As festas de fim de ano promovem muitos encontros, agitam a rotina da casa, e são momentos de celebração, mas para quem tem pet é preciso atenção redobrada. Afinal, alimentos inadequados ofertados por convidados e até pelo próprio responsável pelo animal podem provocar uma visita de emergência ao médico-veterinário em pleno Natal ou Ano Novo.
Médica-veterinária e conselheira efetiva do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), Tatiana Lembo Silveira de Assis alerta que muitos alimentos típicos das festas de fim de ano são perigosos para cães e gatos e, mesmo que pareçam inofensivos, podem causar problemas sérios.
“Chocolates, carambola, uvas (frescas ou passas), por exemplo, podem causar intoxicações graves nos pets. Carnes temperadas, com excesso de sal ou gorduras, também devem ser evitadas, pois podem provocar problemas como pancreatite ou distúrbios gastrointestinais. Alimentos preparados com alho e cebola podem trazer anemias severas como consequência”, alerta.
Segundo a médica-veterinária, ossos cozidos ou assados, principalmente de aves e suínos, representam um grande perigo, já que podem formar fragmentos pontiagudos e causar perfurações ou obstruções no trato digestivo. “Além disso, doces e produtos, que contenham adoçantes artificiais, como o xilitol, são altamente tóxicos e podem levar a quadros de hipoglicemia severa, e até mesmo o açúcar comum pode trazer sérios riscos à saúde de nossos pets”, explica a conselheira do Regional.
Para a fiscal médica-veterinária do Conselho, Mariana Moraes Dionysio de Souza, caso o responsável costume oferecer alimentos ao pet durante as refeições da família, é preciso se preocupar, ainda, com a quantidade.
“Quando oferecidos várias vezes, por várias pessoas diferentes, os animais acabam comendo uma quantidade muito acima do recomendado. Deve-se fazer um paralelo, uma fatia de carne para uma pessoa de 80 kg pode ser pouco, mas para um cachorro pequeno de 3 kg, por exemplo, é muito e pode resultar em problemas gastrointestinais. O recomendado é que o animal, caso tenha o hábito de ficar pedindo alimento, seja retirado do ambiente no momento das refeições, diminuindo, assim, o risco de intoxicações”, afirma Mariana.
Cuidado com as sobras
As sobras de alimento esquecidas nos pratos também merecem atenção. Carnes temperadas, saladas com maionese e temperos variados, sobremesas com altos níveis de açúcar ou adoçantes artificiais, e chocolate podem causar intoxicações graves.
“Até mesmo um pequeno pedaço desses alimentos pode levar a consequências sérias para a saúde dos animais, como distúrbios metabólicos e neurológicos. Por isso, é crucial que os restos de comida sejam descartados adequadamente, evitando que estejam ao alcance dos pets, e que os responsáveis estejam atentos para evitar que os animais tenham acesso a qualquer alimento impróprio”, orienta a médica-veterinária e conselheira do Regional.
É fundamental orientar os convidados sobre esses riscos para garantir que os pets tenham acesso apenas a petiscos específicos ou pequenas porções de frutas seguras, sempre com moderação. “Assim, é possível aproveitar as festas sem comprometer o bem-estar dos animais”, enfatiza Tatiana.
Mariana lembra, ainda, que os restos de alimentos, por vezes, ficam expostos muito tempo no ambiente, em altas temperaturas. Dessa maneira, principalmente as carnes e derivados do leite, podem ter sofrido processo de deterioração, levando a quadro de intoxicação severa. “Neste contexto, nos referimos especialmente aos cães, pois os felinos são mais seletivos para alimentação, por essa razão os quadros de intoxicação alimentar nesses animais não são tão comuns.”
Altas temperaturas
Levando-se em conta que, no Brasil, Natal e Ano Novo acontecem no verão, quando as temperaturas passam dos 30 graus, a importância de manter a rotina alimentar e a hidratação adequada dos pets é ainda maior.
“O calor intenso pode aumentar o risco de desidratação e levar à perda de apetite, o que torna mais importante oferecer água fresca e limpa ao longo do dia, trocando-a regularmente para mantê-la atrativa”, explica Tatiana.
A alimentação deve ser mantida nos horários habituais, com porções adequadas às necessidades do pet, evitando alterações bruscas que possam causar desconforto gastrointestinal. “Oferecer petiscos saudáveis e hidratantes, como frutas seguras e congeladas, pode ser uma forma agradável de complementar a dieta e ajudar no alívio do calor”.
Mariana ressalta que nas altas temperaturas, além do calor, o estresse causado pela música alta e a presença de muitas pessoas na casa pode ajudar no superaquecimento. “No caso de cães com o focinho achatado, é recomendo mantê-los em locais mais frescos, longe do movimento e calor intenso.”
Opções de petiscos saudáveis
Confira a seguir algumas opções elencadas pelas profissionais do CRMV-SP:
Frutas: maçã, banana, mamão, melancia e manga;
Legumes cozidos sem tempero: cenoura, chuchu, abobrinha e batata-doce;
Proteínas: carne magra, frango e ovos;
Petiscos industrializados: práticos e formulados para atender às necessidades nutricionais dos animais de forma segura.
É essencial que o médico-veterinário do pet seja sempre consultado, pois algumas condições de saúde exigem cuidado redobrado. É o caso de alergias alimentares e doença renal crônica, por exemplo. Esses pacientes apresentam restrições alimentares que devem ser respeitadas para evitar crises e agravamento das doenças.
“É importante lembrar que todos os petiscos devem ser oferecidos em pequenas quantidades e como complemento à alimentação habitual, evitando excessos que possam causar desconforto ou desequilíbrios”, explica Tatiana.
A fiscal médica-veterinária destaca que os petiscos naturais feitos de cartilagem, como orelha de suíno, e ossos como o fêmur bovino, “além de serem mais saudáveis, seu consumo, pelo tempo de mastigação necessário, ajuda a diminuir a ansiedade para que o animal fique menos suscetível ao som de fogos de artifício ou música alta”.
Receitas caseiras
Para evitar que os pets sejam atraídos pelas mesas de Natal e Ano Novo, opções feitas em casa podem ser uma boa pedida. Frutas congeladas, como banana ou pedaços de maçã sem sementes, podem ser transformadas em picolés refrescantes, especialmente para os dias mais quentes, adicionando um pouco de água e congelando em recipientes como, por exemplo, forminhas de gelo.
“Essas opções são seguras e ainda ajudam a entreter os animais. Legumes cozidos, como cenoura, abobrinha, chuchu, brócolis e batata-doce, podem ser oferecidos em pequenos pedaços ou até moldados em formatos divertidos, como pequenos biscoitos naturais”, recomenda Tatiana.
Outra ideia é preparar um bolo ou biscoitos caseiros usando ingredientes seguros, como farinha de aveia, ovos e pedaços de frutas ou legumes, sempre oferecidos em pequenas quantidades. “Deve-se sempre evitar adição de açúcar, sal, temperos ou ingredientes tóxicos para garantir que a preparação seja totalmente adequada às necessidades dos pets”, reforça a conselheira.
Para Mariana, os sachês congelados refrescam e proporcionam distração ao animal, pois ele pode ficar um bom tempo lambendo para conseguir ingerir. “No caso dos animais com problemas de sobrepeso, um dos poucos alimentos recomendado como petisco é o chuchu, legume que pode ser oferecido à vontade, cozido e temperado com um pouco de pimenta do reino para aumentar a palatabilidade”, explica a fiscal médica-veterinária.
Perigo à vista
O ambiente em que os pets circulam durante as festas de fim de ano é outro ponto de atenção. Tatiana lembra que as decorações típicas como luzes, fios, enfeites brilhantes e plantas ornamentais podem chamar a atenção dos animais e representar riscos significativos à sua segurança.
“Fios elétricos, por exemplo, podem causar choques se mastigados, enquanto enfeites quebráveis podem provocar cortes ou até serem engolidos, resultando em obstruções intestinais ou intoxicações. Além dos perigos associados às decorações, é importante estar ciente das plantas que costumam adornar nossos lares durante as festas. Espécies como o lírio e a bico-de-papagaio são tóxicas para cães e gatos, e devem ser mantidas fora do alcance dos animais”, recomenda a conselheira do CRMV-SP.
Para evitar estresse e garantir o bem-estar
Outro aspecto a ser considerado é o impacto da música alta e dos fogos de artifício, sons que podem causar estresse significativo nos pets, levando a problemas físicos como taquicardia ou tentativas de fuga.
“Uma dica é brincar bastante com o animal antes dos convidados chegarem e, em seguida, deixá-lo descansar em um ambiente calmo. O uso de música clássica é uma boa opção para ajudar a abafar o som externo”, afirma Mariana.
Tatiana aconselha criar um espaço seguro e tranquilo para os animais, equipado com brinquedos e objetos familiares que os ajudem a se sentir mais confortáveis. “Uma luz azul no ambiente onde o pet se encontra, músicas instrumentais calmas ou com barulhos de elementos da natureza, podem diminuir consideravelmente o estresse”.
O responsável pelo animal também deve fazer uma análise criteriosa do ambiente e agir preventivamente evitando que ele tenha acesso a locais por onde possa escapar. Além disso, a utilização de coleira com identificação e número de contato pode ajudar a dar um final feliz para possíveis ocorrências de fuga.
Aromaterapia
O uso de difusor ultrassônico com óleos essenciais como lavanda e bergamota, podem auxiliar no relaxamento dos animais, porém, é preciso se atentar às dosagens que, no caso dos pets, precisam ser bem reduzidas e diluídas em água. Mais um motivo para procurar a orientação de um médico-veterinário atualizado e responsável. “Ao utilizar óleos essenciais é importante que o animal possa sair do local caso se incomode com o odor do ambiente”, explica a conselheira.
Para gatos e outros animais mais sensíveis, Tatiana recomenda o hidrolato em substituição aos óleos essenciais, pois é menos concentrado e mais suave. Para a dosagem correta, é importante consultar um médico-veterinário integrativo especializado na área de Aromaterapia. “Por fim, é sempre importante lembrar que qualquer mudança no comportamento ou sinais de desconforto nos pets devem ser avaliados por um médico-veterinário. Se o pet já apresenta um histórico de agitação extrema nestas ocasiões, um veterinário especializado em comportamento animal deve ser consultado com antecedência, para que possam ser definidas estratégias adequadas a cada pet e seu entorno. Assim, garantimos que as celebrações de fim de ano sejam seguras e alegres para toda a família, incluindo nossos amados companheiros de quatro patas”, conclui Tatiana.