Indústria de alimentos para pássaros enfrenta mudanças

Na última década, a indústria de alimentos para pássaros vem passando por grandes modificações conceituais, e, à semelhança da indústria de alimentos comerciais para cães e gatos, também enfrenta resistências na quebra de paradigmas. O maior deles é a prática de alimentação baseada em sementes como tentativa de reproduzir os hábitos dos animais na natureza.

Entretanto, uma alimentação composta somente por sementes pode provocar uma série de distúrbios carenciais. Como exemplo, os níveis proteicos da maioria das sementes podem ser suficientes para suportar as necessidades de manutenção de um pássaro adulto fora do período reprodutivo ou muda, mas não são capazes de satisfazer as exigências nas fases de crescimento e postura, entre outros. Paralelamente, como os pássaros comem maior quantidade de sementes na natureza, devido ao maior gasto energético em vida livre, eles absorvem uma quantidade de nutrientes dessas sementes maior do que em cativeiro, onde o consumo delas é menor.

Além disso, como as sementes fornecidas por nós foram cultivadas, processadas, armazenadas e transportadas, possuem grandes quantidades de fungos, bactérias e produtos alergênicos e, portanto, geralmente estão envolvidas, direta ou indiretamente, na maioria dos problemas de saúde das aves de gaiola. Existe, ainda, o risco de estarem contaminadas por agrotóxicos. Todos esses fatores podem provocar o óbito, afetar órgãos como fígado e rins ou debilitar a resistência das aves a outras doenças.

O uso contínuo e exagerado de sementes de má qualidade acaba levando os criadores a usarem grandes quantidades de antibióticos e outros produtos químicos com sérias consequências de curto e longo prazo sobre as aves. Deve-se enfatizar que na prática é inviável ao criador atestar a qualidade das sementes, pois a observação visual está longe de ser suficiente.

A alimentação dos animais de companhia, mais especificamente cães e gatos, também passou por uma evolução visível nas últimas décadas. Na década de 80, a maioria desses carnívoros ainda era alimentada com os restos de comida e poucas indústrias de rações existiam no Brasil. A evolução dos hábitos em favor dos alimentos industriais está associada a um conjunto de fatores cada vez mais difundidos: alimentação sadia, equilibrada e com grande variedade de produtos disponíveis no mercado e, principalmente, a praticidade. Entretanto, o crescimento deste segmento foi gradativo, devido principalmente à relutância dos proprietários em oferecer somente alimento comercial a seus animais.

É evidente que animais acostumados à alimentação caseira, composta basicamente de produtos cárnicos de elevada palatabilidade, apresentaram problemas com adaptações. Além disso, o pequeno volume de ingestão dos alimentos comerciais, quando comparados aos alimentos caseiros, com alto teor de umidade, criaram o falso conceito de que os animais diminuíam o consumo drasticamente, o que, na verdade, não ocorria. Atualmente os paradigmas foram rompidos e sabe-se que, embora carnívoros selvagens alimentem-se com monodietas cárnicas, estas não são adequadas sanitária e nutricionalmente para nossos carnívoros domésticos.

Fato semelhante está ocorrendo atualmente com alimentos extrusados para pássaros. Existe uma grande resistência dos proprietários que insistem no tradicional modelo de criação baseado em sementes, complementos diversos e uso considerável de medicamentos. Paralelamente, existe uma inclinação a acreditar que o alimento ideal é aquele que o pássaro consome em grande quantidade. Assim, despreza-se o fato de que, como ocorre com todos os animais superiores, nem sempre o alimento de melhor paladar é aquele que oferece melhor nutrição. Mais ainda, alimentos pouco energéticos ou de baixa digestibilidade certamente levam a um maior consumo pela ave, fato bem conhecido entre os super premium em detrimento das rações de linhas econômicas.

A extrusão consiste em submeter o alimento a variações de pressão abruptas, elevando a pressão interna do alimento e diminuindo a externa, o que causaria uma expansão da matéria. A tecnologia de expansão leva à considerável melhoria do valor energético do alimento ao intensificar a digestibilidade do alimento. Além disso, elimina microorganismos patogênicos como bactérias e fungos, entre outros (a diminuição de bactérias patogênicas, mofos e fungos pode chegar a zero com a combinação de temperatura, pressão e umidade nas extrusoras) e reduzem os níveis de substâncias inibidoras de crescimento e outros fatores antinutricionais, desde que termolábeis. Os extrusados possuem maior densidade nutricional (teores energéticos, protéicos, de minerais e vitaminas mais altos) e flexibilidade da utilização como dieta única ou como base majoritária de uma dieta múltipla, com ração, sementes e frutas.

Além da extrusão como um fator que agrega qualidade ao produto, os alimentos completos balanceados normalmente vêm acrescidos de vários nutrientes funcionais, tais como fibras solúveis, probióticos, prebióticos (frutooligossacarídeos e mananoligossacarídeos), ácidos graxos poliinsaturados, enzimas exógenas (lípases, proteases, amilases), adsorventes de micotoxinas e minerais quelatados. Outro fator importante é a homogeneidade dos alimentos extrusados, que impossibilita que as aves possam escolher os ingredientes com consequente desbalanceamento da alimentação.

Esses alimentos estão cada vez mais comuns na Europa e EUA, com tendência a dominar o mercado. A desvantagem está no tempo necessário para que a ave se acostume a consumi-los. Como toda introdução de novos alimentos, torna-se necessária uma adaptação, respeitando-se o período necessário para adaptação enzimática do trato gastrintestinal, permitindo também que a ave se acostume à apresentação do novo alimento. A troca abrupta e total das sementes pelo alimento completo balanceado pode levar a distúrbios digestivos e inanição, em aves mais resistentes ao novo alimento. As sementes podem, inclusive, ser mantidas, em pequenas quantidades, de modo a proporcionar uma terapia ocupacional aos pássaros.

Fonte: PetMag (acessado em 22/07/2011)

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