Em porta-malas, animais sofrem com calor e risco de
contaminação.
Após denúncia, secretaria diz que vai enviar fiscalização.
Uma feira ilegal de
filhotes de cães coloca em risco a saúde dos animais e desafia
uma lei municipal todos os domingos nos arredores do Parque Villa Lobos, na
Zona Oeste de São Paulo. Mesmo com tempo seco e calor de 27°C como registrado
neste fim de semana, cachorrinhos de diversas raças eram expostos em
porta-malas de carros por preços entre R$ 250 e R$ 3 mil.
A lei municipal 14.483, sancionada em julho de 2007, diz que a venda de cães
e gatos em ruas, praças, parques e áreas públicas é proibida e as penalidades
vão de advertência à multa de R$ 1 mil a R$ 500 mil.
Ela prevê ainda que, mesmo em pet shops, os animais não podem ficar expostos
por mais de seis horas e não devem ter contato com os frequentadores
do estabelecimento.
Apesar de a legislação estar em vigor há dois anos e recentemente a Prefeitura
ter anunciado medidas a favor da posse responsável, tanto a Secretaria de
Coordenação de Subprefeituras quanto o Centro de Controle de Zoonoses não têm
informações sobre apreensões ou multas neste período no local.
Na região das avenidas Professor Fonseca Rodrigues e Queiroz Filho, o G1
localizou aproximadamente 20 carros. Dentro dos veículos, animais dividem
espaço com alto-falantes e outros objetos à espera de um dono. Postados ao
lado dos carros, criadores dizem garantir a saúde e a origem dos animais, mas
permitem atitudes que colocam os bichos em risco.
Apenas dois vendedores demonstraram cuidados em relação à higiene. Em um dos
carros, a dona dos filhotes pediu para que não deixasse o filhote lamber as
mãos do interessado na compra e outra ofereceu álcool em gel, caso quisesse
fazer carinho no cachorro. Nos demais casos, os animais podiam ser
manipulados à vontade.
Segundo o veterinário Wilson Grassi, diretor de
bem-estar da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais
(Anclivepa), o contato com clientes e outros
animais pode transmitir doenças para os filhotes. “A mão pode ser um veículo
de transmissão de doença. O álcool ajuda, mas não resolve. Ele pode pegar doença direto do ambiente, do ar. Se um cachorro espirra,
pode transmitir aos cachorros ao redor”, explica Grassi.
Entretanto, o que mais assusta o especialista é o
calor e o improviso na exposição dos animais. “Eles podem ficar sem água, no
sol, sem comida, e, invariavelmente, podemos encontrar cachorros com viroses
incubadas”, alerta Grassi. Segundo ele, a alta
temperatura pode levar à hipertermia, à
desidratação e a desarranjos intestinais. “É contra lei [a feira] porque não
oferece condições mínimas de bem-estar”, afirmou.
Sem apreensões
Segundo a veterinária responsável pelo setor de vistoria zoosanitária
do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), Solange Germano, nenhuma apreensão
foi feita depois que a lei 14.483 foi regulamentada. O CCZ é o órgão
responsável pelas apreensões e trabalha em ações conjuntas com as subprefeituras.
"Já estivemos três ou quatro vezes na região desde 2007 e a única
apreensão feita foi antes da lei ser regulamentada", afirma Solange.
A Secretaria das Subprefeituras informou, após ser procurada pela reportagem,
que vai acionar a Subprefeitura da Lapa para realizar a fiscalização nas
imediações do parque.
Compra segura
Na compra de um cão, uma série de procedimentos devem ser
verificados. Os cachorros têm que ter microchip, que identifica o
animal e serve como registro, as vacinas têm que estar
em dia, eles só podem ser retirados de perto da mãe depois de 60 dias de
vida, entre outras medidas.
Uma dica importante é procurar o local adequado. “Não compre na feira. No pet
shop, com muitas ressalvas. Compre direto do canil, visite a criação, conheça
o pai, a mãe [do cachorro] e o ambiente”, aconselha o veterinário.
Outra possibilidade é a adoção. “Temos milhares de animais sem dono, passando
frio e fome. Em uma situação dessas não deveríamos estimular a compra”, diz Grassi. A Prefeitura mantém um site para quem pensa
adotar um animal. O serviço é gratuito.
Fonte: G1, acesso em 11/08/2009