Com frequência cães e gatos chegam aos consultórios e clínicas médico-veterinárias apresentando estágio quatro de Doença Renal Crônica (DRC) e todas as complicações comuns a essa grave patologia, incluindo índices extremamente elevados de creatinina no sangue.
De acordo com a médica-veterinária Maria Cristina Santos Reiter Timponi, presidente da Comissão das Entidades Veterinárias do Estado de São Paulo do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), essa realidade é prova de que estabelecer uma cultura de prevenção e diagnóstico precoce dos problemas do trato urinário é um desafio a ser enfrentado pelos profissionais que atuam na clínica de pequenos animais.
“Posso afirmar que, dentre os pacientes crônicos, as patologias renais são a segunda mais incidente, perdendo apenas para as dermatológicas”, enfatiza Maria Cristina, que atua como clínica de pequenos animais há 30 anos.
Segundo a médica-veterinária, muitos chegam com sintomas – em decorrência da alta taxa de creatinina no sangue – que debilitam ainda mais o estado geral do paciente, como vômito, diarreia com sangue, ulcerações bucais que o impedem de se alimentar e até convulsões.
Tecnologia: contribuição para os tratamentos
Como em outras áreas da Medicina Veterinária, os equipamentos com recursos tecnológicos inovadores para diagnóstico e tratamento de doenças renais têm custo muito mais elevado que no exterior. “Isso dificulta a compra e a recuperação do investimento”, afirma o médico-veterinário Luciano Henrique Giovanini, presidente do Colégio Brasileiro de Nefrologia Veterinária.
Giovanini cita, como exemplo, as máquinas de hemodiálise contínua – Continuous Renal Replacement Therapy (CRRT) e o ureteroscópio. “O CRRT auxilia para tratar doenças renais, além de casos de intoxicação, de cardiopatias congestivas e doenças imunomediadas (como anemia hemolítica autoimune)”. Já o ureteroscópio ajuda nos tratamentos a partir da desobstrução de ureter de cães de porte grande e para a implantação de cateter ureteral.
Restrições para uso de fármacos
Quanto aos fármacos, Giovanini argumenta que dificuldades são semelhantes às enfrentadas pela Medicina Humana no Brasil. “Temos a fenilpropanolamina, para alguns casos de incontinência urinária, por exemplo, mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não autoriza o uso no Brasil”, afirma,
Com relação ao calcitriol suspensão oral e quelante intestinal de fósforo a base de lantânio, segundo o médico-veterinário, “não estão disponíveis nem para uso na Medicina Humana”, o que mostra a dimensão da dificuldade para que esses medicamentos se tornem recursos disponíveis na Medicina Veterinária brasileira.