Medicina Veterinária Sistêmica é, antes de tudo, inclusiva

Filosofia em prol da vida, vertente contribui para a humanização e o autoconhecimento
Texto: Divulgação CRMV-SP / Foto: Freepik

A Medicina Veterinária Sistêmica é uma filosofia de integração e não de exclusão. A médica-veterinária Carla Abreu Soares, graduada pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, fundadora e presidente do Programa de Formação em Medicina Veterinária Sistêmica no Brasil e no Exterior, ressalta que a visão sistêmica é uma filosofia de aplicação em prol da vida e vem para complementar o desenvolvimento do ser humano em relação à própria espécie e à sua relação com outros animais, contribuindo para a humanização da Medicina Veterinária.

“Dentro da Medicina Veterinária temos uma frase, repetida diversas vezes, extremamente perigosa, que é ‘gosto mais de animais do que de gente’. Quando analiso essa frase, aparentemente inocente, dentro da nossa profissão, entendo o tamanho da dor que permeia a Medicina Veterinária, que é um campo extremamente pesado, de competição, de agressividade, porque nossas relações humanas estão fragilizadas dentro de uma psique infantil”, alerta Carla.

Ainda segundo a médica-veterinária, no mercado há profissionais muitas vezes até com PhD, mas com uma mentalidade e uma postura extremamente infantis nas relações humanas, fragilizados, temerosos, agressivos pelo medo e pela desconfiança, devido à falta de conhecimento de si próprio. “A Medicina Veterinária Sistêmica vem para colaborar, contribuir junto à visão convencional, cartesiana, da metodologia da formação de um médico-veterinário”, afirma Carla, que tem pós-graduação em Conservação da Amazônia e Animais Silvestres pela Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária/Universidade Federal do Pará, e é mestranda em Psicanálise.

No Brasil, existem médicos-veterinários com formação e visão sistêmica há pelo menos 10 anos. Entretanto, somente a partir de 2017, esse trabalho começou a ser evidenciado, estruturado, pesquisado e estudado. Carla ressalta que os profissionais médicos-veterinários perceberam que o animal foi aprofundando as relações interespécies, saiu da natureza, foi domesticado, teve seus genes alterados, passou a ser um animal de segurança, caça e companhia. Antes ficava nos jardins, nas fazendas, nos sítios e aos poucos foi migrando para dentro da área residencial, mais domiciliado, num processo de incorporação de uma espécie nova dentro do âmbito familiar.

“Com isso, houve a necessidade do médico-veterinário também se estruturar para conter essa demanda de um animal considerado um membro da família. É quando realmente a Medicina Veterinária Sistêmica ganha um corpo e é colocada no mundo de forma efetiva, sendo o Brasil pioneiro nesse trabalho”, salienta Carla.

Para o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo, Fábio Manhoso, a Medicina Veterinária Sistêmica traz uma visão humanística e holística diferenciada de encarar doença, saúde e família.

Um profissional preparado para uma abordagem terapêutica familiar, assim atua o médico-veterinário sistêmico. “Ele não olha só para o animal, mas para o sistema familiar, para as relações intrafamiliares, identificando esses pontos de dor que são projetados ocultamente no animal e que causam vários prejuízos clínicos, comportamentais, biológicos e de desenvolvimento”, enfatiza Carla.

Autoconhecimento e autocuidado

Dentro do Programa de Medicina Veterinária Sistêmica no Brasil, do qual Carla é fundadora, há também um olhar de autodesenvolvimento humano e de autocuidado. Ela explica que esse trabalho da visão sistêmica surge como um aprimoramento no autoconhecimento, auxiliando no desenvolvimento humano em uma profissão que tem no mundo um dos maiores índices de Síndrome de Burnout e suicídio.

“Começamos a estudar de onde surge essa dor, porque é potencializada dentro da nossa profissão e o que está oculto, ou seja, inconsciente nessas dinâmicas onde o médico-veterinário extrapola os seus limites de horário, de trabalho, extremamente técnicos muitas vezes, com baixa autoestima e sentimento de autodesvalorização”, afirma Carla, destacando que ao estudar profundamente por meio da visão sistêmica, entende-se que o problema muitas vezes surge e é desenvolvido nas relações primais, na infância desse profissional, dentro da família de origem, sendo externado em sua vida adulta e em seu comportamento nas relações interpessoais.

Visão Sistêmica e a Ética

O livro “Visão Sistêmica e a Ética”, que será lançado nos dias 3, 4 e 5 de março, em evento realizado no Forte Barão do Rio Branco, em Niterói (RJ), é resultado de um trabalho profundo a partir do olhar multidisciplinar de 10 profissionais de áreas diferentes, como médicos-veterinários, psicólogos, psicanalistas, professores, filósofos, defensores públicos, juízes e ministros do Superior Tribunal Militar, sobre o que significa a ética dentro de uma filosofia nova para o Brasil e para o mundo e, sobretudo, para a Medicina Veterinária.

A publicação é a quinta desenvolvida pelo Programa de Formação em Medicina Veterinária Sistêmica no Brasil e no Exterior, que, ao longo de seis anos, estudou as relações, a postura do profissional e a importância da humanização, tendo cuidado para não se sobrepor a determinadas áreas profissionais, como a Psicologia, Psicanálise ou mesmo a Psiquiatria, e, consequentemente, atentando-se para as questões éticas.

“Isso porque estamos entrando num campo sagrado, todo sistema familiar é sagrado. Então, um profissional da área de saúde, que seja um médico-veterinário, preparado para atuar e facilitar essas dinâmicas dentro do âmbito familiar, tem de ter essa consciência. Ele está entrando num campo sagrado em que existem dores, segredos de família, questões de herança, enfim, detalhes de uma intimidade que precisam ser respeitadas dentro de uma postura ética”, enfatiza Carla.

Durante o evento, haverá treinamento com exercício sistêmico, aulas e passeios dentro dos fortes que estão no 21º Grupo de Artilharia de Campanha do Exército, e palestras do juiz de direito, Sami Storch, pioneiro na introdução da visão sistêmica dentro do Direito, e do vice-presidente do CRMV-SP, Fábio Manhoso, que apresentará palestra sobre ética no ensino.

“Quando levamos para o ensino questões humanísticas está provado que o aluno consegue absorver muito mais as informações acadêmicas e, consequentemente, ter uma melhor formação. Então, acredito que essa relação tem de ser de respeito mútuo, onde a ética prevaleça. Isso tudo se relaciona com a visão sistêmica, aí prevalece a competência humanística que, inclusive, é um dos pontos de nossas Diretrizes Nacionais Curriculares da Medicina Veterinária, a qual aborda o fato de que temos de formar cidadãos, líderes e empreendedores”, enfatiza Manhoso.

Serviço – para se inscrever para o lançamento do livro e para o treinamento, acesse o link:

Live/convite

No dia 25 de janeiro, acontece uma live, às 20h, para que os autores e palestrantes possam apresentar a obra, trazer perspectivas sobre a Medicina Veterinária Sistêmica e fazer um convite para o treinamento e o lançamento que serão realizados em março, em Niterói.

Para participar da live, acesse: https://us06web.zoom.us/j/88003055628?pwd=ZmVkenZ2ODI3bXR2UlBPbjN4UkI3UT09

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