A Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária (FCAV) da Unesp, em Jaboticabal, colocou em atividade uma facilitie, uma central que prestará serviços de sequenciamento de informações genéticas. A criação desse centro de referência nacional foi possível graças à aquisição de um equipamento chamado HiScan, fabricado pela empresa americana de tecnologia industrial Illumina. Sua importação custou 1,18 milhão de dólares e foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). É a primeira vez que o dispositivo é usado na América Latina.
A máquina é uma espécie de scanner que analisa o material genético contido em um chip de alta densidade fabricado pela mesma empresa. O chip tem a função de uma lâmina em que são depositados pedaços do material genético coletado. O equipamento faz o sequenciamento com mais velocidade do que os métodos adotados no País até então. Ele também destaca com precisão os SNPs (single nucleotide polymorphism ou polimorfismos de base única), que são marcadores genético-moleculares.
O chip utilizado é capaz de mostrar uma variedade alta de SNPs. Ao identificar essa grande quantidade de marcadores, a tecnologia permite que os cientistas façam uma série de aplicações, como verificar mutações genéticas e selecionar indivíduos com determinadas características para reprodução e melhoramento da espécie. “Já fazíamos isso antes, mas dependíamos de laboratórios dos EUA, para onde tínhamos que enviar nossos materiais para análise”, afirma a coordenadora da facilitie, a bióloga Eliana Gertrudes de Macedo Lemos, professora do Departamento de Tecnologia da FCAV.
O equipamento da Unesp atenderá tanto a demandas dos pesquisadores envolvidos nos projetos da Universidade como as de estudiosos de outras instituições, públicas ou privadas, inclusive de empresas e produtores. Para isso, os interessados devem enviar amostras de DNA para a FCAV e arcar com os custos do procedimento, que, para quem já tem o chip da Illumina fica em torno de 50 dólares. Segundo Eliana, diferentes áreas do conhecimento serão beneficiadas, como biotecnologia, melhoramento genético animal e agropecuária. A professora cita análises de material humano como uma das solicitações que já foram atendidas.
A primeira utilização do HiScan foi em um projeto que busca melhorar a qualidade da carne bovina por meio da genotipagem de 48 animais machos da raça nelore. O procedimento levou três dias e foi concluído em maio. Intitulado “Ferramentas genômicas no melhoramento genético de características de importância econômica direta em bovinos da raça nelore”, o estudo é coordenado pela veterinária e zootecnista Lucia Galvão de Albuquerque, professora do Departamento de Zootecnia da FCAV.
A genotipagem identificou 777.622 SNPs, 499.086 deles polimórficos, isso é, úteis para estudos de associação e seleção genômica. Esse resultado representa uma cobertura do genoma de zebuínos trinta vezes maior do que os procedimentos adotados anteriormente no Brasil. Um resumo dos resultados obtidos com esse primeiro trabalho foi enviado para a reunião conjunta da American Society of Animal Science e Asociación Argentina de Producción Animal.
Dois projetos de grande porte da Unesp foram viabilizados com a aquisição da máquina e já estão em curso. Um deles é uma análise de material genético de mais de seis mil bovinos de corte, que contribuirá pra o melhoramento da carne. O outro é a genotipagem do Mico-leão-de-cara-preta (Leontopithecus caissara), iniciativa realizada em parceria com o Zoológico de São Paulo. “Esse primata está ameaçado de extinção. Ao fazer a genotipagem, podemos evitar cruzamentos de indivíduos com parentesco. Isso permitirá uma melhoria genética e mais chance de sobrevida dos animais que nascerem após a seleção”, explica Eliana.
Fonte: Portal Fator Brasil (acessado em 24/10/2011)