A Itambé, maior indústria de
laticínios com capital nacional, quer dobrar a quantidade de leite longa vida
e chegar ao final de 2009 com uma produção mensal de 10 milhões de litros.
Para atingir essa meta, o presidente da empresa, Jacques Gontijo, não
descarta a aquisição de uma unidade industrial no Estado de São Paulo.
"Foi criada uma reserva de mercado pelo governo paulista ao taxar o ICMS
em apenas 1%. Em Minas pagamos 18%", compara Gontijo justificando o
interesse.
Até pouco tempo atrás, a Itambé embalava 20 milhões de litros da bebida, mas
direcionou investimentos e capacidade de processamento para a produção de
leite
ano passado produziu uma média mensal de apenas 3
milhões de litros de leite fluido. "Hoje já chegamos a 5 milhões de litros", informa Jacques Gontijo.
Segundo ele, a empresa ainda tem a capacidade instalada para produzir 20
milhões de litros por mês. "Os equipamentos da planta desativada em
Brasília serão transferidos para outra unidade", planeja. Atualmente
apenas a fábrica de Pará de Minas (MG) produz a versão fluida.
Fontes do mercado apontaram a Indústria de Alimentos Nilza, adquirida há
pouco mais de três anos pelo empresário Adhemar de Barros Neto, como alvo do
interesse da mineira Itambé pelo mercado paulista de lácteos. A hipótese foi
descartada pelos respectivos presidentes. A Nilza atrasou o pagamento aos
produtores de leite e fornecedores nas regiões de Campo Belo e Itamonte, Minas Gerais, e Ribeirão Preto (SP). A empresa
parou a produção na unidade de Campo Belo e demitiu 140 empregados, alegando
falta de crédito, situação que já estaria regularizada com cerca
de 78% dos fornecedores. A expectativa da Nilza é que os pagamentos
sejam quitados ainda este mês.
A
liquidez do longa vida
O interesse despertado pelo mercado interno de leite fluido é diretamente
proporcional à redução de preços e do fluxo do leite em pó no mercado
internacional. Desde que a União Europeia lançou
mão de subsídios à exportação de lácteos, no início deste ano, a Itambé
deixou de exportar mil toneladas de leite em pó por mês. A derrocada das
cotações internacionais levou a Nestlé a investir R$ 100 milhões no mercado
de leite longa vida premium,
no mercado a partir do próximo mês.
"A Nestlé entra no topo do mercado puxando esse segmento e isso é bom
para todo o setor", avalia o consultor Marcelo Pereira de Carvalho, da Milkpoint. Segundo ele, essa "realocação de
portfólio" foi determinada com base na movimentação desempenhada pelo
mercado de lácteos. "A Itambé também está bem posicionada no segmento.
São empresas que já possuem uma instalação de qualidade e que será
reativada", argumenta Carvalho. No Sul, a Cooperativa Central Gaúcha Ltda (CCGL) e Cooperativa Aurora também ensaiam o retorno
ao longa vida.
Inundação
sem triangulação
A importação brasileira de leite que já ultrapassa 22 mil toneladas só nos
dois primeiros meses do ano motivou uma "investigação" por parte do
Ministério da Agricultura (Mapa). A predominância de 82% das compras da
Argentina só no mês de janeiro caracterizava, aparentemente, uma triangulação
com o leite europeu subsidiado, "hipótese descartada após uma análise da
quantidade e da origem da importação Argentina", afirma Eduardo Sampaio,
diretor do Departamento de promoção Internacional do Agronegócio do Mapa.
"Ainda assim essa quantidade importada é um contrassenso, diante de um mercado interno que gira em
torno de 35 mil toneladas e de todo o excedente exportável acumulado pela
indústria brasileira", avalia Jacques Gontijo. Para o presidente da
Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil (CNA), Rodrigo Alvim, os números de fevereiro ficaram
próximos à média de 2008. "A justificativa para janeiro
apresentada por agentes do mercado é a formação de estoque argentino
no final do ano passado e o baixo preço oferecido aos compradores do mercado
interno".
Fonte:
Portal Agrolink, acesso em 16/03/2009