Crédito: Acervo CRMV-SP
Notebook com a tela inicial da Solução Integrada de Gestão do CRMV-SP (SIG CRMV-SP)
Responsável técnico é a figura central que responde ética, legal e tecnicamente pelos atos profissionais da empresa
Crédito: Freepik
Em São Paulo, a primeira instituição destinada ao ensino da Veterinária teve origem no Instituto de Veterinária, nas dependências do Instituto Butantan, no ano de 1919 Crédito da foto: Acervo Histórico/FMVZ-USP

Contato

(11) 5908 4799

Sede CRMV-SP 

Endereço: Rua Apeninos, 1.088 – Paraíso – CEP: 04104-021
Cidade: São Paulo

Newsletter

Todos os direitos reservados ao Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo – CNPJ: 50.052.885/0001-40