Matança de peixe-boi no AM também é culpa do consumidor, diz INPA

Sob ameaça de extinção no Brasil, seis filhotes de peixes-boi foram resgatados em situação de risco pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), durante o primeiro semestre de 2014. Os municípios de Manacapuru e Barreirinha, a 68 e 331 km de Manaus, respectivamente, lideram a lista de cidades do Amazonas com maior registro de ocorrências contra a espécie. Segundo o médico veterinário do INPA, Anselmo D’affonseca, a caça ilegal para consumo da carne ainda é a principal ameaça sofrida pelo animal na região amazônica.

Atualmente, 59 peixes-boi seguem em tratamento na sede o Inpa, localizada na Zona Sul de Manaus. Destes animais, pelo menos 80% chegaram órfãos à unidade após ter a mãe morta por caçadores, conforme relatou D’affonseca ao G1. “A maioria dos peixes-boi chega aqui ainda filhote. A estratégia dos caçadores consiste em abater a mãe, que fica mais exposta pela presença do seu filhote, pois ele ‘denuncia’ a presença da mãe. Isso é o pior de tudo, porque eles retiram todas as matrizes reprodutoras e propiciam a extinção do animal”, disse.

Uma das estratégias de caça, de acordo com o médico veterinário, baseia-se na utilização do filhote para chamar a atenção da genitora. Ainda inexperiente e sempre acompanhado pela mãe, o recém-nascido sobe à superfície da água de minuto a minuto para inalar oxigênio. Desta maneira, o comportamento “ansioso” do filhote serve como um localizador para os caçadores, que amarram o pequeno peixe-boi na espera da aproximação da mãe. Maior e mais “valiosa” para o mercado, a presa é, então, facilmente capturada pelos caçadores.

Segundo D’affonseca, além da caça ilegal, outras circunstâncias colocam o peixe-boi em perigo no Amazonas. “Fora os filhotes órfãos que chegam aqui, existe uma porcentagem, cerca de 20%, de casos de pequenos peixes-boi que ficam presos em redes de pesca. Normalmente, os pescadores colocam a malhadeira no final do dia para conferir apenas na manhã seguinte. Nesse tempo o filhote fica preso durante horas e acaba ficando bastante machucado”, explicou.

O médico veterinário relatou, ainda, que há casos raros em que filhotes são encaminhados ao INPA após serem rejeitados pelas mães. A ocorrência ocorre principalmente devido ao mau desenvolvimento do filhote, ou ainda por conta da inexperiência das mães “de primeira viagem”. Situações de maus-tratos decorrentes da manutenção do animal em cativeiros inapropriados também compõe uma pequena parcela dos regastes realizados pelo Instituto.

Recém-reformulada, após uma tentativa frustrada de reintegração de peixes-boi na região do Cuieiras, no Rio Negro, em 2008 e 2009, a etapa de “pré-soltura” dos animais ocorre atualmente em um lago de piscicultura situado no município de Manacapuru, desde outubro de 2012. Na área de 14 hectares, 12 peixes-bois convivem juntos. Seis deles foram resgatados pelo INPA e encaminhados ao local para readaptação à natureza.

“Eles estão no local há pouco mais de um ano. Nós os recapturamos depois de todo esse tempo e verificamos que os animais estão hoje em excelentes condições. Isso indica que eles estão 100% aptos a viver, pois não interagimos em nenhuma circunstância com o animal, que sobreviveu às próprias custas, mantendo o peso com os alimentos encontrados por eles mesmos”, afirmou o médico veterinário.

O processo de soltura completa dos animais deve ocorrer ainda neste ano. Para Anselmo, a maneira como os peixes-bois recém-reintegrados reagirão no habitat natural deve contribuir com estudos acerca da recuperação da espécie. “Tudo ocorre de uma maneira muito lenta, pois precisamos fazer exames para não introduzir doenças ao meio ambiente natural, observar se ele realmente tem condições, além de monitorar o animal durante alguns meses. Não é apenas cuidar e soltar. É uma grande ‘operação’ para nós”, concluiu.

Fonte: Ambiente Brasil.

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